A arte do bonsai é originária do Japão e consiste em miniaturizar árvores e arbustos através de técnicas e metodologias específicas para garantir a preservação das características normais de proporção e morfologia das plantas trabalhadas. O cultivo das bonsai é uma forma de arte mas também uma filosofia de vida com implicações positivas na prevenção, reabilitação e tratamento de problemas de declínio cognitivo (deficiência mental, demências, ansiedade, depressão e stress quotidiano).

 

A utilização da hortofloricultura enquanto actividade ocupacional potencialmente relaxante é um conhecimento empírico ao qual acedemos desde há muito tempo. Muitos de nós tiveram o privilégio de ter uma infância em meio rural e outros têm, com certeza, recordações dos seus avós a tratarem de hortas e jardins com sentimentos de realização e tranquilidade. Conhecem-se ainda múltiplas instituições de cuidado a idosos/casas de repouso onde se implementam múltiplas actividades de jardinagem. Até a pedagogia baseada no método de waldorf, tão em voga na actualidade, defende o beneficio da proximidade, contacto e cuidado com os espaços verdes/naturais com base da educação das crianças do século XXI. Estas práticas pressupõem o efeito salutar da Hortofloricultura no equilíbrio emocional das pessoas, independentemente da sua condição ou faixa etária.

 

Estas observações foram recentemente reafirmadas graças aos resultados de várias investigações científicas e tentaremos resumir dois estudos que nos pareceram especialmente pertinentes:

 

Em itália, em 2013, Massimo Bandera orientou um projecto de actividade ocupacional numa instituição de doentes psiquiátricos em tratamento de depressão, mania, esquizofrenia (…) através da arte bonsai. No âmbito deste projecto, os doentes constituíram um grupo onde receberam formação, orientação e supervisão no cultivo de bonsais. Os investigadores verificaram que este grupo teve progressos em diversos domínios da sua reabilitação psicossocial.

 

Ao nível cognitivo (capacidades de ouvir, analisar, deduzir, memorizar, compreender, concentrarem-se, escutarem e dialogarem); físico (reabilitação de movimentos uni e bilaterais, coordenação olho-mão, equilíbrio postular); estimulação sensorial (pela estimulação visual na observação da planta, pelo toque da terra e da planta, pela escuta da história e cultura dos bonsai); comportamental (diminuição do isolamento, pela diminuição dos comportamentos estereotipados, pela estimulação dos sentimentos de cuidado, generosidade, responsabilidade, paciência, tolerância, respeito pelas leis da natureza, respeito por si próprio e pelas regras do grupo); emocional (pela criação de um grupo empático onde todos têm espaço para expressar as suas emoções).

 

Os resultados deste projecto reuniram evidências a favor dos benefícios da utilização da actividade ocupacional do cultivo das bonsai enquanto método de reabilitação para promover o sentimento de bem-estar através de uma metodologia holistica que promove a reabilitação cognitiva, psicológica, emocional e relacional das pessoas em estados de esgotamento emocional ou burnout.

 

As evidências científicas dos benefícios do contacto e proximidade física com as bonsai foram igualmente descritos no estudo de vários investigadores japoneses, coordenados por Ochiai em 2017. Estes investigadores procuram saber se a simples estimulação visual de doentes com lesão medular à contemplação de bonsai resultaria em benefícios a nível do relaxamento neurofisiológico e de sentimentos de bem-estar emocional. Para isso estudaram 24 doentes japoneses monitorizando os níveis de oxigénio no córtex pré-frontal, e analisando a actividade diferencial dos sistemas nervoso simpático e passimpático aquando da contemplação visual das bonsai pelos doentes. Os resultados desta investigação confirmaram que a simples estimulação visual dos doentes com as bonsai fazia diminuir a actividade do córtex pré-frontal esquerdo e limitava a actividade do sistema nervoso simpático (ambos relacionados com as respostas de stress) conduzindo a um estado de relaxamento fisiológico e psicológico nos doentes com lesão medular.

 

Reflectindo sobre estes trabalhos fica-nos a ideia do quanto podemos melhorar o nosso sentimento de bem-estar começando por algo tão simples como o cuidado e dedicação a essa pequena grande árvore que é o Bonsai. Para os interessados em atingir a excelência nessa arte aconselhamos a inscrição num dos vários clubes Bonsai existentes em Portugal (Porto, Cascais).

 

Como sempre, deixamos um pequeno desafio/atrevimento:

Quando desejar presentear alguém, ofereça-lhe um bonsai, coloque nele uma intenção, escreva-a se lhe parecer adequado e encoraje a pessoa a dedicar dez minutos de cada um dos seus dias ao cuidado das suas próprias emoções por intermédio da dedicação ao bonsai (a relação com ele carece de observação para compreender as reais necessidades da planta, um pouco de água, luz, ou apenas a simples contemplação da sua beleza). E o cuidado que for oferecido a essa árvore miniatura  terá um retorno seguro na gestão dos seus estados de stress e frutificará em beleza, harmonia e… seguramente: qualidade de vida.

 

Sandra Sendas – Psicóloga WeCareOn