A adolescência é uma fase de transição entre a infância e a idade adulta, que conduz a mudanças físicas, cognitivas e psicossociais. Este também é um período propicio a comportamentos de risco.

 

O que são Comportamentos de Risco?

 

Os comportamentos de risco são comportamentos que podem comprometer a saúde física e mental do adolescente. Estes podem ajudar o adolescente a mostrar-se como independente dos pais, a lidar a ansiedade, frustração e antecipação do fracasso.

 

Para avaliarmos se um determinado comportamento é de risco é importante ter em conta o contexto socioeconómico em que o adolescente está inserido.

 

O consumo de substâncias licitas e ilicitas, o comportamento agressivo, a condução, o comportamento alimentar e o comportamento sexual são considerados comportamentos de risco. Estes podem ser considerados de risco quando ocorrerem antes do que seria normal acontecerem. Na lei só é permitido o consumo de bebidas alcoólicas a maiores de 18 anos, mas estudos recentes demonstram que existe um consumo crescente de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas cada vez mais precoce.

 

Fatores de influência nos comportamentos de risco

 

Existem fatores mais favoráveis a ter comportamentos de risco entre os quais podemos salientar:

 

Os Pais

O pais excessivamente permissivos, autoritários ou inconsistentes, podem levar os adolescentes a envolver-se nestas condutas. As famílias disfuncionais, destruturadas, a violência doméstica pode levar o jovem a refugiar-se nestes comportamentos para “fugir” a sua realidade. Os adolescentes que tem uma relação mais próximas com os pais, têm menos tendência a comportamentos de risco. Caso os pais fumem, bebam ou usem drogas os adolescentes podem ser mais influenciados a fazê-lo.

 

Os Pares

Os pares, entre os 10 e os 15 anos os adolescentes começam a sair mais entre si e a deixar os pais de lado “são uns cotas”. Os amigos podem levá-los a experimentar substâncias, que os pais consideram proibidas (drogas e tabaco). Os adolescentes levados pelo entusiasmo e devido a pressão dos pares “Se não o fizeres não és fixe” “eu já experimentei e não me aconteceu nada.” “és um nerd.” Um adolescente cujos melhores amigos fumam, consomem álcool e outras drogas serão mais facilmente levados a experimentar do que aquele cujos amigos evitam as drogas e não estão de acordo com seu uso. Um dos mais poderosos fatores predisponentes ao uso de substâncias é a influência do grupo de iguais.

 

Os meios de comunicação social

Os meios de comunicação social (media, televisão, internet, jogos de computador, consolas e música) tem uma grande influencia nos comportamentos dos adolescentes sendo que 10 a 30% dos atos de violência são atribuídos ao media. Por exemplo, ao ligarmos a televisão vemos vários anúncios de consumo de bebidas de alcoólicas/drogas que são bastante mais apelativos e criativos, dos que são contra esse comportamento, o que leva o jovem a considerar aquele comportamento “normal” e “aceitável”.  Nas novelas, que passam no dito horário nobre, existem personagens que aparecem constantemente com um copo de vinho na mão. Os jovens, ao verem esse comportamento podem considerá-lo normal e que para serem considerados “fixes”, “cools”, devem replicar esse comportamento.

 

Os constantes anúncios de preservativos e as cenas de sexo nas novelas entre adolescentes podem conduzir, o jovem a replicar esses comportamentos principalmente se os pares o incentivarem e levaram-no, a sentir-se excluído se não o fizer. Os desenhos animados que consideramos inofensivos apelam a violência, sendo inadequados para aquela faixa etária.

 

As crianças e os adolescentes ao visualizarem um desenho animado, no qual as personagens ressuscitam constantemente após serem mortas, podem achar que o mesmo acontece na vida real o que conduz a resultados desastrosos, como determinadas noticias “ Criança de 4 anos, dispara arma contra a mãe e fica a espera que ele se levante.” Estudos comprovam que um jovem de 20 anos já assistiu a 25.000 mortes e 20.000 atos de violência associados aos media. Esta violência constante, que passa na televisão, em diversos horários induz a comportamentos e atitudes violentas. Os adolescentes são alvos preferenciais face aos media (televisão, internet, radio, música).

 

 

Os media, a pressão dos pares, os pais, os fatores externos tornam o adolescente mais vulnerável ao consumo de drogas licitas e ilícitas (tabaco, álcool, medicamentos) e ilícitas (cocaína, maconha, crack, heroína, anfetaminas), o que pode desencadear comportamentos violentos. Estes comportamentos, numa primeira vez são apenas de carater exploratório “é só uma vez para experimentar”; “uma vez não faz mal” caso estes comportamentos não sejam monitorizados por um adulto podem ter diversas consequências.

