“Como distinguir a tristeza da depressão?”, esta é uma questão que apesar de corriqueira no universo “Psi” é alvo dos maiores equívocos por parte da generalidade da população. Eu diria mesmo que talvez uns 90% das pessoas desconheçam verdadeiramente a diferença entre aquilo que é uma “simples” tristeza daquilo que é uma “não-tão-simples-assim” depressão, e já agora, qual é o caminho que geralmente se percorre para chegar (ou não) de uma a outra condição.

 

Muitas pessoas, de facto, não sabem qual é a diferença entre tristeza e depressão, e acham que, por exemplo, toda a tristeza é uma depressão ou que uma tristeza nunca é uma depressão (que é a situação mais comum).

 

Pela definição nosológica (desculpe o palavrão), a tristeza é uma emoção humana normal e necessária para o dia-a-dia. Ela faz parte das cinco emoções básicas que compõem o espectro inicial das emoções de, basicamente, todos os mamíferos, e estas emoções básicas são o nojo, a raiva, a tristeza, a alegria e o medo.

 

Todos nós sentimos e passamos por altos e baixos no nosso humor. A tristeza é uma reacção normal às situações de vida, tais como lutas, zangas, perdas, derrotas e decepções. Muitas pessoas usam a palavra “depressão” para designar este tipos de sentimentos, mas a depressão é muito mais do que uma tristeza reactiva a alguma coisa.

 

 

Na definição da depressão, esta é caracterizada como uma doença de longo prazo em que o estado das emoções está disfuncional.

 

É necessário pelo menos um mês de sintomas constantes de tristeza para considerar a depressão, ou seja, na maior parte dos dias a pessoa costuma apresentar sentimentos negativos.

 

No entanto, a tristeza raramente é o único sintoma da depressão, é necessário observar outros sintomas, como melancolia, irritabilidade, pessimismo, mudanças significativas na alimentação (perda de apetite), perda de entusiasmo ou interesse (nomeadamente, por actividades que antes eram prazerosas), dificuldade em manter a concentração, sentimentos de culpa profunda (às vezes sem motivo), sensação de rejeição pelas pessoas do seu círculo de convivência, desejos de “desaparecer” ou mesmo ideação suicida.

 

A depressão parece uma condição simples de identificar. Ela não é uma tristeza, e está longe de ser tratada apenas com remédios e mandalas para pintar.

 

Algumas pessoas descrevem a depressão como “viver num buraco negro” ou ter um sentimento de desgraça constante. Seja qual for o sintoma, a depressão é muito diferente da tristeza normal ou da simples desmotivação, na medida em que ela anula o seu dia-a-dia de formas cada vez mais insidiosas, interferindo com a sua capacidade de trabalhar, estudar, comer, dormir, divertir-se e – no seu estado mais grave e avançado – de sequer se considerar digno de existir. Os sentimentos de desamparo, desesperança, inutilidade são intensos e implacáveis, com pouco ou nenhuma alívio. O sintoma mais sério da depressão é quando a pessoa passa não somente a desejar a própria morte, mas também começa a planear maneiras de alcançar esse desejo.

 

De salientar que dependendo do tipo de depressão que uma pessoa experiencia, os sintomas mentais começam inclusive a criar sintomas físicos, como dores no corpo, dores de cabeça, dores não justificadas (arrepios, formigamento). Dores.

 

Como já percebeu, a depressão é diferente de tristeza.

 

A depressão não é o mesmo que ficar triste ou angustiado algumas semanas, porque se zangou com um amigo ou ficar chateado consigo mesma porque alguém teve a promoção que você deixou fugir. A apresentação clínica da depressão é muito variada, e caracteriza-se por um conjunto de sintomas que interferem com a capacidade de, como referi, trabalhar, estudar, comer, dormir, divertir-se e de viver, em geral!

 

Não sei qual é a sua motivação por detrás da leitura deste artigo, isto é, se desejaria saber distinguir melhor a tristeza da depressão para se ajudar a si mesmo(a) ou eventualmente a outros, mas em todo o caso, se for algo em relação a si mesmo(a) ou terceiros, as informações que aqui lhe disponibilizo não deverão substituir um correcto diagnóstico (realizado adequadamente em consulta, juntinha a um profissional de saúde mental), nem tão pouco servir para auto-diagnóstico (pelos mesmos motivos que referi ainda agora).

