Atualmente é um tema muito em voga e que tem gerado diversas discussões. Mas, realmente, as pessoas sabem o que significa o termo “identidade de género”?

Com o desenvolvimento progressivo do conceito de género nas últimas décadas, torna-se necessário, nos dias de hoje, que todos e todas se atualizem sobre o assunto para que seja possível formarmos uma opinião válida e consistente sobre os temas que envolvem essa questão.

A desinformação leva-nos a praticar comportamentos preconceituosos e estigmatizadores e, consequentemente, ao sofrimento de muita gente.

 

O que é o género?

 

O conceito de género surgiu nos anos 70, com o avançar do pensamento feminista. Desenvolveu-se com o objetivo de distinguir a dimensão biológica da dimensão social. Simplificando, a espécie humana é composta por machos e fêmeas, sob a perspetiva biológica. Contudo, a maneira de se “ser homem” ou de “ser mulher” é determinada pelos aspetos culturais da sociedade em que está inserida. Neste sentido, o género é uma construção e um produto social e não apenas uma continuidade da anatomia dos corpos.

Para ser mais fácil perceber esta questão, basta refletir sobre o que significa ser mulher em Portugal e o que significa ser mulher na Arabia Saudita. Apesar de serem anatomicamente semelhantes, a perceção sobre o que é ser mulher poderá diferir substancialmente nas mais variadas culturas.

Uma das questões que está relacionada com o género é a expressão de género, que basicamente consiste numa padronização de comportamentos, roupas, gostos, etc que foi estipulada socialmente para cada um dos géneros (o azul para os rapazes e o rosa para as raparigas).

Em termos sociais, poderá residir um conflito quando uma pessoa pensa e age de uma forma distinta das normas atribuídas ao seu género naquela sociedade.

 

Identidade de género! Que tipos existem?

 

Se o género é a construção social que determina o que é “ser homem” ou “ser mulher” numa dada sociedade, a identidade de género é a identificação (ou não) com essas categorias.

Assim, é possível dizer que existem duas grandes categorias quando falamos de identidade de género: as pessoas cisgénero e as pessoas transgénero.

Por cisgénero compreende-se todas as pessoas que se identificam com o género que lhes foi atribuído no momento do nascimento. Em contrapartida, as pessoas transgénero são aquelas que não se identificam com o género que lhes foi atribuído no momento do nascimento.

Com o passar do tempo, transgénero tornou-se um termo guarda-chuva, já que além de incluir pessoas cuja identidade de gênero é o oposto do género atribuído, inclui também pessoas que se identificam como não binárias. Essas irão constituir toda a diversidade de identidades de género que não se identifica como homens, tão-pouco como mulheres, ao nível da construção social.

 

Identidade de género vs. Orientação sexual

 

Muitas vezes as pessoas confundem estes dois conceitos, mas é importante que entendam: são totalmente independentes entre si. Um homem trans pode sentir atração sexual e/ou romântica, tanto por outros homens, como por mulheres.

Muitas vezes as pessoas pensam que uma pessoa que nasceu com genitália masculina, mas que se identifica como mulher tem de ter atração sexual por homens, esse erro de pensamento, acontece porque temos uma tendência social para a normalização dos padrões da sociedade (heteronormatividade e cisnormatividade).

A orientação sexual é referente à minha atração externa, ou seja, por quem eu desenvolvo atração sexual e/ou romântica, por sua vez, a identidade de género, é um construto muito mais interno dos indivíduos e foca-se na identificação interna de cada um de nós na sociedade.

Assim, os conceitos associados à sexualidade, apesar de estarem associados entre si, são totalmente independentes.

 

Como a psicoterapia pode ajudar nos conflitos ao nível da identidade de género?

 

Atualmente, através da internet é possível encontrar muita informação sobre estas questões, entretanto, muitas vezes, torna-se muito difícil encontrar materiais confiáveis e que nos esclareçam, de facto, as nossas dúvidas e receios. Não raro, as pessoas acabam por ficar ainda mais confusas e ansiosas por não conseguirem compreender o conteúdo da informação encontrada e pela falta de identificação com aquilo que leem através de suas pesquisas digitais.

Quando falamos de processos de descoberta de identidade de género, falamos de circunstâncias muito difíceis, carregadas de muita dor e sofrimento. O preconceito e o estigma existente sobre estas questões fazem com que as pessoas não consigam desenvolver uma identidade positiva sobre si próprias.

Esse processo tende a ser mais difícil quanto mais velha for a pessoa, porque engloba alterações e explorações a diferentes níveis. Em todos esses casos, a psicoterapia tem como objetivo buscar o autoconhecimento, levando ao amenizar dos conflitos internos gerados pela dúvida e pelas pressões sociais subjacentes.

Muito importante lembrar é que as únicas intervenções validadas cientificamente para essas questões são as intervenções afirmativas do género, ou seja, intervenções que guiem a pessoa a explorar e a perceber a sua identidade de género e criar aqui uma harmonia com todo o sofrimento que a mesma passou, fazendo com que desenvolva uma identidade positiva sobre si mesma.

Procura ajuda se:

  • Te identificas com uma identidade de género não normatizada e estás a passar por um período menos positivo;
  • Sentes que necessitas de explorar essa questão com alguém;
  • Precisas de ajuda para desconstruir os preconceitos e conseguires aceitar-te como és;
  • Se tens um filho ou uma filha que está a passar por isso e estás com dificuldade em percebê-lo/a.

 

Precisas de ajuda nesse processo? Ou queres saber mais sobre este tema?

 

 

Luís Pinheiro –  Psicólogo Clínico, especialista reconhecido pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) em Orientação Sexual, Identidade e Expressão de Género e Características Sexuais