 

 

Causas para o consumo de substâncias

 

A pressão dos pares, imitação, independência, a utilização por familiares, são motivos para consumir substâncias. As empresas publicitarias apostam em anúncios com modelos atraentes e paisagens excitantes para levar os jovens a consumir tabaco e álcool. Os motivos que os adolescentes alegam para consumir álcool são:

  • “Todo o mundo bebe”;
  • “ Eu gosto é divertido”;
  • “ Ajuda-me a relaxar”;
  • “ Tira-me a timidez”;
  • “ Estou mal, serve para me libertar do sofrimento”
  • Stress, ansiedade, depressão e redução de auto-estima.

 

Drogas Licitas

 

Tabaco

 

Os adolescentes, dos 11 aos 15 anos, tem tendência a começar a fumar. 31% dos adolescentes já experimentaram tabaco e 9% consomem-no de forma semanal ou diária. Todas as drogas provocam dependência.

 

Os produtos derivados do tabaco são cigarros, charutos, cachimbo, tabaco de mascar entre outros. O consumo do tabaco é uma das principais causas de morte no mundo inteiro. O tabaco contribui para a redução da ansiedade, do stress tem uma ação antidepressiva, relaxamento muscular, melhoria da atenção e aumento do apetite.

 

Álcool

 

O início do consumo de bebidas alcoólicas é aos 13 anos, sendo o seu uso regular entre os 15 e os 18 anos. O álcool, desde cerveja, vinho e outras bebidas de elevado teor alcoólico, é a droga de maior uso. É considerado uma substância psicotrópica, que atua ao nível do sistema nervoso central sendo o seu consumo admitido e incentivado pela sociedade. O consumo de álcool, é episódico, mas intenso.

 

Nos adolescentes, devido a enorme rapidez de ingestão, normalmente através de jogos como “mão direita é penalti”; “se não beberes és um fraco” pode conduzir a intoxicações alcoólicas. A associação entre álcool e drogas é muito mais grave do que a ingestão isolada de álcool. De acordo com o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, 977 pessoas faleceram devido ao consumo de álcool, 36% foram atribuídos a acidentes e 5% a intoxicação alcoólica. 80% das vítimas de acidentes de viação eram condutores e 14% eram peões. (Diário de Notícias, 30 de Janeiro de 2019)

 

Drogas ilícitas

 

As drogas ilícitas como a cocaína, maconha, LSD, heroína, haxixe, inalantes e opiáceos. O cannabis dá origem a maconha, sendo que as resinas concentradas desta planta dão origem ao haxixe.

 

Os inalantes (hidrocarbonetos voláteis, gasolina, colas de secagem rápida) são produtos que se encontram em casa, lojas e supermercados, sendo que o seu consumo inicia-se na pré-adolescência.

 

A cocaína origina sentimentos de energia, confiança, poder, aumento da auto-estima, diminuição da ansiedade e fobia social. Esta droga também esta associada a melhoria da performance atlética ou académica.

 

Os estimulantes (anfetaminas, bebidas energéticas, cafeina, guaraná, ginseng) são uma droga socialmente aceite, sendo muitas vezes utilizadas para o estudo intensivo nas vésperas de exames académicos (melhoram a concentração, aumento da resistência, performance física) e no emagrecimento (provocam aversão ao alimento e ausência de apetite). Este tipo de droga é de grande utilidade no tratamento do défice de atenção, hiperatividade e narcolepsia. As anfetaminas são uma droga do sistema nervoso central que provoca um aumento das capacidades físicas e psíquicas.

 

No que respeita aos opiáceos e narcóticos, a substância mais usada é a morfina. A morfina é usada por um grupo restrito de adolescentes.

 

O consumo de drogas ilícitas atinge 4.2% da população mundial. Os produtos provenientes do canábis são a marijuana, haxixe e a maconha. A nível mundial, a maconha é das drogas mais consumidas seguida das anfetaminas cocaína e os opiáceos.

 

Concluindo sobre comportamentos de risco 

 

O tabaco, o álcool, e os estimulantes são drogas, consideradas drogas socialmente aceites, mas a longo prazo podem ter diversas consequências, arteriosclerose, enfarte do miocárdio, paragem respiratória, cancros (pulmão, bexiga, cérvix uterina, etc.), mudanças psicomotoras e cognitivas, morte, agravamento das alergias, bronquite e doenças respiratórias e aumenta a probabilidade de violência e de ser vitima de crime.

 

As drogas ilícitas, opiáceos e narcóticos, como a cocaína, a maconha, o cannabis, o LSD, os inalantes (hidrocarbonetos voláteis, gasolina, colas de secagem rápida) podem provocar: alucinações, perda da motivação e interesse na escola; diminuição no rendimento escolar, isolamento, irritabilidade, cancros, distração, problemas de concentração; aumento do apetite e do peso, diminuição na produção de espermatozoides, Hepatite B, SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) e Parkinson Juvenil.

 

 

Comportamento agressivo

 

O comportamento agressivo é o uso intencional da força física, usada contra a própria pessoa, grupo ou comunidade da qual resultam a morte, danos psicológicos, atraso no desenvolvimento ou privação (Organização Mundial da Saúde). Esta definição inclui a violência sexual, os maus tratos infantis, suicídio e outras formas de violência. A violência interpessoal inclui a violência juvenil, os maus tratos a crianças, a violência entre casais na intimidade/namoro, abuso e violência sexual contra as pessoas idosas.

 

Nas escolas, durante a adolescência, o tipo de violência mais frequente são as lutas físicas e o bullying. As lutas físicas acontecem entre adolescentes da mesma idade e com uma força física equivalente. No bullying são ações negativas, físicas ou verbais com o objetivo de hostilizar. Ações repetidas de bullying consolidam a relação de poder entre o agressor e as suas vítimas. As crianças vítimas de bullying enfrentam um conjunto de consequências negativas, sendo estas mais inseguras, ansiosas, tem uma autoestima mais baixa, são mais solitárias, tendo maior tendência em serem rejeitadas pelos pares e serem deprimidas. A depressão pode levar ao suicido. Em Portugal 1 em cada 3 crianças é vítima de bullying.

                                          

Violência no Namoro

 

A violência no namoro é um ato de violência física, psicológica e/ou sexual, no contexto de uma relação de namoro, realizado com a intenção de controlar ou dominar o(a) parceiro(a), colocando em risco a sua integridade física e/ou psicológica. Existem várias formas de violência, desde a:

  • física (empurrar, agarrar, prender, dar estalos, pontapés);
  • verbal (insultar, gritar, humilhar);
  • psicológica (controlar a forma como a outra pessoa se veste, controlar o dia-a-dia da vitima);
  • sexual (obrigar a vitima a ter relações sexuais contra a sua vontade);
  • social (humilhar, envergonhar e denegrir a imagem da vitima perante amigos e familiares).

 

Normalmente os adolescentes iniciam as suas relações íntimas pelos 15 anos, sendo que as primeiras relações de violência podem acontecer no liceu ou na universidade. De acordo com um estudo realizado “Violência no Namoro em Contexto Universitário: Crenças e Práticas”, mais de metade dos 2683 jovens inquiridos referiram que já sofreram pelo menos um ato de violência no namoro. 21, 3% das mulheres e 17,3% declarou ter sido vítima de violência psicológica. Outra das formas de violência psicológica é a ameaça ou chantagem através redes sociais, neste estudo 12,9% das mulheres e 9% dos homens relataram ser alvo deste tipo de violência. (cit in Publico em 13 de fevereiro de 2019)

 

Suicídio

 

O suicídio é uma das principais causas de morte em todo o mundo. O estatuto socio- económico baixo, o nível de educação, problemas nas relações interpares, famílias disfuncionais, abuso físico e sexual, perdas pessoais, depressão, esquizofrenia, perturbações de personalidade, sentimentos de desesperança, baixa autoestima, orientação sexual (homossexualidade) dificuldade na resolução de problemas, exposição ao suicídio de outros adolescentes são considerados fatores de risco para o suicídio. O álcool e o abuso de substâncias aumentam o risco de suicídio. O diagnóstico de uma doença incurável está associado a um maior risco de suicídio.

 

O método mais utilizado na tentativa de suicídio é medicamentoso. Segundo o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, de 977 óbitos, 17% foram por suicídio. (cit in Diário de Notícias, 30 de janeiro de 2019)

 

Condução

 

A condução perigosa é a principal causa de morte entre os 5 e os 24 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde. A maior parte dos acidentes, deve-se a fatores humanos (90%), estando 10% relacionada com as condições da via ou do veículo.

