Será melhor ser racional ou emocional? Já alguma vez deu por si a “matutar” sobre isto? Aprenda, assim, a tirar proveito dos dois hemisférios cerebrais.

 

Os psicólogos (e Albert Einstein) acreditam que a verdadeira sabedoria requer que você tire proveito de ambos. Então, que tal hoje, comigo, aqui, descobrir como é que a sua “mente sábia” integra a emoção e a razão para que comece a perceber como ativá-la na sua vida diária?

 

Sherlock Holmes, o famoso e genial detetive criado pelo seu autor, Sir Arthur Conan Doyle, disse uma vez o seguinte sobre as emoções:

 

-”Mas o amor é uma coisa emocional, e o que quer que seja emocional opõe-se à verdadeira e fria razão, que coloco acima de todas as coisas.”

 

Holmes declarou as emoções como coisas tolas e frívolas que obscurecem o julgamento e atrapalham a busca pela verdade. Ok.

 

Por outro lado, um génio não menos famoso, mas da vida real, Albert Einstein, teve uma visão bem mais positiva e gentil acerca emoções:

 

– “O sentimento e o desejo são as forças motivadoras por detrás de todo o esforço humano e das criações humanas.”

 

Hoje, já que estamos numa de citações, recordemos ainda o que a este propósito disse Helen Keller (escritora, ativista e professora, foi a primeira pessoa cega e surda a entrar para uma instituição de ensino superior), de uma forma verdadeiramente poética, quando disse:

 

“As melhores e mais belas coisas do mundo não podem ser vistas nem tocadas. Elas devem ser sentidas com o coração.”

 

Então, quem está certo? Afinal, sempre é melhor ser racional ou emocional??

– E se a resposta for “ambos”?…

Exato. E como assim? Ora vamos lá às explicações.

 

A sua “mente sábia” é a intersecção das suas mentes racional e emocional, que permitem que você faça as escolhas da sua vida mais fundamentadas, úteis e gratificantes.

 

Tentarei resumir estas “3 mentes” (racional / emocional / sábia) o máximo que puder.

 

A mente emocional é quente, focada nos sentimentos, intensa e mais volátil. É ótima para gerar inspiração, destacar valores importantes e estimular ações.

 

A mente emocional fá-lo(a) correr riscos ou explorar um território desconhecido – como por exemplo, ir morar num país diferente ou abrir um negócio. Pode não ser a escolha mais racional, porque ficar “em casa” no seu trabalho diário é menos arriscado financeiramente, mas a mente emocional, para o melhor ou para o pior, pode dar-lhe o empurrão necessário para essa mudança, para dar esse salto de fé.

 

– O que é que a mente emocional pode estar a perder? Se tivéssemos apenas uma mente emocional, estaríamos exaustos seguindo todos os nossos impulsos, caprichos excitações, propensões erráticas e em constante alteração à medida que se nos surgem. Assim, também pode ser cansativo para aqueles que nos rodeiam acompanharem tamanha oscilação. Por um lado, isso pode levar-nos a correr mais riscos do que o que seria o mais favorável para nós, ou podemos ficar tão empolgados com ideias e conjecturações que perdemos de vista os factos. É difícil ter uma vida estável com relacionamentos duradouros, por exemplo, se somos – sempre – só emoções em catadupa, em simultâneo, mesmo que sem motivo.

 

A mente racional é descolada, focada na tarefa, na lógica e pragmática. É ótimo para tomar decisões meticulosas, analisar factos e passar por uma crise pandémica, por exemplo.

 

– O que é que a mente racional pode estar a perder? Estar sempre na mente racional pode ser entediante. É difícil sentir-se inspirado(a), apaixonado(a), criativo(a), motivado(a) e alegre quando você está sempre a “operar” sob uma mentalidade racional. Também é difícil aceder e processar as emoções difíceis, mas necessárias. Sim, necessárias para viver uma vida emocionalmente mais madura, rica e gratificante – como, por exemplo, tristeza pelas coisas que amamos e perdemos, ternura pelas coisas que queremos nutrir e raiva pelas coisas injustas.

 

Com apenas uma mente racional, provavelmente não teríamos mudança social, amor pelos filhotes ou por quem quer que seja, insights espontâneos, viagens prazerosas, saltos de fé, trajetórias ou transições de carreira mais significativas e outras coisas que tornam a vida, na essência, significativa, preenchida e colorida.

 

A mente sábia é uma integração das mentes emocional e racional. Ela reconhece o papel da emoção em apontar o que é importante e usa o raciocínio para implementar ações eficazes. É intuitiva, fundamentada e consciente.

 

Em qualquer situação, o trabalho da sua mente sábia é encontrar o equilíbrio e a integração entre as suas mentes emocional e racional. No entanto, isso não significa sempre alocar exatamente 50% a 50%. Significa escolher conscientemente os componentes da emoção e da razão, dependendo da situação. Se você, por exemplo, tiver que escrever uma canção de amor apaixonada, a sua mente sábia saberá afastá-lo(a) descaradamente da sua mente emocional. De outra forma, se você estiver prestes a comprometer-se com uma hipoteca de 30 anos, a sua mente sábia provavelmente daria mais tempo e espaço à sua mente racional.

 

Pergunto-lhe 3 coisas:

– Você tem ativada a sua mente sábia?

– Presta atenção às emoções e ao raciocínio, por igual?

– Tem dedicando tempo e esforços no sentido de integrá-las?

 

Então, como é que você ativa sua mente sábia?

 

Cultivar a sua própria mente sábia requer prática, e é mais uma busca, um processo, um caminho (ao longo da vida) do que propriamente um “evento” isolado, um item de tarefa a ser “checkado” da sua lista de verificação nos campos do auto-aperfeiçoamento.

 

Porém, recomendo-lhe começar com estas etapas:

 

– Esteja atento(a) e aceite as suas emoções. Trate as suas emoções como cores que o seu cérebro usa para ilustrar a história, repleta de contos, da sua vida. Não há cores “erradas”. Elas simplesmente transmitem graficamente humores, necessidades e significados, chamando a sua atenção para partes importantes. Deixe as emoções fluírem e preste atenção ao que elas estão a tentar dizer-lhe (e acredite que o tentam fazer…).

 

– Demore mais do que você pensa que precisa para interpretar, agir, elogiar, ponderar, julgar, confiar, amar. A sua mente racional pode fazer estas coisas numa fração de segundos, mas ela também pode beneficiar-se com informações mais subtis e perspicazes da sua mente emocional. Por exemplo, se você se encontra a reagir fortemente a um debate político, ouça a sua mente emocional primeiro e depois convide a sua mente racional a experimentar a outra perspetiva também antes de chegar a uma posição.

 

– Lembre-se sempre que você tem uma mente sábia. Esse lembrete é como um sinal sonoro – simplesmente trazê-lo à tona pode convocar a sua mente sábia para o resgate. Confie na sua mente sábia, mas muitas vezes reflita sobre a forma como atua, para que você possa ficar atento e aberto o suficiente.

 

– Embora muitas vezes pensemos nos artistas como emocionais e nos cientistas como racionais, uma pessoa verdadeiramente sábia desenvolve a intuição tocando ambas: emoções e razão.

 

Neste sentido, não posso deixar de trazer à baila, novamente, Einstein, o cientista mais conhecido da era moderna, que tão sabiamente deu crédito a esta síntese e ao papel da intuição no avanço do conhecimento e da verdade:

 

– “Não existe nenhum caminho lógico para a descoberta das leis do Universo – o único caminho é o da intuição.” (Albert Einstein).

 

 

Sara Ferreira –  Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta @ WeCareOn, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses