Neste artigo abordam-se algumas questões relacionadas com a depressão no puerpério ou também designada de depressão pós-parto (DPP). Esclarecendo do que se trata, como e quando surge, epidemiologia e prevalência. Quais os sintomas, as suas causas e fatores de risco, comorbilidades ou outras doenças associadas. Diagnóstico e diagnóstico diferencial (diferença entre depressão pós-parto e baby blues). Consequências e/ou impacto da depressão materna na relação mãe-bebé. Por fim, são aclaradas algumas abordagens terapêuticas.

 

 

O que é a depressão pós-parto

 

O conceito de depressão abrange quadros com alterações psicopatológicas diversas. E que podem diferir consideravelmente em relação à sintomatologia, gravidade, curso e prognóstico. Considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a quarta causa especifica de incapacidade social. Comparativamente com outras doenças durante os anos 1990, a previsão para 2020 é de que a depressão será a segunda causa de incapacidade em países desenvolvidos e a primeira nos países em desenvolvimento.

 

A Organização Mundial de Saúde e a Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV) apenas a diferenciam da depressão em geral pelo período temporal em que decorre. Ou seja, a depressão pós-parto encontra-se limitada às quatro/seis primeiras semanas do pós-parto. Porém, existem estudos que mostram a persistência da vulnerabilidade durante os primeiros seis meses após o parto. Assim, a definição de depressão pós-parto poderá ser expandida para incluir casos com início tardio, ao longo do primeiro ano após o parto.

 

A depressão pós-parto (DPP) é um importante problema de saúde pública.

 

Afetando tanto a saúde da mãe quanto o desenvolvimento de seu filho. A manifestação desse quadro acontece, na maioria dos casos, a partir das primeiras quatro semanas após o parto. Alcançando habitualmente sua intensidade máxima nos seis primeiros meses.

 

Prevalência

Os estudos epidemiológicos da depressão pós-parto sofrem de algumas limitações metodológicas, que se devem sobretudo ao facto de a DPP não ser uma categoria de diagnóstico claramente definida (e.g., inconsistência na definição da duração do período pós-parto, que pode oscilar entre 4 semanas e 12 meses pós-parto).

 

De forma geral, os estudos apontam para uma prevalência da depressão pós-parto de cerca de 10-20%. As variações nas estimativas de prevalência devem-se: à diversidade de critérios de diagnóstico depressão pós-parto e métodos diversos, o período temporal em consideração, diferenças económicas e sociais dos grupos estudados.

 

Indicadores de risco ou possíveis causas da depressão pós-parto

Os indicadores de risco relatados para a depressão pós-parto incluem:

Fatores psicobiológicos:

  • história prévia de depressão familiar;
  • história prévia de depressão (fora do puerpério);
  • história prévia de depressão pós-parto;
  • depressão durante a gestação;
  • disforia pré-menstrual e/ou (TPM) transtorno pré-menstrual;
  • alterações do humor devido ao uso de contracetivos orais;
  • gravidez de risco;
  • gravidez não desejada;
  • ansiedade pré-natal;
  • baixa auto-estima;
  • ausência/alienação do companheiro/pai do bebé.

 

 

Fatores psicossociais:

  • preferência pelo sexo do bebé;
  • eventos estressantes durante a gestação;
  • complicações no parto;
  • mãe de recém-nascido pré-termo;
  • complicações de sono no bebé;
  • condição socioeconômica desfavorável;
  • tentativa de interrupção da gravidez;
  • violência doméstica;
  • baixa idade materna.

 

Doenças associadas

Para o clínico a preocupação maior é o diagnóstico diferencial que poderá ser organizado através das seguintes questões:

  • • Será doença orgânica com sintomas depressivos?
  • • Será depressão com sintomas somáticos?
  • • Associação Depressão – Doença orgânica?
  • • Outra perturbação psiquiátrica?

 

A depressão pós-parto refere-se ao desenvolvimento de uma doença depressiva após o parto. E pode constituir parte de uma doença bipolar ou geralmente, uma doença unipolar. A depressão pós-parto não é reconhecida pelos sistemas de classificação atuais – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5ª edição) (DSM-V) – como uma doença em si, mas o início de um episódio depressivo nas 6 semanas do pós-parto.

 

Logo, no sentido geral, episódios depressivos que ocorrem até 6 meses após o parto podem ser considerados depressão pós-parto. Contudo, é possível a sintomatologia desenvolver-se mais tarde, durante o primeiro ano de vida do bebé, até 12 meses, tratando-se de uma depressão pós-parto tardia.

 

Depressão, melancolia e psicose pós-parto

Para que se possa estabelecer o diagnóstico de depressão pós-parto, é importante distinguir esta condição clínica da melancolia pós-parto e da psicose pós-parto.

 

O que é a melancolia pós-parto

A melancolia pós-parto é uma condição clínica comum (estimativas de incidência de 40 a 80% das mulheres), transitória e benigna, que habitualmente ocorre nos primeiros três a cinco dias pós-parto e tem uma duração limitada. Pela frequência com que ocorre, a melancolia pós-parto é considerado parte da reação normal ao pós-parto.

 

Entre os sintomas mais frequentes da melancolia pós-parto, encontra-se o:

  • humor disfórico;
  • choro fácil;
  • irritabilidade e labilidade emocional;
  • ansiedade:
  • e perturbação do sono.

 

A melancolia pós-parto não altera a capacidade funcional da mulher, nem requer tratamento profissional. No entanto, a psicoeducação sobre a elevada prevalência e natureza transitória e benigna desta condição clínica pode ser útil, não só para a mãe como para a família. É importante aliviar a mãe dos sentimentos de culpa e frustração que podem advir do facto de não se sentir feliz, enquanto mãe. Apesar de a sintomatologia de melancolia pós-parto desaparecer alguns dias após a sua ocorrência, quanto mais severos forem os sintomas neste período temporal, maior a probabilidade de a mulher vir a desenvolver depressão pós-parto.

 

O que é a psicose pós-parto

A DPP também deve ser distinguida da psicose pós-parto ou psicose puerperal, que é uma condição clínica rara (estimativas de incidência na ordem dos 0.1% a 0.5%) e aguda. E que geralmente ocorre nas duas primeiras semanas após o nascimento do bebé. As psicoses puerperais caracterizam-se por um surto psicótico e são frequentemente acompanhadas pelos seguintes sintomas:

  • desorganização de pensamento;
  • comportamentos bizarros;
  • falta de insight;
  • delírios de referência;
  • perseguição, de ciúme ou grandiosidade;
  • perturbação sensorial;
  • e autonegligência.

 

O risco de suicídio nas mulheres com psicose puerperal é muito elevado e, atendendo ao quadro psicótico em curso, considera-se que os filhos das mulheres afetadas por esta condição clínica se encontram em particular risco. Quer por negligência/incapacidade de prestação de cuidados, quer pela influência das alucinações/delírios. Do ponto de vista de tratamento, a psicose puerperal requer tratamento psiquiátrico e hospitalização.

Na Tabela 1 apresenta-se informação síntese das principais características distintivas das três condições clínicas.

 

sintomas depressão pós-parto
TABELA 1. CARATERÍSTICAS DISTINTIVAS ENTRE MELANCOLIA PÓS-PARTO, DPP E PSICOSE PUERPERAL. Fonte: Adaptado de Epperson & Ballew, 2006.

 

Diagnóstico

Do ponto de vista de diagnóstico, o DSM-IV e o DSM-IV-R não distinguiam as perturbações de humor que ocorrem no período pós-parto as perturbações de humor que ocorrem noutros períodos. Quando a sintomatologia depressiva ocorria nas primeiras quatro semanas após o parto, era utilizado o especificador “com início no pós-parto”. Na DSM-5, a única modificação foi a inclusão do especificador “com início no periparto”.

 

Isto para incluir as perturbações depressivas que se iniciam durante a gravidez ou nas primeiras quatro semanas pós-parto. Ou seja, a depressão pós-parto não é considerada uma categoria de diagnóstico independente no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria [APA].

