Vá lá, admitamo-lo: todos nós temos um mau hábito qualquer que gostaríamos de conseguir mudar! No entanto, já se questionou porque não o consegue mudar?

 

  • Hipótese a) Não questiono nada;
  • Hipótese b) Não sei / Não respondo;
  • Hipótese c) fazem parte de mim. Sim! É por aqui. 🙂

 

O que é um mau hábito?

Na sua essência, um mau hábito caracteriza-se por um comportamento que repetimos tantas vezes que acabamos por fazê-lo sem pensar. Mas então… e se o quisermos mesmo mudar? Voltando às hipóteses, há várias! 🙂 Mas se fosse fácil, provavelmente já teríamos alterado os maus hábitos que nos são prejudiciais. E a tarefa mais difícil ao começo é precisamente essa: o começo… a mudança de um padrão!

 

É possível mudar um mau hábito?

Uma pessoa para modificar um comportamento, melhorar uma habilidade ou para alterar ou até formar um novo hábito, necessita manter acesa a chama da motivação e persistir praticando por um período de tempo suficiente até que esteja consolidado e comece a aparecer espontaneamente, tanto no corpo como na mente.

 

E o mais ‘curioso’ é que tentamos sempre desculpar-nos com “isto comigo não funciona” ou “eu acho que deveria ser assim e assado…”.  E no entanto, muitas vezes, para além de nos termos impedido de chegar sequer a tentar, acabamos por não conseguir mudar rigorosamente o que quer que seja, sobretudo, em nós mesmos.

 

Como se deve calcular, actualmente (aliás, desde há uma enormidade de tempo), já muito se sabe acerca dos processos de aprendizagem humana, pois a mente (e o corpo) do ser humano é objecto de estudo desde a antiguidade. Isto significa que talvez (veja lá, talvez…) haja já uma boa dose de conhecimento profundo e pronto a ser aplicado em dificuldades que são as suas, ou que são as de muitos mais? Talvez (!!). 😉

 

E no fundo, mudar um comportamento é, de certa forma, modificar a própria personalidade. Algumas teorias de uso corrente em Psicologia dizem-nos que somos feitos dos nossos comportamentos e hábitos, e estes reforçam a forma como as nossas crenças e valores pessoais nos descrevem. A pessoa deve aceitar uma nova forma de pensar sobre si mesmo para conseguir mudar um hábito – isto é, modificar as suas crenças pessoais. E tal só se obtém quando se confere um forte significado para a mudança.

 

Como mudar um mau hábito?

No entanto, há hábitos que estão enraizados muito profundamente na personalidade, e outros que são um pouco mais superficiais. Um hábito como, por exemplo, comer em excesso, muitas vezes, poderá traduzir-se numa dependência química que serve para regular os baixos níveis de serotonina (o neurotransmissor do ‘bem-estar’) e outras vezes é apenas um hábito alimentar que sobreviveu aos tempos de infância.

 

Há que analisar quais são os hábitos que podem ser modificados sem ajuda e os que não.

 

Para isto, o que precisamos de saber?

 

Em primeiro lugar, é importante analisar-se o grau de compulsão do hábito destrutivo? Por outro lado, importante seria saber também qual seria o grau de satisfação (prazer) que adviria com a inclusão do novo hábito, construtivo, que se deseja implantar? Avaliando um e outro pesos da balança, podemos decidir-nos a modificar o hábito por si só ou optar por pedir ajuda a um psicólogo.

 

Admitamo-lo também: não há soluções instantâneas, sobretudo para padrões desde há muito instalados. Mas isso não significa que seja impossível mudar. Não. Pelo contrário (e felizmente sou disso testemunha diária)! Apenas significa que quem quer mudar terá de se comprometer com o próprio processo de mudança. E infelizmente, é aí que as coisas dão para o torto. Muita gente quer mudança sem mudar. E isto sim, é totalmente impossível.

 

Pensar, Sentir e Agir

Explicando melhor. Todo e qualquer comportamento é parte de uma tríade composta por Pensar, Sentir e Agir. A maior parte das pessoas só executa algo novo (Agir), quando define bem os pensamentos a respeito desta linha de acção (Pensar) até começar a perceber impulsos espontâneos de fazer algo a respeito (Sentir). E mudanças feitas sem comprometimento, como vimos, são ineficazes. Sejamos coerentes! E força, tenha coragem para modificar aquilo que pode!

 

Então, o que me fará ‘agir’ para mudar?

 

Resposta: as suas prioridades.

 

Nós agimos consoante as nossas prioridades. Somos fruto dos nossos pensamentos, e por isso desenvolvemos rotinas e hábitos que os reflectem. Por exemplo, podemos perguntar a uma pessoa o seguinte: “Não tem tempo para comer saudavelmente nem fazer exercício regular e moderado?”; ao que a pessoa responde: “Não”. E aí podíamos perguntar novamente: “Será o nível de vida e sustento uma das razões porque a sua vida se resume a horas infindáveis no escritório?” E aqui poderíamos perceber ou avaliar se este critério é tão válido quanto outros por exemplo. Quer mais exemplos? Por exemplo, como ter saúde e qualidade de vida; bem-estar e mais energia; etc…

 

No final de contas, que importância é que essas coisas realmente têm relativamente às suas prioridades?

 

Faça uma reflexão honesta sobre como cada um dos seguintes critérios influencia a sua realidade: a sua própria identificação pessoal “Eu sou”…? O estatuto…? O poder…? O reconhecimento pessoal…? As expectativas das outras pessoas…? O dinheiro…? O medo…?, O querer agradar…?  Etc.!

 

Não será o ter Saúde (não devendo esta ser encarada simplesmente como “a ausência de doença”) mais importante – para si e para os seus? Não será a sua disponibilidade e confiança pessoal o garante de uma boa relação consigo mesmo e com os outros – para dar e receber amor, amizade e apoio – também bastante importantes e fundamentais, antes de qualquer outra coisa? Cada um chegará às suas próprias conclusões (espero).  E este exemplo poderá servir para ver a discrepância entre a importância das suas prioridades e a correspondência das mesmas com a sua realidade!

 

Quando a discrepância é muita, é comum as pessoas viverem acima de tudo frustração, raiva, angústia, porque, voltando ao exemplo anterior, ao dar a maior parte da sua energia (não sendo isto necessariamente o número de horas) ao Trabalho, pouco ou nada sobra para si mesmo ou para os seus, e menos ainda para a sua saúde integral (que pressupõe equilíbrio dentro das várias áreas da nossa vida e dentro das várias áreas de nós mesmos!).

 

Para a consequente e positiva mudança de hábitos, o foco da sua atenção deverá estar nos processos, estando preparado (ou aprendendo a saber estar preparado) para o incómodo gerado pelo seu corpo ao inibir os maus hábitos. Por vezes é muito difícil propormo-nos à mudança sem preparação e conhecimento de como fazê-lo. Mas com força de vontade, acredite, todo o desejo torna-se realidade.

 

 

Sara Ferreira – Psicóloga, Psicoterapeuta, Membro efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses @WeCareOn