Como ajudar um suicida é um artigo preparado pela psicóloga Marisa Pereira. Este pode ajudá-lo a si ou alguém que conheça e identificou com pensamentos suicidas ou comportamento suicida.

 

Começo por definir o fenómeno suicídio, como um ato intencional de por fim à sua própria vida.

Muitas vezes interpretado como um ato egoísta, ouvimos frases como: “acabou com ele e não se lembrou de quem cá ficou a sofrer”; “atitude cobarde e egoísta, só pensou nele”. Este entendimento parece-me bastante injusto e pouco coerente na compreensão, do que leva efetivamente um indivíduo a tomar esta decisão perante a vida.

 

Um indivíduo, para decidir por fim à sua própria vida, tem necessariamente de estar num sofrimento profundo. Seja provocado por fatores externos, ou internos (psicológicos).

 

Quando se opta pelo suicídio, como última solução para os seus conflitos, o indivíduo já tentou todas as formas de por fim ao seu sofrimento psíquico. É “O último grito mudo do desespero”, de quem quer fugir do que o faz sentir mal, não quer mais sentir aquilo e esta é a única forma que considera viável e eficiente. Esta tentativa pode também ser encarada como um pedido de ajuda e não de “chamada de atenção” gratuita, como tantas vezes se julga injustamente.

 

Devemos considerar, como referi antes, fatores externos, como traumas, dificuldades socioeconómicas, problemas relacionais, entre outros. Por outro lado, estão os fatores internos, como a doença mental, comportamentos aditivos.

Segundo a OMS, os transtornos psicológicos, mais diretamente associados com o suicídio, são:

  • Depressão, distimia e transtorno bipolar;
  • Psicoses;
  • Transtornos de ansiedade;
  • Transtornos de personalidade;
  • Demências.

 

Tendências Suicidas Sintomas

Como identificar a ideação suicida?

São indicadores da possibilidade de ideação suicida e carecem de acompanhamento psicológico, os seguintes comportamentos:

  • Querer desaparecer;
  • Desejo de dormir para sempre;
  • “Ir embora de um lugar e nunca mais voltar”;
  • Questionar-se sobre a sua própria existência;
  • Pensar em formas de o fazer e ter acesso a essas formas (ex: acesso a medicação perigosa, ácidos);
  • Não encontrar satisfação ou motivo para continuar a sua vida, as suas rotinas;
  • Distúrbios do sono;
  • Desleixo com a própria higiene;
  • Humor depressivo;
  • Condução perigosa;
  • Deterioração cognitiva;
  • Preocupação excessiva com o tema morte;
  • Isolamento;
  • Fatores socio-económicos (fracos recursos financeiros podem levar à depressão e por consequência, à ideação suicida).

 

Como Ajudar um Suicida?

Toda a rede de suporte familiar, deve estar em alerta para todos estes sinais que, por mais pequenos e subtis que pareçam, quando surgem mesmo que, de forma isolada, podem indicar a presença de um pensamento em por fim à vida.

 

A intervenção deve ser feita, por psicólogos e psiquiatras num trabalho cooperativo, sendo frequentemente decidida a melhor opção de início de tratamento, o internamento, para evitar que o indivíduo o faça efetivamente e para o conter emocionalmente, iniciando assim o tratamento de forma segura. Desta forma, considero importantes, as seguintes medidas:

  • Internamento psiquiátrico e possível terapia medicamentosa para eliminar ou atenuar sintomas de tristeza, ansiedade e pensamento constante na morte, desta forma o paciente é contido;
  • Comprometer uma rede social de família e amigos;
  • Psicoterapia individual e familiar;
  • Estabelecer novos objetivos de vida, rotinas saudáveis e formas de encarar/resolver problemas de forma saudável;
  • Garantir o acompanhamento psicológico e psiquiátrico regular.

 

Não obstante todos estes cuidados, por parte de todos os intervenientes (da família a técnicos de saúde mental), é fundamental que todos fiquem em alerta. Não só inicialmente porque o início do tratamento com antidepressivos, potencia a tomada de decisões e portanto o indivíduo, pode tentar fazê-lo. Como pelo facto de a ideação, por algum fator externo, pode voltar.

 

Como ajudar alguém que se quer suicidar?

Se sente que alguém próximo, possa correr o risco de se suicidar, peça ajuda profissional urgente! Não adiante só vigiar e conversar, por que se o seu próximo estiver convicto de que é a única forma possível de fugir à dor emocional que sente, vai fazê-lo!

 

Marisa Pereira – Psicóloga WeCareOn