No seguimento da última publicação sobre as emoções, em que falamos sobre a tristeza, iremos falar da raiva tal como falamos da tristeza, tanto do ponto de vista teórico como do ponto de vista prático.
A face é o reflexo de todo o funcionamento cerebral. Fisiologicamente, as emoções estão conectadas a regiões especificas do cérebro, que em conjuntos formam o sistema límbico. Existe uma correlação direta entre as emoções e as expressões faciais, isto porque ambas são controladas pelo sistema nervoso central, especialmente pelo Sistema Nervoso Autónomo.
É importante diferenciar entre emoção e sentimento, a emoção vem de uma resposta a um estímulo, interno ou externo, que acontece naquele momento. A emoção apresenta curta duração e necessita de estímulo. Ao contrário que o sentimento apresenta longa duração e não apresenta fonte estimulante.
A emoção é uma força ordenadora para ações, discursos e pensamentos que nos fazem atuar em frações de segundos. As emoções tornam o individuo preparado para enfrentar eventos importantes, surgiram através do processo evolutivo para nos ajudar a perceber o que se passa dentro de nós. A emoção é uma das experiências mais marcantes para o ser humano. Existe uma complexidade enorme para que a emoção se revele na face, desde complexos componentes cognitivos, fisiológicos e subjetivos. Nela inclui a vivência consciente, subconsciente, respostas internas e explicitas para energia motivadora para a ação.
A raiva é uma emoção básica poderosa, esta surge como resposta em momentos de frustração, dor, deceção ou ameaça e caracteriza-se pela sua reatividade e intensidade no individuo. A função desta emoção é a de detetar e preparar o individuo para uma situação de perigo, reforçando assim o seu papel de sobrevivência. A raiva é uma força motivadora para o confronto com problemas, ajuda a sua resolução e também alimenta a sensação de poder. Os transtornos psicossociais associados à raiva são: afastamento social, doenças cardíacas, etc.
Existem dois diferentes tipos de raiva sendo as suas diferenças fisiológicas associadas ao momento real de tristeza ou na sua ausência. O ser humano expressa a raiva reativa numa situação real ameaçadora, ou seja, como resposta a um acontecimento. O ser humano também é capaz de expressar a raiva sem uma situação associada ao decidir manifestá-la, mesmo que o momento desencadeante não tenha sido vivido, mas sim através da sua imaginação.
Perante certos estímulos e situações ameaçadoras, a raiva serve como força motivadora e caracteriza-se pela ativação de um estado emocional ofensivo e defensivo. Esta emoção apresenta algumas características associadas à sua natureza, a raiva demarca-se pelo perigo, frustração, ansiedade, apreensão, nervosismo, pavor e preocupação.
A raiva é uma emoção reativa, sendo que a frustração é uma consequência comum desta emoção, o que serve como força motivadora do conflito. A forma como o ser humano exprime a raiva é bastante diversificada, esta pode ser expressa através do choro, inquietação, pensamentos ruminantes ou desespero. A raiva e a frustração são facilmente confundidas pelo senso comum, aquilo que as distingue está relacionado com o estímulo e o tempo de duração. A resposta emocional da frustração é mais duradoura, recalcada e não é tanto relacionada com o estímulo desencadeante como acontece com a raiva. Já esta última encontra-se associada ao perigo, que tanto se pode demarcar pela brevidade emocional como pode ser sentida durante um longo período de tempo, e até ser motivada pela própria frustração.
De acordo com a descrição anterior, a raiva é exibida e sentida em situações de perigo, mais especificamente perante uma ameaça, tanto interna como externa. Esta emoção marca que o limite de resistência está para ser rompido ou já se encontra quebrado. A raiva apresenta-se como estratégia de retaliação ou de fuga perante o perigo, tanto impõe limites como é uma atitude reativa. Esta emoção desencadeia uma série de reações no corpo facilmente visíveis, como tal o aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, adrenalina e noradrenalina.
O objetivo principal da raiva é o de alertar outras pessoas da sua presença no indivíduo e para o exercício de influência social, isto acontece através da emissão de sons, olhar fixo e exibição dos dentes. Os mecanismos de autocontrolo e de insight são dominados por esta emoção e a sua intensidade é definida pela brevidade do estímulo desencadeante, ou seja, se é imediato ou se está pendente. Com o surgimento desta emoção, ocorre a ativação do sistema nervoso autónomo e um conjunto de respostas neurofisiológicas, com a ativação da segregação de adrenalina, alteração do ritmo cardíaco e alterações metabólicas, mais especificamente o aumento da insulina.
Dicas práticas para lidar com a raiva:
Quando a raiva se torna uma constante na nossa vida, pode causar problemas como stress, insónia, ansiedade, diminuição dos níveis de felicidade, redução da sociabilidade e até problemas do foro físico como cardíacos, digestivos, hormonais e respiratórios. Assim, no que diz respeito à raiva, e não obstante as restantes emoções, é importante externalizá-la.
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Autoconhecimento
Este é talvez o ponto mais importante. A reflexão sobre os momentos em que a raiva toma conta de si, perceber se está relacionado com algo em particular, qual a sua causa. Talvez um assunto como futebol, religião, trabalho? Ou relacionado com determinada pessoa ou situação? A melhor forma de aprofundar as nossas emoções é através do questionamento das nossas atitudes. Nem sempre este exercício é simples ao início, mas com uma prática diária, torna-se mais simples a cada dia que passa, e pouco a pouco as respostas vão surgindo.
Esta pode ser uma boa altura para procurar alguém para o ajudar nesta jornada de autoconhecimento. Todos nós carregamos uma bagagem do passado, e procurar a origem da raiva é importante para que possa lidar melhor com as situações futuras, e um bom psicólogo pode ajudá-lo a olhar para si e a descobrir os seus gatilhos e como utilizar as emoções a seu favor😊
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Reconheça a raiva e entender a forma de expressão da mesma
Inicialmente é importante existir um reconhecimento da existência da raiva. Sem este reconhecimento torna-se impossível perceber os gatilhos e a sua forma de expressão. Para além de ser importante descobrir os gatilhos para que a raiva se expresse, também é importante existir uma reflexão sobre como a exteriorizamos. Fá-lo através de gritos? Palavras mais agressivas? Como é que pode alterar essa forma de expressão? O autoconhecimento é a melhor forma de conseguir perceber o que causa a raiva e de que forma se expressa.
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Não negue a emoção
Quando somos capazes de reconhecer que estamos com raiva, lidamos melhor com o sentimento e a possibilidade de recorrermos à agressividade é menor, visto que lidamos de forma mais eficaz com as emoções negativas e utilizamos estratégias mais adaptativas para enfrentar a raiva.
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Escreva sobre o problema/ aguarde para falar:
Escrever permite um abrandamento do sentimento negativo e ajuda a visualizar qual é a melhor forma de lidar com o mesmo. Quando reagimos de imediato, a nossa atitude é baseada na emoção, enquanto que se reservarmos algum tempo para escrever sobre o que sentimos, a probabilidade e agirmos duma forma mais pensada e menos agida, é maior. Mesmo que não queira escrever sobre o assunto, tente perceber a intensidade da sua raiva antes de começar a agir sobre ela. É melhor parar, esperar algum tempo e, quando achar que a sua raiva se dissipou um pouco, terá uma melhor perceção da situação e conseguirá expressar-se de forma menos agressiva.
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Pratique a compaixão:
Há estudos que comprovam que fazer algo bom a quem a nossa raiva é dirigida ajuda a dissipar esse sentimento de raiva. Ainda que isto à primeira vista pareça incompatível, os estudos demonstram que responder de forma solidária quando alguém nos trata de forma rude é uma boa forma de resolver uma situação de tensão.
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Faça exercício:
O exercício pode ser uma boa forma de lidar com os sentimentos negativos. Ao praticarmos exercício libertamos substâncias químicas no cérebro, como é o caso da serotonina, que nos ajudam a acalmar e a gerir as nossas emoções, através de sensações de felicidade e bom humor.
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Empatize:
Procure entender a razão para que o outro esteja a agir daquela forma. Procure colocar-se no lugar do outro. Não precisa de concordar nem de discordar, o mais importante é tentar compreender, uma vez que a compreensão diminui a sensação de raiva.
O que pode fazer no dia-a-dia, quando subitamente sentir que a raiva tomou conta de si?
Respirar fundo: as técnicas de relaxamento focam-se na respiração devido à sua capacidade tranquilizadora. O processo de inspirar- aguentar a respiração por uns segundos- e expirar, acalma o corpo e a mente. O cérebro recebe a indicação de que não há perigo, e os músculos relaxam. Assim, quando sentir que a raiva se está a tornar intensa, respire fundo repetidamente e, se necessário, feche os olhos por uns segundos.
Afaste-se: dirija-se para um local silencioso onde seja possível estar apenas com os seus pensamentos e deixe a raiva sair do seu corpo. Se isto não for fisicamente possível, tente focar os seus pensamentos noutro cenário.
Não se entregue: lembre-se que pode escolher não se deixar levar pelo momento e que pode escolher focar a sua energia e a sua atenção em algo mais produtivo e mais possibilitador.
Contar: Quando estiver zangado, conte até 10 antes de falar. Se estiver muito irritado, vá até o 100″- Thomas Jefferson. Ao fazer esta contagem de forma vagarosa, a sua pressão cardíaca consegue voltar ao normal, diminuindo a excitação provocada pela irritação.
Procure uma distração: desenhar, cozinhar, dar uma caminhada, fazer sudokus ou outras atividades que exercitem o cérebro são uma boa forma de desviar a sua atenção do que lhe está a provocar raiva. Pesquisas indicam que antes de tentarmos resolver um problema devemos avaliar a intensidade da nossa raiva. Se, numa escala de 0 a 10, os nossos níveis estiverem entre 5 e 10, o melhor é tentar desfocar a sua atenção antes de tomar tentar resolver o que o está a incomodar.
Pode ver também este vídeo da Possibility Manager e fundadora da WeCareOn Paula Ribeiro sobre práticas para sentir a Raiva de uma forma Consciente e usar o poder que a raiva tem para criar limites, dizer o que sente, etc: Raiva Consciente.
Se sente que já tentou de tudo e ainda assim não consegue gerir a sua raiva ou acredita que há algo por trás da sua raiva, a terapia pode auxiliar na procura por um mecanismo de gestão indicado para si e na re-significação de questões do passado que podem estar ligadas à manifestação do comportamento.
“A raiva tem que ser sua, e não você dela”
Se quiseres aprender mais sobre o tema visita:
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