Já se sabe que estar em contacto com a natureza nos ajuda a aliviar o stress.

São cada vez mais os estudos que o confirmam e que relatam inclusivamente que índices como a pressão arterial e o cortisol melhoram consideravelmente depois de uma caminhada num bosque.

Pesquisadores da Universidade de Chiba, no Japão, reuniram 168 voluntários e colocaram metade para passear em florestas e o outro grupo a caminhar em centros urbanos. As pessoas que tiveram contato com a natureza mostraram em geral uma diminuição de 16% no cortisol, 4% na frequência cardíaca e 2% na pressão arterial.

 

Os “banhos de floresta” também conhecidos por shinrinyoku, tão populares no Japão, têm sido disseminados e a psicologia também não ficou indiferente, conhecendo-se hoje a ecopsicologia, uma corrente que assenta precisamente nesta ideia de que para o processo terapêutico seja eficaz, a natureza deve fazer parte do mesmo, enquanto aliada. E então, cada vez mais surgem iniciativas de psicoterapia em locais rodeados por natureza e as próprias “forest school” para crianças, têm aumentado pois os próprios pais começam a entender a necessidade deste contacto saudável com a natureza para a saúde dos filhos. 

E todas estas informações vão aparecendo com uma certa recorrência e os estudos vão sendo cada vez mais conclusivos. No entanto este crescimento não tem sido acompanhado pelo nosso estilo de vida enquanto seres humanos.

Continuamos a passar cada vez mais tempo em locais fechados do que em locais ao ar livre, as crianças e os próprios pais estão cada vez mais entretidos com o mundo digital, o cimento, a rigidez das linhas simétricas, as cores e luzes intensas mesmo durante a noite, vão contribuindo para esta alienação que separa o ser humano da natureza.

 

São cada vez mais as crianças que não entendem que o oxigênio vem das árvores e das plantas e compreende-se, pois assiste-se a um desaparecimento das zonas verdes, inclusivamente nas próprias escolas que têm cada vez mais um aspeto de contentores quadrados ou retangulares e sem espaços verdes.

Assim,  ideia de que não precisamos assim tanto de natureza vai-se disseminando indiretamente, aparecendo como sendo algo separado da própria natureza humana, um luxo e não uma necessidade básica. No entanto, para vivermos necessitamos de plantas de árvores e claro de tantos outros animais e também estes necessitam da natureza. 

Posto isto, sim, o contacto com a natureza melhora a saúde mental, claro.

Olharmos as cores da natureza, uma paisagem natural, caminharmos num bosque, cultivarmos os próprios alimentos e o simples ato contemplativo ajuda na aquisição e manutenção de muitas das virtudes humanas, como a resiliência, a coragem, a disciplina, a paciência, a organização, entre outras, pois tudo na natureza é resiliente, corajoso e tudo tem o próprio ritmo.

 

Por mais que a mente humana se foque no resultado, na natureza aprende-se que na Primavera nascem determinadas flores que no Inverno não nascem e o sol e a lua não estão visíveis o dia todo, portanto, tudo existe de forma organizada, tal como o crescimento de um caracol que organizadamente aumenta a sua espiral na concha calcária. 

Então, melhor exemplo que a Natureza, é difícil de encontrar e tanto a educação, quanto a clínica colheriam benefícios ao apostar neste contacto saudável, que permite ao ser humano, que tem sede de um propósito maior, encontrar o que é comum a todos, que é o facto de todos precisarmos de natureza e, portanto, da necessidade de a preservar. 

 

Sabe-se que para unir um grupo, são necessários objetivos comuns.

Se o foco do ser humano estiver neste objetivo comum, os relacionamentos interpessoais e o sofrimento psíquico, ganham uma nova dimensão, podendo mesmo este sofrimento, ser aliviado. 

Deste modo, o fenómeno do egocentrismo, individualismo e a visão antropocentrica que se encontra na sua raiz, e que assume um papel essencial na preservação de uma sensação de desconexão com o outro e com o envolvente, vai-se transformando em ecocentrismo, uma atitude mais centrada na natureza, da qual o ser humano faz parte e, portanto, encontra a necessidade do estabelecimento de um harmonioso equilíbrio com a mesma. 

 

E, por último, não nos podemos esquecer que graças ao contacto com a natureza, os nossos sentidos despertam. Os olhos são invadidos por inúmeros estímulos visuais, os ouvidos pelo canto dos pássaros e o bater das folhas nas árvores que se inclinam com o vento, o nariz que percepciona aromas diferentes que permitem identificar plantas distintas e as mãos que tocam diferentes texturas que o tronco de uma árvore permite, tudo isto, aumenta a sensação de se estar presente.

 E este estar presente é tão importante para que se façam escolhas inteligentes, para que se cultivem relacionamentos saudáveis e claro, para que a tão falada falta de atenção deixe de ser um dos problemas da atualidade. Uma pesquisa publicada “Journal of the American Medical Association” mostrou que crianças que convivem em espaços mais verdes têm menos chances de desenvolver o distúrbio de deficit de atenção e hiperactividade. Segundo dados do estudo, passar um tempo em contato com a natureza estimula o cérebro positivamente. 

Assim sendo, para melhorar a saúde psíquica e claro, a saúde geral, o contacto com a natureza não só é benéfico como essencial, assim como a sua preservação para que esteja sempre ao alcance de todos, este contacto saudável.

O mesmo é confirmado por Harvard Edward O. Wilson, professor de Harvard que desenvolveu a biofilia, teoria que sugere que todos os seres humanos têm atração inata pela natureza e que precisamos de experiências na natureza para nossa saúde mental e física e também pesquisadores do Centro Médico Universitário de Amsterdão que constataram que pessoas que vivem próximas da natureza reduzem em 21% as chances de desenvolverem depressão.

 

Sara Miguel

Psicóloga Clínica, Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses