É frequente encontrarmos pessoas perfeccionistas nas nossas vidas, na vida académica, no trabalho e mesmo nas nossas famílias. Não é difícil identificar os sinais de perfeccionismo, contudo a origem de todo esse comportamento e motivação é essencialmente inconsciente.

Partindo da definição, o perfeccionismo segundo a psicologia: é um distúrbio neurótico no qual a pessoa sente constante insatisfação com seu desempenho e dúvidas sobre a qualidade de seu trabalho, levando o indivíduo a escrupulosidade, verificações de pormenores, obstinação, prudência e rigidez excessivas prejudicando a sua pontualidade e eficiência. Caso seja um traço de personalidade que cause prejuízo significativo a si mesmo e/ou aos outros passa a ser considerado como perturbação de personalidade obsessivo-compulsiva.

 

Existem algumas pistas que nos permitem identificar um perfeccionista:

 

  • Acreditam não terem “direito” a errar;
  • Medo da desaprovação e do erro;
  • Exigência excessiva consigo próprio;
  • Crença que deveria/poderia fazer melhor;

 

Geralmente os perfeccionistas possuem um locus de controlo “excessivamente” interno, já que ele se vê totalmente responsável pela sua produtividade, negligenciando factores externos que muitas vezes são de enorme relevância. Ele considera-se totalmente responsável pelos seus resultados, o que é bastante positivo, por outro lado, nenhum dos seus resultados é perfeito, ficando sempre à quem da expectativa. Por outras palavras, dificilmente os seus resultados o satisfazem e assume-se total responsável por essa insatisfação e por essa imperfeição de desempenho.

 

Uma outra característica bastante relevante e presente nos perfeccionistas, é a generalização. Um resultado menos bom ou uma vez que o desempenho fique abaixo do esperado, o perfeccionista tende a generalizar como se todos tivessem sido iguais. Neste sentido, os perfeccionistas, assumem o seu desempenho como o pilar, a base do seu ser. Acreditando na maioria das vezes que é a única coisa que importa ou que as pessoas à sua volta dão valor.

 

Os perfeccionistas possuem uma extrema angústia interna, pela luta eterna por serem melhores, mais competentes e consequentemente com mais valor. Mas esquecem-se que a perfeição é inatingível, sendo uma vida de luta constante, mas sem sentido. Estudos indicam correlação positiva entre o perfeccionismo e a ansiedade, insónia, depressão, perturbações do comportamento alimentar, entre outras.

 

 Albert Ellis, na sua lista de crenças irracionais, possui uma que caracteriza em muito os perfeccionistas: “A pessoa tem que ser absolutamente competente, inteligente e bem-sucedido em todos os aspetos da vida.”

 

Alguns autores distinguem perfeccionismo normal e perfeccionismo patológico ou maladaptativo. O que distingue o normal do patológico, são essencialmente o realismo dos objectivos propostos, o limite do esforço e o prazer que retiram desse mesmo esforço disponibilizado. Resumindo, os perfeccionistas normais estabelecem padrões e objectivos muito elevados, mas possuem consciência do nível esses padrões/ objectivos, bem como dos seus limites. O perfeccionismo maladaptativo estabelece padrões/objectivos excessivamente elevados, tendo pouca consciência do nível desses padrões/objectivos e mesmo dos seus limites.

 

Qual a origem do perfecionismo?

 

Muito se pode teorizar sobre a origem do perfeccionismo, opiniões dividem-se. Contudo a grande maioria parece apontar no sentido da educação/vinculação, com ênfase especial na relação pais-filho e nas respectivas interacções.

Para quem não sabe, a vinculação é um tipo de “educação precoce”. Bowlby definiu vinculação como a propensão para o ser humano estabelecer fortes ligações afectivas com outros significativos. Assim sendo, a vinculação é o primeiro passo da educação, esta pode ser vista como um “veículo” para a criança explorar o mundo. Logo, antecede à exploração do mundo, e essa mesma exploração está dependente da vinculação. O perfeccionismo está associado a uma “vinculação problemática”.

Uma vinculação segura surge quando os pais são emocionalmente equilibrados e acessíveis, carinhosos com os seus filhos. Favorecendo a sensação de conforto e previsibilidade, encorajando a exploração do meio e de “novos desafios”. Pelo contrário, uma vinculação insegura/problemática resulta de relações pais-criança imprevisíveis, instáveis e inconstantes. Originando crianças com dificuldades em gerir novas situações, bem como dificuldade em explorar o mundo/realidade em todas as suas dimensões. Desenvolvendo distorções cognitivas que reforçam por sua vez a vinculação insegura.

 

Resumindo, o perfeccionismo resulta: da falta de amor incondicional; da falta do sentimento de liberdade; da falta de valor pessoal. Por detrás, do perfeccionista está a crença que só se fizer tudo perfeito será amado e valorizado pelos outros. Por detrás de um perfeccionista, estão ligações parentais castradoras, em que o comportamento era confundido com a própria criança, “um menino bonito não comete erros destes”, “serás sempre uma vergonha para a família por estas notas”. Por detrás de um perfeccionista, está a tentativa de ser valorizado e aceite pelo outro. Esse “outro” que inicialmente o pai e/ou a mãe, mais tarde é inconscientemente generalizado, para “qualquer outro”. Nesta linha de pensamento, podemos então considerar que o comportamento do perfeccionista deriva da busca pelo amor dos pais.

 

É importante ainda referir que muitas vezes essa vinculação e/ou educação “disfuncional” pode provocar o resultado completamento oposto, o completo desleixo de tudo. Além de que, é necessário compreender que nada é determinístico, logo, nem todos os que têm uma vinculação/educação disfuncional irão ser necessariamente perfeccionistas, porém os perfeccionistas muito provavelmente tiveram uma vinculação/educação disfuncional.

 

Além de que como anteriormente foi dito, o perfeccionismo não é necessariamente mau ou disfuncional.

Muitas personalidades de “topo” só chegaram e permaneceram no topo pelo seu perfeccionismo.

 

E você, é perfeccionista? Permite-se errar?

 

Luís Coxo – Psicólogo @ WeCareOn e Jorge Eloi