Enquanto profissional, existe uma frase inspiradora que é decisiva na minha intervenção, e é ela: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” (Carl Jung). Neste sentido, no artigo iremos explorar o que são os padrões negativos repetitivos.

 

O sentido desta frase pode ser aplicado a inúmeros sectores da minha e da sua vida.

 

Acredito que esta frase poderá ser aplicável a muitas profissões, em especial, as profissões de apoio, de cuidadores, e enquanto psicóloga que baseia o seu trabalho numa relação de ajuda, tenho que ter consciência que, além de todas as técnicas e conhecimentos que possa ter, além de toda a responsabilidade e cumprimento de protocolos, além de todo o profissionalismo e senso de dever, “naquele momento” sou “apenas” uma alma humana que toca outra alma humana. E isso tem que ser maior que qualquer regra, disciplina, teoria, intenção ou sabedoria.

 

Naquele momento, alguém cuida de alguém, mas acima de tudo tem que prevalecer a igualdade e a empatia. A compreensão e a sintonia. A humildade e muita humanidade.

 

No entanto… estamos tão envolvidos em relações que não nos servem, que nos retiram energia, que nos alimentam a mágoa, a raiva, que nos alimentam a culpa, relações que alimentam o nosso medo de insuficiência e de incapacidade, etc.. Então continuamos, porque achamos que não temos outra hipótese, porque o nosso medo de perder ou de ficar sozinhos por vezes é tão gritante que não conseguimos ver outro caminho.

 

São padrões que vivemos diariamente, que nos fazem experienciar o mesmo tipo de sentimentos e de comportamentos vezes sem conta, que produzem os mesmos resultados.

 

Enquanto nos focamos apenas no que está acontecer, nos resultados, nas pessoas, na dor, não conseguimos sair desses padrões negativos repetitivos. Porque a constante do sentimento, do comportamento, da relação, não é o problema. Essas repetições são apenas consequências do que estamos a sentir, a pensar ou a fazer diariamente, que atuam de uma forma tão inconsciente que não nos apercebemos.

 

 Dessa forma, proponho-lhe o seguinte. Sempre que se deparar com algo que se repete constantemente na sua vida , uma relação que o(a) magoa, um determinado tipo de pessoa, um determinado tipo de comportamento ou forma de sentir (padrões negativos repetitivos), coloque-se estas questões:

O que estou a:

  1. Sentir para originar isto?
  2. Pensar para originar isto?
  3. Fazer para originar isto?

 

Quando começar a colocar estas questões, começa a sair do problema e começa a encontrar o verdadeiro bloqueio interno.

 

Percebo muito bem quando as pessoas com quem trabalho me dizem o quanto é desconfortável, por vezes, olhar profundamente para dentro. Entendo bem o medo da dor, entendo bem o medo da tristeza, entendo bem o medo de descobrir coisas que não controlamos. Entendo bem o medo da mudança, o medo do ter que assumir a responsabilidade própria.

 

Por isso há um momento em que você pode escolher olhar de frente, e encarar as feridas emocionais que estão presentes. E para isso, hoje deixo-lhe aqui algumas “regras de ouro”, que o poderão ajudar no seu dia-a-dia:

 

  • “Quando procuro no outro a segurança, a paz e o amor estou a dar a essa pessoa o meu poder. Se continuo a procurar no exterior nunca vou sentir que é suficiente no meu interior”;

 

  • “A única coisa que eu controlo na vida é o meu estado emocional, isto é a resposta emocional que eu dou a cada evento”;

 

  •  “A leveza e a fluidez que eu espero da vida têm que estar em primeiro lugar representadas, sentidas e vividas dentro da minha cabeça e no meu coração”;

 

  • “A abundância de amor e de relações saudáveis é um estado natural, que eu como cada um de nós merece”;

 

  • “Cada olhar de frente para as minhas feridas emocionais é uma oportunidade para estar mais próximo da minha essência e aceitar cada parte minha”;

 

  •  permite-me sentir e ouvir aquilo que o meu coração grita para eu ganhar consciência “O silêncio”.

 

O que aconteceria se, ao invés de gastar toda a sua energia a brigar com o momento presente, você utilizasse este mesmo potencial energético para fazer do que quer que seja que esteja a acontecer no aqui agora o melhor possível?

 

Quanto mais ganhamos familiaridade com a psicologia e a gestão das emoções aplicada à vida quotidiana – que o(a) arranca de dentro da sua cabeça e dos seus pensamentos e coloca-o(a) dentro de uma outra esfera de percepção da vida à sua volta – mais nos vamos dando conta de que tudo tinha que acontecer da forma como aconteceu. E, mais do que isso, tudo no fim de contas poderá ter sido justamente aquilo de você precisava para evoluir.
Só que, para isso, precisamos de esvaziar… e não há nada mais difícil do que abrir mão do controlo e da necessidade de que tudo aconteça como a sua mente quer que aconteça.

Acredite, é libertador. Saber que não somos vítimas do contexto, do frio, da chuva, da crise, da economia, do desemprego, ou da “morte da bezerra”. Ter consciência que podemos criar o nosso destino. Saber que está tudo na nossa mente e na nossa visão do mundo.

E, realmente, depois que entendemos isto, tudo à nossa volta começa a mudar, e consequentemente quebraremos os padrões negativos repetitivos que nos aprisionam.

 

Sara Ferreira – Psicóloga, Psicoterapeuta, Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses