As perturbações do comportamento alimentar configuram-se como categorias de diagnóstico associadas a padrões de comportamento alimentar considerados desadaptativos. Assim, caracterizam-se por hábitos rígidos relativamente à ingestão alimentar e às percepções associadas ao peso e auto-imagem. A bulimia nervosa configura-se como um quadro central no espectro das perturbações do comportamento alimentar, tendo como característica central períodos de ingestão compulsiva, claramente excessiva e fora do controlo pessoal, aos quais se segue o uso de recursos para evitar o ganho de peso. Os recursos podem ser purgativos ou não purgativos, sendo que, nos primeiros, há o recurso a métodos como indução de vómito, uso de laxantes, diuréticos ou enemas; e nos segundos são utilizados, preferencialmente, o jejum e/ou exercício físico, de forma intensiva (Grilo, Ivezaj, & White, 2015).
É considerada como um quadro clínico grave, acarretando, a par com os episódios de ingestão compulsiva, sentimentos de culpa, desadequação e/ou vergonha. Frequentemente, as pessoas iniciam dietas muito restritivas, que acarretam sensações e respostas de fome exageradas. Por sua vez, estes comportamentos tendem a intensificar-se e a repetir-se, conduzindo a pensamentos obsessivos relativamente à ingestão alimentar, dieta ou perda de peso. Não obstante, é uma perturbação que pode manter-se oculta durante muito tempo, especialmente porque o peso tende a manter-se normativo, ou ligeiramente abaixo (Sathyaprya et al., 2018).
O DSM 5 (APA, 2012) mudou os critérios de diagnóstico, no sentido de melhorar a sensibilidade clínica dos critérios. Assim, não há agora subtipos (purgativo ou não purgativo). A frequência dos episódios, quer de compulsão alimentar (comer grandes quantidades acompanhada da sensação de falta de controlo), quer de comportamentos inapropriados de compensação (vómito auto-induzido, uso abusivo de laxantes ou diuréticos e exercício excessivo), foi alterada para pelo menos uma vez por semana, no decurso dos últimos 3 meses. Foi ainda incluído um índice de severidade, baseado na frequência dos comportamentos compensatórios, que varia entre ligeiro (1-3 episódios por semana), moderado (4-7), severo (8-13) e extremo (14 ou mais) (Grilo, Ivezaj, & White, 2015).
Causas e Factores de Risco:
Relativamente aos factores de risco tidos como mais centrais, encontramos as expectativas corporais irrealistas, insatisfação com imagem corporal e emoções negativas. Adicionalmente, dietas demasiado restritivas, autoavaliações depreciativas e práticas parentais muito rígidas também se revelam factores determinantes.
No que concerne às causas, parecem ser multifactoriais, comportando factores genéticos, psicológicos, biológicos, sociais e comportamentais. No entanto, a exposição à indústria da moda, nos seus modelos e padrões de magreza, acompanhada pela pressão dos pares (especialmente na adolescência/juventude), parece reforçar as crenças e comportamentos associados às perturbações do comportamento alimentar (Sathyaprya et al., 2018).
Sinais de alerta:
Os sinais físicos podem incluir flutuações de peso, alteração dos ciclos menstruais, tonturas e desmaios, alterações decorrentes da indução de vómito (dano nos dentes, esófago, calos nos dedos). Relativamente aos sinais psicológicos, podem ser visíveis através da preocupação excessiva com a alimentação e peso, hipersensibilidade a assuntos relacionados com estas temáticas, baixa autoestima, ansiedade, tristeza e insatisfação com a imagem corporal. Comportamentalmente, os indícios podem compreender evitamento de refeições com outros, idas frequentes à casa de banho (especialmente a seguir a refeições), compras excessivas de comida, práticas de dietas restritivas, exercício físico excessivo ou uso de laxantes (Sathyaprya, et al., 2018).
Comorbilidades:
A Bulimia Nervosa apresenta-se, frequentemente, em ligação com outras perturbações psiquiátricas, nomeadamente taxas elevadas de depressão, ansiedade, dificuldades de adaptação, abuso de substâncias (álcool e drogas) e ideação suicida. Do ponto de vista fisiológico, a indução de vómito acarreta, também, muitas complicações do trato gastrointestinal, esófago e dentário (le Grange, & Lock, 2002).
Tratamento:
O tratamento da bulimia nervosa, apesar de complexo, é perspectivado numa lente multidisciplinar, de forma a contemplar as dinâmicas nutricionais, psicológicas e médicas do quadro clínico (le Grange, & Lock, 2002).
A psicoterapia, centrada nas autoavaliações negativas, nas ideias relacionadas com a comida, imagem corporal e comportamentos disruptivos, parece ter bons resultados, quando complementada com o trabalho assente nas relações com o próprio e os outros.
Tratamento psicofarmacológico:
O tratamento das perturbações do comportamento alimentar tem por base a psicoterapia e a intervenção nutricional. No entanto, em algumas situações, pode ser importante complementar a intervenção com tratamento psicofarmacológico. Na Bulimia Nervosa, o uso de fármacos tem como objetivo a redução dos episódios de ingestão alimentar compulsiva e dos comportamentos inapropriados de compensação. Neste sentido, os antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina, sobretudo a fluoxetina, são frequentemente utilizados. As vantagens e desvantagens deste tipo de abordagem devem ser cuidadosamente avaliadas com o seu psiquiatra.