 

Contudo, tendo em conta a prevalência de episódios depressivos no período pós-parto que se iniciam depois do primeiro mês após o nascimento do bebé, este especificador não parece constituir o limite temporal adequado para determinar a ocorrência de DPP.

 

Além disso, a depressão pós-parto parece também incluir outras categorias de diagnóstico consideradas na DSM-5. Como a depressão minor (que é similar à perturbação depressiva major em termos de sintomatologia, mas requer a presença de apenas dois a cinco sintomas depressivos) ou a perturbação de adaptação com humor deprimido (que se caracteriza por sofrimento marcado e limitações no funcionamento habitual, em reposta a um acontecimento indutor de stress bem identificado.

 

Apresentamos os critérios de diagnóstico do Episódio Depressivo Major, de acordo com a DSM-5:

 

 

A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. Nota: não incluir sintomas nitidamente devidos a outra condição médica.

1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo. (e.g., sente-se triste, vazio, sem esperança) Ou por observação feita por outras pessoas (e.g., parece choroso);

2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas);

3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (e.g., uma alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase todos os dias;

4. Insónia ou hipersónia quase todos os dias;

5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outras pessoas, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento);

6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;

7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente);

8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outras pessoas);

9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente, sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.

 

B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

 

C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica.

 

D. A ocorrência do episódio depressivo major não é mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo, esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado.

 

E. Nunca houve um episódio maníaco ou um episódio hipomaníaco.

 

 

Depressão pós-parto sintomas

 

Como referimos anteriormente, a depressão pós-parto não apresenta uma fenomenologia específica, sendo clinicamente similar, em termos de sintomatologia, a depressões ocorridas noutros períodos da vida (e.g., humor disfórico – tristeza, ansiedade, irritabilidade, fadiga; perturbações de alimentação e do sono; perda de interesse nas atividades diárias). No entanto, parece também existir alguma evidência das especificidades desta condição clínica.

 

Especificamente, as mulheres com depressão pós-parto parecem apresentar:

  • · Maior labilidade emocional (flutuações de humor);
  • · Preocupações exageradas com o bem-estar do bebé e com a sua própria competência parental;
  • · Medo de estar sozinha com o bebé, de sair com ele ou de o machucar;
  • · Sintomas de ansiedade associados à sintomatologia depressiva;
  • · Pensamentos obsessivos (e.g., pensamentos sobre fazer mal ao bebé), reportados em cerca de 20-40% das mães;
  • · Elevado número de queixas físicas (e.g., fadiga, dores de cabeça, falta de apetite) por comparação a sintomas cognitivo-emocionais;
  • · Maiores dificuldades de concentração e tomada de decisão;
  • · Menor probabilidade de ideação suicida (e se esta ocorrer, o suicídio é relativamente invulgar);
  • · Dificuldade em estabelecer ligação com o bebé;
  • · Diminuição do desejo sexual pelo companheiro.

 

 

Tenho depressão pós-parto?

 

A depressão pós-parto é uma patologia subdiagnosticada provavelmente porque as mulheres com depressão são relutantes em discutir os seus sintomas com o seu médico assistente, pediatra ou obstetra. As razões incluem o receio de serem vistas como más mães, medo de serem vistas como ‘malucas’ e o estigma associado com o facto de terem um problema psiquiátrico.

 

Assim, as consultas para avaliar o bem-estar do bebé no pediatra e as visitas pós-parto no obstetra, são oportunidades para a deteção de depressão pós-parto. Muitas mães visitam o seu obstetra quatro a seis semanas depois do parto para um exame de saúde geral e revêm as opções de planeamento familiar. Nestas consultas, é importante o rastreio sistemático para a depressão pós-parto.

 

Nos cuidados médicos existem muitas barreiras para o rastreio de patologia psiquiátrica. Estas barreiras podem ser centradas no paciente (custo, falta de apoio/tempo, estigma social, etc.), centradas no médico (falta de tempo, falta de treino/conhecimento, receio de repercussões legais) e, por fim, barreiras ao nível do sistema de saúde (fraco acompanhamento das mães, falta de objetivos e separação dos Cuidados Primários dos Serviços de Saúde Mental).

 

Rastreio para depressão pós-parto

Alguns médicos de família referem fazer sempre ou ocasionalmente o rastreio para depressão pós-parto nas suas consultas, contudo apenas uma minoria utiliza os métodos de rastreio válidos.
O profissional de saúde (médico de família, ginecologista ou obstetra e também o pediatra) que acompanha em consulta a mulher no pós-parto (a recém mamã e o seu recém-nascido), ao reconhecer sinais depressivos, deve encaminhar para um profissional de saúde mental (psicólogo ou psiquiatra) a fim de avaliar e diagnosticar a existência de depressão pós-parto o mais precocemente possível. No Quadro 1 que se segue, pode observar-se uma escala (EPDS) de autoadministração que permite o rastreio da DPP.

 

 

escala de depressão pós-natal de Edimburgo
QUADRO1. ESCALA DE EDIMBURGO (EPDS). Fonte: Ibiapina et. al., 2010, p. 162.

A EPDS – escala de depressão pós-natal de Edimburgo – é a forma de rastreio mais extensivamente usada, com um valor psicométrico elevado. Este método é usado geralmente nas 4 a 6 semanas pós-parto. Também poderão ser usadas para rastreio o Beck Depression Inventory (BDI) e General Health Questionnaire (GHQ). Solicite a sua avaliação no nosso site.

 

Depressão materna e as suas repercussões/consequências

 

A literatura analisada, que serviu de base ao presente artigo sugere que:

  • Mulheres com depressão pós-parto, têm maior dificuldade em iniciar a lactação e de fazê-la de maneira exclusiva, com menor duração e maior interrupção;
  • Adolescentes filhos de mães com depressão não-tratada têm comportamentos desviantes, agressivos/violentos, maior impulsividade e maior probabilidade de desordens médicas e psiquiátricas.

 

Vários estudos longitudinais descrevem efeitos negativos da depressão pós-parto na relação/interação da mãe com o seu bebê e impacto no desenvolvimento infantil. Esses efeitos são sobretudo evidenciados no desenvolvimento: socio-emocional (através da insegurança, da baixa sociabilidade, etc.); cognitivo-comportamental (transtornos de atenção, da linguagem, dificuldades de aprendizagem, além de apresentarem mais distúrbios comportamentais).

 

Alguns investigadores indicam os filhos de mães deprimidas, tem uma probabilidade de 29% para desenvolverem perturbações emocionais e comportamentais, comparada com apenas 8% dos filhos de mães não deprimidas.

 

Mães deprimidas falam e brincam menos com os seus bebés, apresentam um humor triste, sorriem menos, estabelecem menos contato ocular e tem mais expressões de tristeza.

 

Bebés de mães deprimidas demonstram uma interação mais pobre não só com as mães, mas também na interação com outras pessoas. Apresentam menos comportamentos de exploração, atraso no desenvolvimento e baixo peso. Estes bebés também mimetizam, ou seja, imitam o semblante materno, expressando no seu olhar mais tristeza, mais desagrado, mais protesto, mais choro, menos conforto no contato e toque.

 

Estas crianças apresentam maior risco de distúrbios do apego (isto é, um distúrbio da vinculação às suas mães) e alterações da atividade cerebral, mas também, de desordens afetivas, comportamentais, sociais e cognitivas, autoimagem negativa, afeto negativo, baixa autoestima e maior incidência de diagnóstico psiquiátrico (humor deprimido, depressão, ansiedade, entre outras).

 

NOTA

As alterações da atividade cerebral desenvolvem-se devido à (negligência no cuidado físico e afetivo) falha persistente/ continuada na manipulação/cuidado do bebé nos primeiros meses de vida, principalmente na falha do olhar responsivo/contingente da mãe (cuidadora) e de um falar com o bebé que contribua positivamente para o desenvolvimento adequado de conexões neuronais e afetivas.

 

 

Alguns autores salientam o carater conflituoso da experiência da maternidade. Tais aspetos devem-se há necessidade de reestruturação da identidade da recém mamã, pela integração de um novo papel, o materno, ocorrendo uma reelaboração dos esquemas e pensamentos a cerca de si mesma e para os quais concorrem, ou há interferência, da sua vivência pessoal e história relacional com a sua própria mãe. Ou seja, o nascimento de um filho, e em especial do primeiro, (re)ativa vivências internas de si mesma na sua relação/interação com os seus pais e principalmente com a sua mãe. Daí que seja um momento propício ao aparecimento de problemas emocionais, como depressão, psicose pós-parto e manifestações psicossomáticas.

 

Depressão pós-parto tratamento

O tratamento da depressão pós-parto engloba 3 fases:

Aguda

É a fase inicial que dura aproximadamente 2 a 3 meses. É a mais exigente, que corresponde ao início da relação médico-doente, onde o clínico deve ponderar o risco de suicídio ou outras co-morbilidades resultantes da depressão, controlar o resultado da terapêutica e seus possíveis efeitos secundários.

 

Continuação

Procede a fase aguda, vai até aos 6 meses. Importante para a consolidação de melhorias e para a redução de sintomas de depressão.

Manutenção

Após 6 meses. É uma fase importante para aqueles doentes que apresentam risco elevado de recorrência de episódios depressivos.

 

Qual a melhor abordagem terapêutica para a depressão pós-parto?

Existem diversas abordagens terapêuticas: psicoterapia e psicofarmacologia. Outras alternativas, especialmente para as mulheres que não desejam utilizar medicações ou que não tenham acesso a acompanhamento psicológico, são a atividade física e a suplementação com ácidos gordos (Ômega-3 e Ômega-6)*. Ensaios clínicos randomizados conduzidos na Austrália, avaliaram como benéfica a prática de atividade física na depressão pós-parto, especificamente a caminhada, pelo menos 30 minutos de duas a três vezes por semana, podendo ser uma opção a ser trabalhada (IBIAPINA ET. AL., 2010, P. 164). Esclareça-se sobre a possibilidade de acompanhamento e treino físico com o personal trainer da WeCareOn Tiago Campos.

 

Psicofarmacologia – Fármacos para o tratamento de doenças psíquicas

No caso da depressão pós-parto, tal como no tratamento farmacológico de uma depressão em geral, visa o uso de antidepressivos (geralmente IRSs – antidepressivos classificados como IRSs ‘inibidor da recaptação de serotonina – ou ATCs – antidepressivos tricíclicos). Vários foram os ensaios clínicos efetuados para se avaliar a eficácia do tratamento medicamentoso para depressão pós-parto. Um estudo comparou a eficácia da paroxetina com Grupo Controle (placebo) em 70 mulheres, evidenciando a superioridade da paroxetina na remissão da depressão, embora tenha havido melhora em ambos os grupos.

 

Quando se utilizou fluoxetina, comparando o esquema de 20 mg/dia mais seis sessões de terapia, fluoxetina (20 mg/dia) mais uma sessão de terapia, placebo mais seis sessões de terapia ou placebo mais uma sessão de terapia, por 12 semanas (n=87), demonstrou-se que a redução dos sintomas de depressão foi maior com o uso de fluoxetina.

 

Estudo comparando sertarlina e nortriptilina em 109 mulheres, durante oito semanas, considerou efetiva a remissão dos sintomas em ambos os grupos, sem efeitos adversos nos recém-nascidos. Quando se comparou paroxetina (12 semanas) com paroxetina mais terapia cognitivo-comportamental (12 sessões), ambas abordagens foram eficazes, sem diferenças significativas entre os tratamentos.

 

Quando foi estudada a utilização de citalopram, este mostrou ser mais eficaz quando esteve associado à psicoterapia do que sozinho.

 

Uma preocupação evidente quanto aos antidepressivos é a possibilidade de efeitos indesejáveis sobre os recém-nascidos.

 

Os possíveis efeitos destas medicações sobre os lactentes (irritabilidade, sedação, baixo ganho de peso, desmame) versus os desfechos negativos sobre o desenvolvimento das crianças de mães não-tratadas para a depressão pós-parto devem ser levados em consideração.

 

Além disso, avaliar a menor dose necessária para o controle da sintomatologia, bem como o ajuste gradual, sempre monitorando os efeitos adversos nos lactentes.