 

 

No entanto, se deseja ficar com uma noção (e o que mais importa por estes dias é as pessoas terem noção deste que é um problema muito sério e epidémico em Portugal e no mundo), digo-lhe que existem, sim, alguns sintomas de depressão que são mais significativos para a confirmação do diagnóstico. E eles, necessariamente, devem estar presentes: humor deprimido ou perda de interesse ou prazer. Estes sintomas predominam a maior parte do dia, na maior parte dos dias, na maior parte de todas as partes de todos os dias, no mínimo durante duas semanas, infligindo sofrimento ou limitação significativa no funcionamento geral da pessoa.

 

Caro(a) leitor(a), você estará a sofrer de depressão? Conhece alguém que esteja? Desconfia tão simplesmente que alguém conhecido esteja?!

 

Pois. Infelizmente, seria bem provável. Porque todos nós parecemos já bastante habituados à palavra “depressão”. Todos nós já ouvimos falar de alguém próximo que está ou esteve com depressão, ou até mesmo nós já passamos por tal.

 

Digo-lhe isto porque estatisticamente é impossível que assim não seja, para desgosto dos nossos fados. Um em cada quatro portugueses sofre de algum transtorno psiquiátrico. Números reais apontam que Portugal é nada mais, nada menos, do que o país da Europa com a taxa de depressão mais elevada, e como de isto já não bastasse, o 2º país no mundo com maior incidência de depressão (sendo ultrapassado apenas pelos EUA).

 

Ou seja, 23% da população portuguesa sofre de um problema de saúde mental. Mas há mais! Por ano, 400 mil portugueses são diagnosticados com depressão. No ano de 2017 foram prescritos 20 milhões de embalagens de psicofármacos em Portugal, sendo gastos diariamente (leu bem, di-a-ri-a-men-te!) 600 mil euros neste tipo de medicação.

 

Se você ou algum seu familiar ou amigo se identifica com vários dos sinais e sintomas que a seguir passo a indicar (não sentido nenhuma diminuição de dia para dia), você ou alguém conhecido pode estar a sofrer de depressão clínica:

– Não conseguir dormir ou dormir em excesso

– Ter dificuldades de concentração, ou sentir que algumas das tarefas que fazia facilmente são agora um tormento

– Sentir-se desesperançado e desamparado

– Não conseguir controlar os seus pensamentos negativos por mais que se esforce

– Perder o apetite ou não conseguir parar de comer

– Estar muito mais irritadiço e com humor diminuído do que é habitual

– Ter pensamentos de que não vale a pena viver (se for o caso, procure ajuda imediata)

 

 

Estes pensamentos suicidas, no contexto de uma depressão, são um sinal de gravidade que expressam muitas vezes o desespero e não devem – nunca – ser menosprezados.

 

Em Portugal, e de acordo com estudos inclusive divulgados pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), pouco tem sido feito em relação a esta epidemia. Se o(a) leitor(a) tiver a impressão de que cuidar da saúde mental é igual a tomar medicamentos, infelizmente não está errada (apesar de estar!). Não está no sentido em que se tem passado muito essa ideia, e às tantas é comum ver as pessoas em geral acharem que saúde mental (as que têm consciência do que isso é) se resume a psicofármacos (quando se sabe comprovadamente, à escala mundial, acerca da eficácia incontornável da psicoterapia no tratamento da depressão, entre muitas outras problemáticas). E com isso, ao longo dos anos, temos conseguido o quê? Hoje são os números que explicam.

 

Segundo dados da OPP, perto de metade dos cidadãos (43%) já teve uma perturbação mental em algum momento da sua vida. A mais frequente é a depressão, com o número a ter aumentado 43% nos últimos sete anos. Se, em 2011, a percentagem de portugueses com depressões era de 6,85%, em 2017 tinha subido para 9,8%. No que diz respeito à ansiedade, a taxa quase duplicou, de 3,5% da população em 2011 para 6,5% em 2017. E, bom, fiquemos por aqui…

 

Não obstante tudo isto, a esta triste (e deprimente!) realidade dos factos, ainda existe associado um estigma que constitui uma importante barreira ao diagnóstico atempado bem como à sua prevenção. Estigma este que está enraizado numa cultura ainda bastante retrógrada no que concerne as questões de saúde mental. Somos movidos por uma cultura em que “um homem não chora”, em que as depressões são tabu, em que dizer e expressar o que se sente não é conveniente, em que essas pessoas são apenas fracas e bla-bla-bla. E enquanto continuarmos distraidinhos (e desinformadinhos) com isto vamos sendo testemunhas diárias de dramas humanos, cujas vidas parecem ter sido perdidas para uma doença incapacitante que se fosse diagnosticada, intervencionada e tratada atempada e adequadamente pouparia a vida (literalmente!) e a qualidade de vida a milhões de seres humanos no mundo inteiro. E depois – oh! – ficamos com tanta peninha das figuras (conhecidas por todos ou nem por isso) que “de repente” decidem acabar com a própria vida (alguém ao seu redor chegou a olhar para aquele ser e a perceber que poderia estar com uma violentíssima depressão?!). Ninguém pareceu perceber…

 

Bom, por um lado, tratando-se de depressão, há muitas faces para a mesma “moeda”, sendo que esta condição clínica não tanto se manifesta “apenas” com a apatia, o distanciamento dos outros, como também, por exemplo, aquilo que poderia ser considerado como um “bom” desempenho no trabalho (o típico caso do “workaholic”). Uma tristeza profunda, mesmo que ainda não assuma todos os contornos de uma depressão mais “enrustida” poderá manifestar-se através também, e por exemplo, da fuga “histriónica” de – perante o mundo – a pessoa insistir em colocar a máscara do “sempre, sempre, sempre” alegre e bem-disposto (quando por detrás dessa máscara, a real tonalidade emocional é bem diferente disso).

 

Cada pessoa tem uma forma de expressar a sua tristeza, ela é normal e não há nada de vergonhoso nisso. Mas como você reage a ela? Dorme, esconde-se, ocupa o seu tempo com mil tarefas, saídas à noite, sorri para o mundo e chora em segredo? Ocultar os sentimentos negativos é extremamente comum, porque queremos que as pessoas nos vejam sempre “felizes” e de bem com a vida.

 

 

Muitas vezes nem sabemos que alguém está triste porque sabe disfarçar muito bem (eu recebo inúmeros casos assim). Mas isso é saudável?

 

Na vida de qualquer pessoa, saber parar é essencial e rir pode não ser o melhor remédio. Estar triste é fundamental. E saber acolher, conhecer e reconhecer isso mais ainda.

 

Existem muitas razões para a depressão, existindo igualmente várias formas e expressões da depressão. A depressão raramente pode reduzir-se a uma simples questão ou situação, apontando apenas para uma causa. Quando se liga a um auto-conceito pobre e a uma tendência para catastrofizar sobre o desapontamento, sensação de injustiça, perda, temos os ingredientes principais para a possibilidade de uma depressão poder acontecer e ser recorrente.

 

Todas as formas de depressão envolvem uma profunda tristeza ou humor diminuído e uma elevada probabilidade de ter pensamentos distorcidos, depressivos e depreciativos.

 

Por isso é que é tão importante conversar com um profissional apto e habilitado para a apoiar, pois se a depressão obedece a múltiplos factores, formas e expressões, sabendo o tipo de depressão que você tem, pode ajudar a compreender melhor os seus sintomas e procurar o tratamento mais eficaz ou aplicar as estratégias que melhor se adequam a si (que não serão necessariamente as mesmas que serviram ao seu vizinho…), entende?

 

A depressão em Portugal é sem dúvida uma epidemia silenciosa. Quem o diz é o próprio Ministro da Saúde, reconhecendo que ainda há muito trabalho pela frente. Mas lá está, o tratamento para muitas pessoas, quando não têm meios para recorrer a um acompanhamento clínico privado, tem-se reduzido a listas de espera de meses e meses para 15 minutos de consulta para o médico lhes passar medicação (no ano passado, os portugueses adquiriram 20 milhões de psicofármacos…). A quem servirá isso? Não sei… mas decerto não é a quem está doente e só precisava de se tratar.

 

 

Como sabemos, e em especial nos quadros depressivos com alguma severidade, as melhorias ou o êxito do tratamento passam muito por integrar as duas abordagens (psicológica e psiquiátrica). E por um motivo muito simples. Nestes casos, a farmacologia tem o seu papel, por certo, que é o de reorganizar um pouco o sistema, bioquimicamente (mais no começo do tratamento). Porém, a medicação não trata a raiz do seu problema (que, como sabemos, tem origens emocionais e psicológicas mais profundas). Os remédios, como o nome indica, “remediam”, ou seja, podem amenizar por um tempo. Mas amenizar é muito diferente de curar, como seguramente entenderá. E talvez por ainda não estarem a trabalhar na cura (na raiz) do seu problema os sintomas permanecem na vida de uma quantidade esmagadora de pessoas.

 

A depressão ganhou popularidade nos últimos anos, o que é uma coisa extremamente positiva, já que anteriormente as doenças psicológicas e emocionais não eram levadas a sério pela maioria da população.

 

Entretanto, com a popularidade também veio a falta de informação, fazendo com que algumas pessoas banalizem a condição, e considerem qualquer tristeza uma depressão ou, inversamente, desconsiderem uma depressão por acharem que supostamente é “só” uma tristeza que passará.

 

Vejamos então que uma tristeza, sim, pode e deve passar. Já uma depressão clínica só verá os seus sintomas em remissão se forem tratados da forma certa!

 

Esta questão é uma dúvida muito comum entre os pacientes. Mas existe uma grande diferença entre estar triste e estar depressivo, e espero que neste texto algumas dúvidas relacionadas à tristeza, e quando ela se torna ou não uma depressão, possam ter sido esclarecidas.

 

A partir das informações e dicas que lhe dei, você conseguirá saber se os sintomas estão mais próximos da depressão ou da tristeza.

 

Porém, lembre-se que para ter o diagnóstico correcto, você precisará procurar um profissional da área de saúde mental. É muito importante consultar um psicólogo, um psicoterapeuta ou um psiquiatra para avaliar a necessidade de medicamentos e traçar o caminho ideal para o tratamento.

 

(Ressalvo novamente que a depressão é uma manifestação patológica da tristeza, não é adaptativa, e que por isso deve ser procurada ajuda de um profissional para a ultrapassar).

 

É que sabe? Ao contrário do que nos transmite a nossa sociedade actual, o papel da tristeza deverá ser tudo menos desvalorizado.

 

Bom, despeço-me de si por hoje com mais dois ou três factos no mínimo “curiosos” que talvez lhe dêem que pensar… (pelo menos, assim adorava!). 🙂

 

Sabia que dentro dos especialistas que trabalham com os acordos ou convenções das seguradoras, os psicólogos e os psiquiatras são sempre os únicos que têm horários de sobra ainda para este mês…? E porque será? Quanto a mim… é um sintoma (claro)! De que algo não vai bem no reino pessoal de um indivíduo consigo mesmo.

 

A sociedade fala-nos de um suposto homem, de uma suposta mulher poderosos, cheios de sucesso, mas em momento algum a própria sociedade encoraja esses seres humanos a buscar auto-suficiência em si mesmos, no próprio equilíbrio emocional…

 

No dia em que nos acharmos a nós mesmos, deixaremos de comprar produtos para preencher as nossas lacunas. Mas isso daria uma m*%$# tremenda. Imagine só o que aconteceria se as pessoas descobrissem que não é preciso encher os sacos de coisas para serem felizes?!…

 

Sentirem-se bem sem que para isso tenham que adquirir (em suaves prestações mensais) o carro do ano?! E nem aquele smartphone (tão smart que às tantas já parecem mais ‘smart’ que nós…) a um preço exorbitante e que já vem programado para pifar? Imagine só!

 

Sentimo-nos vazios? Não se rale, a publicidade oferece-nos mil opções de consumo que tentarão “preencher” esses vazios. Agora… Experimente ter uma vida que preencha todos os itens da lista de verificação do sucesso (socialmente definido) e ainda assim sentir-se apática, para ver o que acontece?…

 

Mas a verdade que ninguém vos conta é que nem a alegria ou a eforia (passageiras) são sinal de bem-estar psicológico, nem a tristeza (passageira) é sinal de depressão.

 

 

No entanto, ao mesmo tempo que a cultura em que vivemos incentiva a saúde através do consumo de mil produtos diferentes, associa a depressão à derrota e à fraqueza.

 

Não tenha dúvidas, nos tempos em que vivemos, para prevenir a doença, e viver com um mínimo de saúde física e mental, é crucial aprendermos a gerir as nossas emoções. A escoar a nossa raiva, angústia ou tristeza. Chorar também é preciso, até porque (e como percebeu através do que lhe expliquei, complementarmente a isto tudo, no meu vídeo) a tristeza é um acontecimento normal e importante da vida. Mas as pessoas insistem em fugir da tristeza ao evitar os momentos de reflexão e introspecção que as convidariam a encontrar soluções.

 

Dependendo obviamente da sua intensidade e recorrência, se não experimentássemos estes sentimentos de quando em vez não teríamos “motor” para avançar, para olharmos para dentro e nos podermos (re)centrar.

 

Há sinais claríssimos de que deveríamos estar prontos para efectuar as mudanças necessárias à melhoria das nossas vidas, e à melhoria de nós mesmos. E não existe nenhum motivo para achar que não consegue ou não pode, sentindo-se presa e puxada para trás.

 

O caminho passa simplesmente por perceber que aquilo que experimentamos é uma parte natural do que se é e da nossa existência neste mundo. O que quer que sinta ou que sente ser, acontece sempre por alguma razão. Quer queiramos olhar, quer não, isso estará lá, na mesma. Sempre. Connosco.

 

Nunca seremos verdadeiramente livres até ao dia em que descobrimos quais são as nossas motivações e aspirações. E por vezes, se não estivéssemos tão assustados e ocupados em “controlar” ou disfarçar ou atenuar as experiências profundas que a depressão ou a ansiedade nos podem trazer, saltaríamos de contentes por poder beneficiar das oportunidades que muitas vezes estas nos oferecem.

 

E que oportunidades são essas? As oportunidades de crescer. Quando percebemos que estes sintomas de ansiedade, de depressão, de stress, etc., não são mais do que uma sinalética afixada no ‘outdoor’ da nossa maquinaria natural (corpo e mente), comunicando-nos algo. Eles são como se fossem o nosso próprio GPS, ou melhor dizendo, o nosso sistema de navegação interna. Na verdade, não são mais do que um programa interno (coordenado em co-operância pela equipa cérebro-coração) que está a emitir os seus ‘outputs’ (tentando fazer o seu melhor) para nos manter ou puxar para o nosso caminho.

 

Por experiência própria, posso afirmar que pode demorar mais ou menos tempo, mas todas as pessoas conseguem sair da depressão, ainda que poucas consigam curá-la totalmente (isso vai depender de inúmeros factores, mas este tópico daria tema para um outro artigo!).

 

Quando nos desconectamos de quem somos (e dos desejos mais densos e tensos do nosso coração) abrimos a rachadura na qual, lá na frente, se vai instalar o sentimento de impotência pessoal. É na auto-critica tóxica e implacável, numa perspectiva simplista da vida em que a depressão – como um polvo gigante – vai lentamente criando tentáculos.

 

A depressão nunca é do dia para a noite. Na antecâmara disso perpassa sempre (mais ou menos disfarçada) uma tristeza, “a tal” tristeza que numa fase inicial poderia não ter de desembocar, sem mais opção, numa triste depressão.

 

Contrariamente ao que se gostaria de acreditar, deixar de pensar nos problemas não os faz *magicamente* desaparecer. Acusar-se a si mesmo(a) não altera o facto de que você ou alguém que conheça esteja passivo(a) diante da sua vida. O mesmo vale dizer que afastar-se das pessoas não a(o) vai poupar de mais dor, pelo contrário, perderá grandes oportunidades de ampliar a sua visão de mundo. Em resumo, admitir as nossas vulnerabilidades e tristezas está longe de ser a sua causa de ficarmos deprimidos. Pelo contrário, quando podemos ventilar e compartilhar os nossos medos e incapacidades sem presumir perfeição é que abrimos espaço para a cura.

 

 

A depressão começa muito antes da visita ao psicólogo ou ao psiquiatra, e segue muito depois do efeito dos remédios. É na mudança persistente dos comportamentos, dos pensamentos e personalidade que reside a esperança…

 

A questão da depressão é uma área complexa. As pessoas que podem obter grande alívio dos sintomas da depressão incluem todas aquelas que pensam que nunca iriam conseguir ultrapassar os seus problemas pessoais e que consequentemente a sua depressão iria durar para sempre.

 

Mas atenção! Nada disto é “magia”! É método. É um processo. É terapia! É comprovado (e não sendo magia, na minha opinião, há muuuuita magia neste processo). Isto é fruto de um trabalho a dois, que nasce de uma relação particular entre duas pessoas, e que inaugura um novo espaço e um novo tempo na vida de cada um, assim como um novo modo de “ser”, verdadeiro. É aí que qualquer que seja o seu anterior “estar” pode ser reformulado, transformado, reconstruído e potenciado numa psicoterapia, através do diálogo (esse mediador de ‘mundos’, interno e externo, e veículo de ligação entre o “eu” comigo mesmo e com o próprio mundo à minha volta) como elemento principal na resolução das questões cognitivas, emocionais e comportamentais que estiveram na base desse qualquer e anterior problema.

 

Felizmente, posso afirmar que já perdi a conta ao número de pessoas que, quando começaram a sua psicoterapia comigo, descobriram que apenas “estavam” deprimidas; porém, não significando que “fossem” deprimidas.

 

Com este texto, procuro apenas promover mais e melhor conhecimento. Espero apenas, como sempre, agregar mais “letras” ao “vocabulário” de todos os nossos leitores sobre psicologia, psicoterapia e comportamento humano. Por esta razão, acredito que você irá usufruir bastante com toda a informação que lhe ofereci. Se achar válido, repasse este texto para que mais pessoas se possam beneficiar com este conteúdo e transformar positivamente as suas vidas (afinal, é isso que todos necessitamos).

 

Sara Ferreira – Psicóloga, Psicoterapeuta, Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses