Estar deprimido e depressão são bastante diferentes

No primeiro caso, qualquer indivíduo perante uma adversidade no seu percurso de vida (desemprego, perda de um ente-querido por morte ou separação, entre outros motivos) pode e deve deprimir porque é importante sentir a tristeza por ser necessária para consciencializar uma perda ou frustração e poder prosseguir não descurando o acompanhamento psicológico.

A depressão, é caracterizada fisiologicamente pela ineficiente produção de um neurotransmissor denominado por serotonina que se traduz na alteração de comportamentos e sentimentos altamente negativos e destrutivos na vida do indivíduo. A pessoa deprimida sente os estímulos externos como negativos, sente uma tristeza profunda, um vazio inexplicável, tem uma vontade incontrolável de chorar, perde a capacidade de tomar decisões na sua vida pessoal e profissional, deixa de sentir as relações interpessoais como prazerosas, deixa de gostar de si própria, prefere o isolamento e o silêncio ensurdecedor dos seus pensamentos negativos devido à impotência que sente em afastar a “nuvem negra” que a assombra o que também lhe gera grande ansiedade.

Tenta todos os dias melhorar, mas não consegue e dia após dia em constante frustração perante a sua falta de capacidade de ação no que diz respeito a qualquer área da sua vida, desespera gradualmente e em sentido ascendente…pode mesmo desejar a morte face ao sofrimento e desespero que sente, simplesmente porque se sente inútil, não encontra satisfação em nada!

 

A intervenção psicológica é imprescindível e urgente!

A participação da família e amigos próximos no processo psicoterapêutico é fundamental para a melhor compreensão do estado da pessoa com depressão e dos recursos principalmente afetivos disponíveis para a recuperação da mesma porque o ser humano é um ser de afetos e não sabe viver ser amor, adoece.

Amar a pessoa deprimida, nem sempre é fácil porque ela nem sempre consegue sentir o amor que lhe é demonstrado, nem consegue expressar o que sente, o que pode prejudicar seriamente uma relação amorosa quando o seu par não se informa sobre a doença. Implica dedicação, informação e partilha. Deixo aqui algumas dicas sobre o que dizer e o que nunca se deve dizer à pessoa deprimida:

 

O que deve evitar dizer:

 

  1. Deixa-te disso e olha para o que tens de bom na vida! Deixa-te de mariquices!

Talvez seja exatamente esse o desejo da pessoa com depressão mas ao pronunciar este tipo de sugestão em forma de crítica só fará com que se sinta ainda mais impotente para sair da situação em que se encontra, sente-se incompreendida.

 

  1. Há quem esteja muito pior!

As comparações não ajudam, só desvalorizam o que sente.

 

  1. Esquece o passado. A vida continua!

A depressão é um sofrimento incapacitante por vezes até para se levantar da cama. Esta afirmação menospreza totalmente o sofrimento da pessoa.

 

  1. Toda a gente tem problemas! Já não me amas, é isso?

Naturalmente que sim, contudo a pessoa deprimida não escolheu estar infeliz. A depressão foi algo que a invadiu inesperadamente. Mesmo tendo uma vida equilibrada em todas as áreas, a depressão instala-se, não se trata de gostar menos, trata da dificuldade em demonstrar o que sente.

 

  1. Sempre foste forte, porquê isso agora?

Além de uma caraterística da personalidade, a depressão é grave. Exatamente por ter sido forte anteriormente, viveu experiências que a perturbaram.

 

  1. Toma vitaminas! Faz um esforço! Tens de ter mais força de vontade.

A depressão é um estado emocional. Aqui impera a importância da família estar informada sobre a doença.

As críticas e julgamentos não ajudam, pelo contrário. Face ao sofrimento que a pessoa sente, aumenta o sentimento de inutilidade, incompreensão e culpa pelo que sente.

 

  1. Tens de aprender a viver com a depressão!

Sendo um estado emocional, a melhor postura é apoiar e procurar um tratamento eficaz.

 

O que deve dizer!

 

  1. Não estás só!

É importante para a pessoa com depressão sentir-se acompanhada e compreendida. Se quer ajudar, o primeiro passo será o de se informar sobre a doença. Envie sms durante o dia com palavras de apreço, de Amor! Faça elogios!

 

  1. Não tens culpa.

Culpa é um sentimento predominante na depressão e por isto, a pessoa deprimida sente culpa do seu estado. Ajudá-la a compreender que não tem culpa alguma, é crucial! Abrace, beije, dê muito carinho.

 

  1. Eu acompanho-te!

Sentir-se acompanhada, significa apoio. Devido ao sentimento de incapacidade, a pessoa sente que não é capaz de nada e ter alguém com quem se deslocar a consultas e outros locais é importante. A pessoa sente-se importante, sente-se amada, protegida e que tudo vale a pena.

 

  1. Convidar para passeios e rotinas em conjunto.

Além de muito romântico, se a rotina da pessoa deprimida se resume a estar deitada e fechada sobre si mesma, é importante quebrar essas rotinas e ajudá-la a manter-se ocupada com programas interessantes em que podem partilhar sorrisos, carinhos, conversas banais, mas sobretudo criar um ambiente de satisfação.

 

  1. Em que pensas?

Mostra que se preocupa com os pensamentos do(a) seu/sua parceiro (a). É também importante para manter o contato e abre a possibilidade de perceber se existe um pensamento suicida e poder discuti-lo por forma a atenuar a ideação.

 

Numa relação amorosa, a pessoa saudável pode ter dificuldade em compreender o desinteresse por parte da pessoa amada, mas este não se refere a si. O desinteresse da pessoa deprimida é geral, como se nada valesse a pena.

Amor e depressão podem coexistir na mesma pessoa. Somos seres de afectos, com a capacidade de dar e receber amor. A pessoa com depressão, não deixa de amar o seu par, só não consegue demonstrar. Contudo, sentir-se amada, pela não desistência da pessoa que ama, certamente lhe dará mais facilidade em subir os degraus do buraco escuro e frio para onde a depressão a levou.

 

Ame muito! Verbalize, demonstre com atitudes. Enquanto ama, procure um psicólogo para ter ajuda especializada.

 

 

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Marisa Pereira – Psicóloga WeCareOn