Por fim, o tratamento psicofarmacológico pode ser útil no tratamento das comorbilidades que frequentemente acompanham a Bulimia Nervosa, como as perturbações depressivas e de ansiedade.
Nutrição:
O aconselhamento nutricional, enquadrado numa abordagem inter e multidisciplinar, no tratamento da Bulimia Nervosa é uma parte de importância ímpar (Stidwill & Cook-Müller, 2019), uma vez que é da responsabilidade do/a nutricionista compreender os padrões de consumo e comportamento alimentar e, assim, traçar uma adequada abordagem nutricional (M. d. S. Alvarenga & Scagliusi, 2010).
A perceção e compreensão da relação entre o/a cliente e os alimentos, bem como as crenças alimentares e corporais, os afetos, os pensamentos, sentimentos e as influências subjetivas, sociais, ambientais e culturais ligados à alimentação e ao próprio corpo são essenciais para “quebrar” o ciclo constituído por restrição, compulsão e purgação (M. d. S. Alvarenga & Scagliusi, 2010). Uma vez que o padrão alimentar é flutuante, também o aporte de nutrientes essenciais e de energia irá depender da fase: restritiva ou compensatória, sendo que alcançar e/ou manter o correto estado nutricional é um objetivo central a ser alcançado (M. Alvarenga & Dunker, 2004), evitando assim situações de desnutrição.
A terapia nutricional visa capacitar e educar o/a paciente com BN a compreender os princípios da alimentação saudável, as necessidades nutricionais individuais e a relação entre restrição e compulsão alimentar (Sundgot-Borgen, Rosenvinge, Bahr, & Schneider, 2002).
A American Dietetic Association instituiu diretrizes para o tratamento nutricional propondo: educação nutricional e aconselhamento tendo como ponto de partida os comportamentos e atitudes alimentares. Assim, é importante que seja transmitido ao/à cliente os princípios da alimentação saudável e balanceada, as necessidades nutricionais individuais e a desconstrução de mitos e crenças em torno da alimentação (Association, 2001).
Assim, o principal objetivo do tratamento é ensinar o/a paciente a comer de maneira “normal” e saudável, ensinar e capacitar a fazer escolhas alimentares adequadas. Muitos/as clientes acreditam que possuem amplos conhecimentos sobre alimentação e nutrição, porém, tal conhecimento é centrado no valor energético dos alimentos sendo que tais dados são interpretados, na maioria das vezes, de maneira rígida e enviesada. (Salvy & McCargar, 2002)
O aconselhamento nutricional foca-se na troca de padrões alimentares alterados e não saudáveis por padrões saudáveis e organizados, fornece suporte para iniciar novos hábitos e comportamentos alimentares, avalia resultados, monitoriza o peso corporal, corrige comportamentos, crenças e mitos alterados nas áreas de alimentação, corpo e atividade física. Assim, a terapia nutricional apresenta como ênfase os comportamentos e atitudes alimentares e a insatisfação corporal (M. d. S. Alvarenga & Scagliusi, 2010)
Em suma, para o tratamento da Bulimia é necessário aprofundar e conhecer o significado da alimentação na vida de cada ser humano: física, social e emocionalmente.
A Nossa Proposta
Propomos acompanha-lo/a de forma próxima e personalizada. Dada a complexidade desta perturbação, a par do impacto psicofisiológico evidente, realça-se a importância de existir uma equipa multidisciplinar sempre que possível. Na nossa proposta integramos profissionais das áreas de psicologia, nutrição e psiquiatria, sem prejuízo de outras especialidades que possam ser sinalizadas e encaminhadas no processo.
Na avaliação psicológica e da avaliação geral do organismo pode contar com:
- 1 sessão com psicólogo/a
- 1 sessão com nutricionista
- 1 sessão com psiquiatra
Oferecemos um pack de 3 sessões, com os nossos profissionais e ao comprar o pack tem um valor de 10% de desconto em cada sessão.
Veja nos perfis dos profissionais abaixo, a opção Pack Bulimia Nervosa
– Cátia Rocha (Psicóloga),
– Fábio Monteiro Silva (Psiquiatra) e
– Sara Romeiro (Nutricionista)
É a partir daqui que a equipa elabora um plano de intervenção integrado e individualizado às suas necessidades, guiado por objetivos terapêuticos.
Neste plano dar-lhe-emos a possibilidade de desenvolver um trabalho único de autoconhecimento, fortalecimento e recuperação, sempre guiado pelos objetivos terapêuticos definidos consigo e para si, e com o apoio desta equipa.
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Bibliografia:
Sathyapriya, B., Lakshmanan, P., Sumathy, G., Koshi, J., et al. (2018). Bulimia Nervosa – A psychiatric eating disorder. Acta Scientific Medical Sciences, 2, 2.