Assistimos, no âmbito da Consulta Psicológica, a pais que trazem cada vez mais dúvidas e ânsias acerca do seu papel enquanto cuidadores exclusivos dos seus filhos; querem saber o que fazer, como fazer e querem fazê-lo cada vez melhor. Neste seguimento, tem-se aperfeiçoado o conceito de parentalidade e, mais concretamente, de parentalidade positiva, conceito centrado no desenvolvimento óptimo da saúde mental e física da criança.

 

Verificamos que este tema acarreta, não só muitas interrogações, como também objectivos, expectativas e, por vezes, frustrações. A consciência de que cuidar e educar não reflectem talentos inatos, dirige-nos para o “trabalho” dos pais no compromisso de adaptação à singularidade de cada criança, influenciado pelos diferentes contextos familiares e sociais.

 

O que é a Parentalidade Positiva?

 

Considerando que a parentalidade positiva está circunscrita aos pais, podemos defini-la como um comportamento parental focado no melhor interesse da criança e que visa assegurar a satisfação das suas principais necessidades propiciando, sem recurso à violência (física ou psicológica), a fixação de limites bem como a orientação e reforço/reconhecimento indispensáveis para um desenvolvimento óptimo e adaptativo. Assim, o papel parental consubstancia-se na tarefa de corresponder, de forma positiva, às expectativas pessoais, familiares e sociais, mas também em função da especificidade da necessidade dos seus filhos.

 

Os princípios básicos da parentalidade assentam no reconhecimento de que as crianças e os seus cuidadores tutelam direitos e deveres, reunidos numa parceria que visa atingir a totalidade do potencial de desenvolvimento da criança. Os pais devem, assim, comprometer-se a proporcionar os cuidados básicos (habitabilidade, segurança, higiene, organização), bem como atenção numa base regular e personalizada, educando segundo uma lógica de disciplina compreensiva e assente na compaixão, num ambiente de reconhecimento e consideração.

 

 

É fulcral desenvolver um sentido de inclusão, onde a criança se sinta parte integrante da família, alimentando uma relação de proximidade e confiança. Os pais esforçam-se naturalmente por ser modelos para os seus filhos, constituindo exemplos dignos a seguir e transmitindo valores e comportamentos saudáveis, num exercício permanente das suas competências e estratégias.

 

O diálogo, o afecto, a motivação e a gestão de reforços, figuram como ferramentas nucleares, no sentido de potenciar a autonomia, segurança e auto-confiança nas suas crianças.

 

Em tempos de confinamento social, é importante que nos humanizemos, a nós e aos restantes membros da família. É perfeitamente compreensível haver mais desgaste, menos tolerância e mais dificuldades no planeamento de tarefas e actividades, situações que podem ser transversais a pais e filhos. Para fazer face a estes desafios, é importante todos os elementos terem algum momento de auto-cuidado, que fomente sensações de calma e bem-estar.

 

Estar atento aos sinais de ansiedade ou nervosismo das crianças reveste-se de particular importância. Mediante estes sinais, os pais podem desenvolver técnicas para tranquilizar, tais como falar com os filhos, deixá-los brincar um pouco mais ou incentivá-los a fazer algum exercício físico. Relativamente ao diálogo, é fulcral adaptar à idade de desenvolvimento, sendo o objectivo primordial que a criança/jovem entenda que está mais ansiosa, e que tal é perfeitamente normal. Não obstante, há actividades que podem ser realizadas, com o intuito de acalmar e distrair.

 

Adicionalmente, incentivar momentos de interação familiar conjunta também pode configurar um método de relaxamento colectivo, ao mesmo tempo que se fomentam e reforçam os laços. Deste modo, criar rotinas conjuntas (refeições, momentos de jogos) pode contrabalançar a ansiedade colectiva, abrindo um espaço de lazer, que pode também catalisar a partilha e a expressão de sentimentos.

 

Em última instância, ao reforçar a unidade, enaltecemos todos e ao cuidarmos de cada um, exaltamos a unidade.

 

 

É central retermos que as dúvidas e os anseios são perfeitamente normais. No entanto, há profissionais qualificados para ajudar, quando as dificuldades nos parecem muito difíceis de ultrapassar. Se tal lhe acontecer, procure a ajuda de um psicólogo.

 

Cátia Rocha – Psicóloga WeCareOn