E mais um ano chega ao fim, estamos novamente no Natal, as ruas cheias de luzes e de cores. Cheira a Natal em todo o lado e o frenesim das prendas, existem sempre prendas que nos esquecemos de comprar ou estamos com falta de criatividade e ficam reservadas para a última da hora desta época festiva.

A casa cheia com a família e amigos, desde os mais novos aos mais velhos, alegria a volta da mesa, o cheiro ao bacalhau e ao polvo a acabadinhos de sair do forno e o aroma a canela que inunda a sala e nos traz recordações de natais passados.

Mas nem todos os natais são iguais…

Principalmente depois de perdermos alguém especial no dia de Natal.

 

Toda a gente feliz e contente e de repente, recebemos aquela chamada, a dizer que o tempo dos nossos entes queridos chegou ao fim e com muitos de nós isso acontece no dia de Natal.

Deixo aqui a minha partilha:

 

“ Era dia 25 de dezembro e estava feliz por ser natal, de repente o telefone toca, a minha mãe atende e era a minha querida avó que tantas vezes me fez arroz de forno, que eu adorava, tinha falecido. Foi um choque, foi o meu primeiro contacto com a morte. Não sabia o que pensar, nem como reagir, sabia que ela estava doente. Mas ao olha-la na cama da enfermaria do lar, imóvel, fez-me doer o coração, ainda estava quente quando chegamos “ Será que ainda haveria esperança?”.

 

 

O primeiro ano após o luto é sempre o mais difícil, é a primeira vez que passamos as datas importantes (os aniversários, dia da mãe e dias festivos) sem aquela pessoa ao nosso lado.

 

Cada pessoa é única e especial e a forma como vivencia o luto também o é, faça o que lhe fizer mais sentido, não existe um guião, nem uma norma, devemos respeitar os nossos sentimentos. Existem pessoas que preferem trabalhar no Natal outras preferem dormir, a escolha é de cada um. Pode querer passar um natal tranquilo com as suas recordações ou, estar com familiares e amigos pode até ser uma forma de se abstrair do que se passou.

 

Cuidado com os excessos

 

O Natal é uma época de excessos, alimentares e de bebidas, mas tenha cuidado, para não sentir culpa no dia seguinte.

 

Passe o natal de forma diferente

 

O Natal costuma ser uma época de tradições, passamos o Natal na casa sempre do mesmo familiar desde a infância e não nos faz sentido mudar. Quando um dos familiares morre, podemos ter vontade de alterar as tradições, por exemplo passar o Natal na casa de outro familiar ou num restaurante.

 

Sinta

 

Nesta época festiva e com toda a gente feliz a rir, podemos nos sentir mal por estarmos tristes e querer esconder esse sentimento.

Não é por ser Natal e por estar toda a gente feliz que temos de estar bem, quando perdemos alguém que nos era querido, é normal que sintamos a falta daquela pessoa, principalmente no Natal.

Estas épocas podem trazer sentimentos desconfortáveis e dolorosos, mas é necessário lidar com eles e vivencia-los. Não fuja, nem esconda os seus sentimentos, ao faze-lo só vai retardar o luto. Essa pessoa pode não estar fisicamente presente, mas permanece viva na nossa memória e pensamentos, até em simples gestos do dia-a-dia recordamos essa pessoa.

Caso tenha oportunidade, fale com alguém sobre isso, não existe problema nenhum em falar sobre os seus sentimentos e pensamentos.

 

Recorde-se

 

Costuma-se dizer que recordar é viver. No dia de Natal, pode tirar um tempo para recordar o seu familiar que partiu, seja através de um gesto, de uma memória.

 

O que dizer a um amigo que perdeu alguém

 

A maior parte das pessoas não sabe o que dizer e tem dificuldade em lidar com alguém enlutado, principalmente nestas ocasiões.

O mais coreto é perguntar a pessoa o que quer fazer e fazer planos com a pessoa, de forma a que a pessoa se sinta acolhida e que os outros se preocupam com o seu bem-estar.

O saber ouvir é o mais importante é a ajuda mais importante que pode dar a alguém que está sofrendo, muitas vezes não é preciso dizer nada, só estar lá.

 

O luto é composto por diversas fases como a negação (dificuldade em aceitar), raiva (interrogar-se e sentir raiva daquilo lhe ter acontecido a si e não aos outros); negociação (pensar que se fizesse as coisas de uma determinada forma poderia reverter a situação); depressão (tristeza profunda e isolamento); aceitação ( aceita a realidade como ela é e consegue seguir em frente).

 

Estratégias que o podem ajudar nesta fase:

– Começar a escrever um diário sobre como se sente;

– Fazer um álbum de fotografias com as fotos;

– Conversar sobre as memórias boas dessa pessoa;

– Plantar uma arvore;

– Continuar um projeto começado por ele, como voluntariado ou pinturas.

 

Apesar de a pessoa ter partido, podemos recordá-la em pequenos gestos e memórias no nosso dia-a-dia e continuar a celebrar a vida com os que ainda estão presentes. E temos de continuar a viver, dormir bem, comer alimentos saudáveis, fazer atividades com amigos, viajar, de certeza que o nosso ente querido vai ficar feliz de ver que estamos bem.

 

 

Bárbara Cerqueira – Psicóloga Clínica, Membro da Ordem dos Psicólogos Portugueses