Hoje em dia, fala-se muito no conceito de procrastinação. É indicador de falta de produtividade, dificuldade em terminar tarefas, às vezes até associado a alguma passividade perante as coisas. Porém, este fenómeno é também algo que decorre de processos de autossabotagem. Já tinha ouvido falar?
O que é a autossabotagem?
Podemos dizer, em traços largos que, a autossabotagem é um conjunto de pensamentos e ações involuntárias, por norma destrutivas ou punitivas, que praticamos contra nós mesmos.
Ela está enraizada no sistema de que crenças do individuo e manifesta-se por via de sentimentos de que, o individuo não merece ser feliz, que não merece o que já tem ou algo que poderá vir a ter, de que não consegue alcançar, atingir, concretizar.
Já a procrastinação, tem geralmente expressão nas escolhas conscientes em relação a adiar ou evitar algo.
Procrastinar é adiar aquilo sabemos que é preciso fazer, mas não o fazemos no momento. Isto pode não representar consequências de maior, ou por outro lado, acabar causando maiores danos do que que se tivéssemos resolvido de imediato.
O processo de procrastinação, por autossabotagem causa imensos danos no nosso mundo interno, podendo até ser um dos fatores que nos leve a desenvolver alguns quadros clínicos.
Alguns desses danos são:
1. Grandes cargas de stress por deixar tudo para a última da hora;
2. Perda de noção de controlo da nossa vida;
3. Sensações de angústia, são recorrentes (porque o facto de não resolvermos algo, não
impede que o pensamento de “temos que resolver” apareça na nossa tela mental);
4. Sentimentos de culpa e tristeza por sentirmos que não fomos capazes de fazer algo;
5. Influencia a nossa autoestima, o nosso autoconceito e reforça as crenças de
autossabotagem (eu sabia que não ia ser capaz; eu não consigo; a minha vida nunca é fácil;
não tenho sorte nenhuma, entre outras).
6. Numa medida mais concreta também se pode traduzir em riscos de atrasar pagamentos e
depois pagá-los com multa, impedir uma boa performance profissional, dificuldades
relacionais, entre outros.
Mas não se assuste, esta tendência pode ser melhorada e afinada e para isso, deixo aqui 5 dicas de como pode começar a tomar ação sobre este padrão de resposta.
1º Definir a causa da procrastinação
Para agir sobre algo é preciso que consigamos reconhecer a sua raiz, só assim vamos saber que a nossa ação é uma reação decorrente de um mecanismo específico nosso e não com a tarefa em si.
Identifique se o que impede de agir são:
Pensamentos sabotadores
Estes, são responsáveis por manterem-nos na nossa zona de conforto. São aqueles que se seguem sempre de uma justificação ou de “permissão” para fazer algo.
Ex.: “Devia fazer exercício físico, mas ando sempre tão sem tempo”; “Devia poupar este mês, mas tenho tido tempos difíceis, vou comprar x, eu mereço”.
Pensamentos limitativos
São os pensamentos que criámos, que carregamos connosco ao longo da vida e que assumimos como verdades absolutas.
EX: “Eu sempre fui assim, não adianta, não vou mudar”; “Psicologia é para pessoas com problemas graves, eu vou resolver sozinha/o.”
Dúvidas
Enquanto se instalam, fazem com que nos confrontemos com o conceito que temos sobre nós mesmos: se realmente vale a pena o esforço, se vamos conseguir fazer, se vamos ser capazes de mudar ou mesmo de manter essa mudança na vida.
Medos
O medo do desconhecido é também um dos fatores que potenciam a procrastinação e a autossabotagem – o medo de errar, de decepcionar, de frustrar expectativas (se eu não tentar, não conta como mais um não, fui eu que não tentei).
Resistências
A resistência à mudança é comum a quase todos nós e tem raízes na crença de que a mudança não é necessária, ou seja, “já estou habituada, com isto já estou acostumada/o a lidar”. O ser humano é bastante adaptável, o que quer dizer que nós nos adaptamos até a coisas que não fazem tão bem, ou que nos causam sofrimento.
2º Adopte uma estratégia.
Agora que sabemos o que pode estar na base da nossa procrastinação, podemos minimizá-la, encontre uma estratégia que permita, por etapas, estabelecer um plano de acção.
Por ex: Conte de 5 para 1
Se está na hora de ir para o ginásio e sente que está a protelar, comece a contar:
5) Pense no ginásio;
4) olhe à sua volta;
3) respire;
2) levante-se;
1) Sem pensar muito, invista na ação de ir.
3º Faça uma lista de tudo o que precisa resolver.
Uma das coisas que cria mais ansiedade e angústia é ter constantemente pensamentos intrusivos de todas as coisas que não fizemos, misturadas com os medos de fazer e com a sensação de impotência perante tudo – Aflitivo, certo? – Pois bem, vamos coloca-los todos cá fora para que eles percam dimensão emocional e passem a ser, apenas e só, tarefas por resolver.
4º Divida as tarefas grandes em pequenas tarefas
Com recurso a essa lista, comece por escolher as tarefas mais simples para ganhar confiança e motivação para as outras. Quando chegar às grandes, fracione as tarefas.
Por ex.: Quer terminar a tese? Escreva uma secção por dia, ou 2 – 3 parágrafos dos temas mais pesados. Parece pouco, mas assim vai implementando a tarefa nos seus hábitos e quase sem perceber, terá feito mais do que antes.
5º Celebre as pequenas conquistas
É importante validar o esforço que teve e celebrar as pequenas conquistas, por isso, se cumprir o prazo do projeto, permita-se recompensar-se com um dia de folga ou outra coisa significativa que lhe agrade.
Espero que com esta leitura, facilite a forma como olha para os padrões de autossabotagem e que encontre a visão de que procrastinação não é preguiça, não é desleixo, não é irresponsabilidade, faz parte de um mecanismo muito mais complexo, que no fundo nasce do sofrimento e de conflitos internos de cada um de nós.
E sabe? Os profissionais de saúde estão aqui para si, para o/a acompanhar e ajudar.
Procure orientação. Não tem de passar por isto sozinho/a.