 

Uma análise dos níveis dos antidepressivos nas mães e lactentes mostrou que a sertralina, a paroxetina e a nortriptilina não foram relacionadas a níveis séricos elevados, os quais estiveram mais relacionados com fluoxetina e citalopram.

 

Salienta-se que as consequências sobre o desenvolvimento cognitivo, motor, neurológico e comportamental de crianças expostas a antidepressivos durante a lactação não estão ainda bem determinadas.

 

Risco-benefício

A avaliação do risco-benefício no tratamento de mulheres que estejam a amamentar inclui o conhecimento dos riscos para as crianças da exposição a uma depressão não tratada, a eficácia da medicação antidepressiva e o conhecimento dos riscos em expor as crianças a esta medicação. A exposição da criança à medicação pode ser minimizada se a amamentação for realizada antes da dose diária do fármaco e se a amamentação for evitada na altura em que a concentração deste no leite materno é máxima. É preciso ter em conta que este momento de concentração máxima é variável de acordo com a farmacocinética do antidepressivo usado.

 

A sertralina, a paroxetina e a nortriptilina geralmente não são detetáveis no soro da criança e não há dados que refiram presença de efeitos adversos com o uso destes.
Tem sido referida uma maior probabilidade de encontrar alguma concentração de fármaco no soro da criança com o uso da fluoxetina e citalopram.

 

Assim, não há indicação clínica para que a maioria das mães tratadas com ISRSs e ATCs suspendam a amamentação.
A administração de fármacos antidepressivos não está contraindicada durante a amamentação. Devendo realçar-se que a exposição da criança a uma depressão moderada/grave terá, certamente, piores consequências que a sua exposição aos fármacos.

 

Ocasionalmente deve ser realizada a monitorização da concentração de fármaco no lactente. Uma vez alcançada a remissão completa dos sintomas, a terapia deve ser continuada por pelo menos seis meses a fim de prevenir recorrências.

 

Psicoterapia – Técnicas específicas para o tratamento de doenças psíquicas

Saliento desde já, que uma das vantagens da psicoterapia no tratamento da depressão pós-parto é a ausência de contraindicações e uma segurança provavelmente maior do que medicações antidepressivas para mulheres que estão a amamentar.

 

No âmbito das PSICOTERAPIAS, recomendo as que reconheço experiencialmente com resultados comprovados, como sendo das melhores modalidades terapêuticas na resolução de perturbações emocionais, afetivas, relacionais, comportamentais, e ainda da personalidade: a TERAPIA EMDR, e o BRAINSPOTTING.

 

Serão sumariamente explanadas por forma a compreender de que se trata e como são aplicadas. Sempre por psicólogos ou psiquiatras especialistas em psicoterapia. Pelo que pode e deve requerer a credenciação (Cédula) do profissional que administra o tratamento.

 

O que é a terapia EMDR?

 

A terapia EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) foi desenvolvida por Francine Shapiro (Ph.D.) nos Estados Unidos, em 1987. É ancorada em estudos da neurociência, aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e recomendada pela American Psychiatric Association (APA), como um tratamento extremamente eficaz para pessoas (crianças ou adultos) que viveram experiências traumáticas.

 

Consiste numa intervenção breve e focalizada no reprocessamento e dessensibilização de memórias passadas relacionadas com o trauma emocional e/ou com a ansiedade. Está indicada para o tratamento de:

  • transtorno de stress pós-traumático;
  • depressão;
  • ansiedade;
  • pânico;
  • compulsões;
  • hiperatividade;
  • medos e fobias;
  • dor;
  • entre outros.

 

Também é útil para uma variedade de problemas emocionais, relacionais e comportamentais.

 

O que acontece no cérebro?

A memória traumática permanece inalterada principalmente no hemisfério direito, responsável pela regulação das nossas emoções. Não existindo uma comunicação com o hemisfério esquerdo, o responsável pela objetividade e pela racionalidade. Sendo o hemisfério esquerdo que terá as estratégias necessárias para transformar e reatribuir um novo significado à experiência emocional. E assim diminuir a ativação da memória passada, permitindo-lhe permanecer no passado e não no presente.

 

Procedimento da terapia EMDR

A terapia EMDR através da estimulação bilateral ajudará a que esta comunicação entre os hemisférios seja restabelecida e possa ocorrer o reprocessamento e dessensibilização de memórias passadas relacionadas com o trauma emocional e/ou com a ansiedade resultante da experiência emocional traumática.

A estimulação bilateral é conseguida através da utilização do movimento alternados dos olhos (estímulo visual). Podendo também ser alternado com o uso de estímulos sonoros e/ou tácteis.

 

O que é o Brainspotting?

É um método de tratamento focalizado. Que funciona identificando, processando e libertando fontes neuropsicológicas de dor física e emocional. Como traumas, dissociações e outros sintomas, tais como os de ansiedade e pânico.

O Brainspotting (BSP), foi desenvolvido por David Grand, Ph.D. E funciona como uma ferramenta neurobiológica, chegando a experiências e sintomas que normalmente estão fora do alcance da mente consciente. Simultaneamente é considerado, como uma forma de diagnóstico e de intervenção. O seu efeito é intensificado com o uso de sons bilaterais que oferecem contenção e controlo ao paciente.

Trabalha-se com o cérebro profundo e com o corpo através do acesso direto ao Sistema Nervoso Autónomo e Límbico. Como tal Brainspotting é um método de tratamento que tem resultados psicológicos, emocionais e físicos.

 

Como funciona?

Um brainspot (ponto específico no cérebro) é a posição ocular relacionada com a ativação energética e emocional de um tema perturbador. É localizado através da posição ocular, e corresponde a um subsistema fisiológico que armazena a experiência perturbadora em forma de memória.

 

Quando um brainspot é estimulado, o cérebro profundo assinala (mostra) de forma reflexa ao terapeuta que foi localizado uma área significativa. Gestos ou expressões faciais reflexas são exemplo de poderosos indicadores de brainspot.
O foco de atenção estimula um processo profundamente integrador e curativo d(n)o cérebro.

 

Quais as vantagens?

RÁPIDA EVOLUÇÃO: observam-se mudanças a partir da primeira sessão de terapia.
MUDANÇA DO ESTADO GLOBAL: devido à sua intervenção focada de consciências trabalha e altera diretamente o sintoma apresentado.
FISIOLOGIA: havendo equilíbrio orgânico (cérebro e corpo), a perceção corporal melhora e são otimizados os recursos corporais.

Reconhece a capacidade inata do corpo de se automonitorizar. Isto permite o processamento e a libertação de áreas (sistemas) que se encontram em desequilíbrio. Incluindo ainda a possibilidade de reduzir e/ou eliminar a dor física, e a tensão associada a perturbações psíquicas e físicas.

 

Outras indicações

Pessoas de todas as idades podem usufruir dos BENEFÍCIOS do Brainspotting tanto para a terapêutica como para a otimização do desempenho. Além da elevada eficácia nas Perturbações de Ansiedade e de Pânico, pode ser administrado em casos de:

 

 

Como prevenir a depressão pós-parto?

As intervenções preventivas para a depressão pós-parto são intervenções psicossociais (e.g., aulas de preparação para o parto, visitas a casa por profissionais de saúde). Ou psicoterapêuticas, iniciadas durante a gravidez ou no início do período pós-parto.

 

Se tiver alguma dúvida contacte-me através do meu perfil:

Liliana Pena – Psicóloga, psicoterapeuta e supervisora clínica da WeCareOn

 

 

 

Nota: Este artigo reúne informação de diversos artigos científicos sobre o tema. Principais referências: Schwengber e Piccinini (2003), Carlesso e Souza (2011), Moraes, et al (2006), Ibiapina et al (2006).

* Camilla M.M. da Rocha Gilberto Kac. High dietary ratio of omega‐6 to omega‐3 polyunsaturated acids during pregnancy and prevalence of post‐partum depression. Revista Maternal & Child Nutrition. Vol.8, nº1, 2012, pp. 36-48.
Sobre a importância da suplementação com ácidos gordos (Ômega-3, 6, 9) Ver também: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/68771/2/39793.pdf