 

Os acidentes ocorrem sobretudo ao fim-de-semana e a noite, sendo que os jovens conduzem de forma diferente e o risco de acidente aumenta, se os passageiros são amigos ou pais. Com amigos os jovens têm tendência a atingir velocidades excessivas, colocando em risco a vida de outros condutores ou peões. Outros comportamentos de risco frequentes são conduzir bêbado, beber e conduzir, ausência de cinto de segurança. A vulnerabilidade para acidentes de viação aumenta com a idade sendo mais elevada entre jovens com 20 e 24 anos. Em 2018, de acordo com a Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária, o número de mortes em acidentes rodoviários foi de 513 vítimas mortais.

 

Comportamento alimentar

 

Na puberdade, a mudança corporal e o peso transformam a imagem mental que o adolescente tem de si próprio, podendo levá-lo a sentir-se estranho com uma imagem proporcional negativa. O desproporcional entre o promovido pelos media e, o seu peso atual podem conduzir a sentimentos de insatisfação corporal. Este sentimento de insatisfação corporal, pode conduzir a comportamentos de risco como ao uso de dietas restritivas e de métodos de controlo de peso (vómitos autoinduzidos, laxantes, diuréticos, atividade física excessiva). Estes comportamentos podem ter como consequência, perturbações alimentares, deficiências nutricionais, sentimentos de frustração e alteração da imagem corporal.

 

De acordo com o Jornal de Noticias (11 de Dezembro de 2018), entre os anos de 2000 a 2014, das 4485 hospitalizações, 2806 tiveram como causa a anorexia nervosa.

 

 

Comportamento Sexual

 

A atividade sexual inicia-se na adolescência ou na pré-adolescência. Os fatores de risco são biológicos, relacionados com a idade e o sexo, sendo que os rapazes revelaram ter mais parceiros sexuais que as raparigas; trabalho/emprego os adolescentes que trabalham estão envolvidos com mais do que um parceiro sexual nos últimos três meses; percepção de risco, os purberes começam a ter noção do risco de contraírem SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) quando se envolvem em atividades sexuais de alto risco.

 

O consumo de substancias psicoativas, o álcool é um fator de risco para o envolvimento com múltiplos parceiros sexuais; inicio precoce da atividade sexual, os jovens que iniciam a sua atividade sexual antes dos 16 anos tem mais probabilidade de ter múltiplos parceiros sexuais; pares e parceiros, os rapazes tem maior atividade sexual com múltiplos parceiros; a escola e a família são fatores protetores relativamente a atividade sexual.

 

Para os rapazes os fatores de risco são ver material pornográfico, transportar uma arma, fumar, percepção de que os amigos já têm atividade sexual, abandono escolar e já estar a trabalhar, para as raparigas os fatores protetores são, a presença do pai na família e a estabilidade familiar.

 

Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)

 

As doenças sexualmente transmissíveis são transmitidas através das relações sexuais, pelo contacto com o esperma e as secreções vaginais. Estas podem ser graves e até mortais. Para evitar as DST é primordial utilizar preservativo, sendo este um método eficaz no contágio e contacto com objetos contaminados (seringas, laminas, transfusão de sangue). As DST são a SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida), o herpes genital, a gonorreia, a sífilis, a hepatite b, a gonorreia, vaginite, tricomanias, condolimas ou verrugas genitais.

 

Dependência

 

A dependência leva a que o jovem, necessite de quantidades cada vez maiores quantidades da substância para ter o efeito pretendido. A mesma substância (ou outra relacionada) é usada para evitar sintomas de abstinência. Devido ao consumo cada vez maior da substância, várias atividades recreativas são abandonadas ou reduzidas em função do consumo da substância. Existe um desejo malsucedido no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância.

 

Apesar do bombardeio de informações a respeito do perigo do fumo, do álcool e das drogas, dos anúncios do excesso de velocidade, do bullying, nenhum adolescente fica imune à influência social e ao fácil acesso. Isto é especialmente efetivo no caso de os pais fumarem. beberem em excesso ou usarem drogas ou terem outros comportamentos de risco.

 

 

Concluindo, é importante para o adolescente ter um bom suporte familiar. Um dos fatores que frequentemente nos esquecemos é de conversar com os nossos filhos, saber o que pensam e como se sentem, valorizar os seus sucessos e reconhecer os fracassos como uma ferramenta de crescimento. Desde pequeno, é importante juntamente com o seu filho definir objetivos a curto e a longo prazo, a nível académico e físico, devido a uma perspetiva de futuro. É muito importante saber quem são os amigos do seu filho, conhecerem os pais e partilharem ideias e saber sempre onde e com quem o seu filho está.

 

 

Bárbara Cerqueira – Psicóloga @WeCareOn