Antes de se iniciar qualquer processo terapêutico é natural que as pessoas criem diversas expectativas e que surjam diversas questões, desde o tempo que irá demorar, até ao tipo de trabalho que pode ser desenvolvido. É natural que, antes da primeira consulta, se questionem acerca do que vai ser falado, chegando mesmo a criar possíveis diálogos e rotas a seguir. No entanto, quando as expectativas são muito elevadas corremos o risco de nos sentirmos frustrados ou até mesmo bloqueados, interrompendo a fluidez natural do discurso do cliente.

 

Na prática, as expectativas e os próprios conceitos de felicidade e bem-estar são relativos e variam muito de pessoa para pessoa. As expectativas variam consoante as experiências e vivências pessoais de cada um e do impacto que estas têm na história de vida da pessoa.

 

Será o processo terapêutico mágico?

 

Quando desejamos muito algo, como por exemplo “estar bem”, “ser feliz”, “deixar de sentir ansiedade”, corremos o risco de nos sentirmos desiludidos ou frustrados se a mudança não acontecer quase imediatamente.

É importante que as expectativas sejam esclarecidas numa primeira ou segunda consulta, sendo, por isso, muitas vezes questionado pelo terapeuta quais os objetivos da pessoa a curto, médio e longo prazo.

Por exemplo, numa primeira consulta é natural que nos questionemos  acerca da duração da terapia. É natural que queiramos uma solução rápida para o sofrimento que estamos a sentir. No entanto, há que ter em conta outros fatores como: à quanto tempo nos estamos a sentir assim? Semanas, meses, anos? Será que é possível resolver em apenas algumas sessões o que nos atormenta à tanto tempo? Deve sempre ter em conta este fator temporal.

Uma cliente disse-me uma vez “Gostava de já não me sentir assim amanhã, mas sei que a terapia não pode ser um penso rápido.”. E a verdade é esta: a terapia não funciona como um penso rápido e não é uma cura permanente. A terapia é uma ferramenta, um auxiliar. Porquê? Reflita neste exemplo: como é que se cura a ansiedade? É uma pergunta difícil esta, porque não lhe posso dar uma resposta científica. Nós precisamos de nos sentir ansiosos, mas também podemos desenvolver estratégias para lidar com essa ansiedade quando esta se torna “sufocante”. Portanto, a terapia não é uma cura, é uma ferramenta para a promoção do bem-estar.

É verdade que existem pessoas que fazem 2 ou 3 consultas para temas mais pontuais ou aconselhamento psicológico e que escolhem dar por terminado este processo, mas também é verdade que o processo pode durar 2, 3 anos ou mais. As grandes dificuldades não se resolvem com uma ou duas horas de terapia.

 

Será que é suficiente aparecer nas consultas?

 

É conflituoso, mas a resposta que eu tenho para si é simples: “não”. Tal como não podemos resolver as nossas dificuldades em apenas uma ou duas horas de terapia, também não é aquela hora semanal ou quinzenal que, por si só, vai dar origem ao processo de mudança.

O processo terapêutico e a mudança acontecem muito além das consultas. Experimente pensar nas consultas como se fossem uma ferramenta, uma estratégia. Só conseguirá criar novos hábitos, aceitar e resolver internamente os pensamentos negativos, aprender a controlar a ansiedade (um dos vários temas que traz pessoas às consultas), se efetivamente puser em prática o que retém das consultas. É essa prática constante que o vai guiar na mudança, o estar em estado de alerta interno permanente, o ser o polícia dos seus próprios pensamentos e ações. O processo é trabalhoso, mas com empenho e dedicação será capaz! Lembre-se: só você é que tem o poder de melhorar e de mudar a forma como olha para a sua própria vida. O Psicólogo pode, sim, ajudá-lo nesse processo, ajudando-o a compreender o seu contexto e a sua história de vida.

 

Será a autenticidade importante?

 

Claro! A terapia é um espaço seguro, neutro e livre de qualquer julgamento. Livre de julgamento por parte do terapeuta e por parte do cliente em relação a ele próprio.

Por outro lado, ser autêntico significa utilizar a linguagem a que está habituado. Já várias pessoas me pediram desculpa por dizerem asneiras, por vezes, nas consultas. Era o que estava a pensar naquela altura, foi o que a pessoa quis expressar no momento. Não há necessidade de pedir desculpa.

O diálogo que se desenrola entre o cliente e o terapeuta é fundamental. O Psicólogo trabalha em conjunto com a pessoa, o caminho que se percorre é mútuo, portanto o cliente deverá ser o seu mais autentico “eu”.

Portanto, o processo terapêutico e a evolução do cliente depende, em grande parte, do seu envolvimento nas consultas.

Uma colega partilhou comigo, recentemente, uma analogia que vou partilhar com todos os leitores: “Se encostar um livro ao seu nariz, não vai conseguir ler o que lá está escrito. À medida que vai afastando o livro do nariz, vai conseguindo ler cada vez melhor o que lá está. O mesmo acontece com os nossos problemas: quanto mais em cima estivermos dos nossos problemas, menos clareza temos. Em terapia trabalhamos com o objetivo de conseguir ver os problemas com uma maior clareza, ajustando aquilo que é a sua perspetiva à realidade”.

 

A idade do Psicólogo importa?

 

Depende. Sim, depende. Um Psicólogo jovem pode ser igualmente competente, no entanto, se não se sentir confortável e se a idade colocar um entrave ao conforto e ao à vontade que poderia estar a sentir, então sim, nesse caso a idade importa.

A nível de competências é irrelevante, mas se o cliente não estiver à vontade e se essa barreira não for ultrapassada, pode ser mais complicado: “É tão jovem, tenho medo que não tenha experiência suficiente”, “É tão jovem, provavelmente não me vai conseguir perceber porque ainda não passou por isso”, “É tão jovem, será que posso falar de tudo?”.

De facto, é difícil compreender o como e o porquê. No entanto,  o Psicólogo não precisa de ter a mesma experiência de vida que o cliente, nem precisa de ter passado pelas mesmas coisas para o ajudar ou para o fazer sentir-se seguro. Além disso, a sua experiência de ansiedade não é a mesma experiência de ansiedade do seu colega de escola ou de trabalho. Cada vivência é única. O Psicólogo é útil, porque o pode ajudar a compreender tudo isso, porque se foca na sua história, na sua experiência, em tudo o que é importante para si.

Quando o cliente se sente esclarecido, quando analisamos os “porquês” da idade do Psicólogo estar a ser um problema e quando ultrapassamos essas dificuldades através do diálogo, então a mudança é possível e a relação terapêutica consegue estabelecer-se com mais facilidade.

 

 

A terapia é um investimento em si! É poder ser ouvido sem estar a ser julgado, é um lugar onde se pode sentir compreendido, é para todos e depende, sobretudo, da sua vontade.

 

Como uma cliente uma vez me disse: “Não é a Dra. que me vai mudar, só eu posso fazê-lo, mas a Dra. ajudou-me a perceber isso e mostrou-me que com vontade e paciência eu sou capaz.”

 

 

 

 

Filipa CruzPsicóloga Clínica na WeCareOn