É frequente na literatura, nos filmes românticos, quando se fala de amor romântico as personagens depois de algumas peripécias, encontrarem a sua cara metade, isto é, a sua meia laranja e viverem felizes para sempre. Mas na maioria das vezes não costuma ser assim tão simples.

No dia a dia de prática clínica, muitas vezes sou procurada ou porque a relação atual não é satisfatória, ou porque existiu traição, ou porque a relação terminou… entre outras variadas questões complexas do relacionamento humano.

Como Psicóloga Clínica deparo-me muitas vezes com quadros de repetição de tipos afetivos pelo qual seria melhor não se apaixonar. São, portanto, aqueles que causam muito sofrimento ao outro e muitas vezes a si próprio.

Na necessidade de os identificar, Riso (2012) no seu livro “Amores Altamente Perigosos” identifica e descreve oito estilos afetivos, mais difíceis de conviver e mais difíceis de tolerar. Na descrição de um tipo, não quer dizer que não seja possível a mesma pessoa ter características dos vários tipos ao mesmo tempo.

 

“Amor atormentado”

 

As pessoas que se agrupam neste estilo, normalmente, são aquelas que, por exemplo, nunca estão satisfeitas a nível afetivo. Ou seja, ao início de cada relação amorosa são pessoas que sentem uma paixão frenética, sem controlo e que de repente terminam o relacionamento de forma drástica.

Amar uma pessoa com este tipo de amor atormentado é como ser arrastado por um ciclone. Quer isto dizer que a pessoa quer sempre ser o centro das atenções, é muito emotiva e apresenta sempre comportamentos sedutores. Por norma são pessoas muito vaidosas, que cuidam exageradamente do seu aspeto físico.

Para estas, seduzir pode ser mais estimulante do que ter sexo. De tanta chamada de atenção, por via geralmente do drama, estas pessoas acabam por cansar os parceiros, pois a vida destes deve gerar à volta deles, mas o amor nunca é sentido como suficiente.

É muito fácil ser seduzido por este tipo afetivo, as presas fáceis são aquelas que mais necessitam de apoio e/ou erotismo e aquelas que são mais ingênuas, pois acreditam num amor eterno numa só noite.

Nesta obra de Riso (2012), dá alguns exemplos que podem servir para identificar este tipo de amor, tais como:

– Atraentes na sua maneira de falar e vestir;

– Dizem sempre o que o outro quer ouvir, normalmente elogios;

– Não são discretos;

– Dizem com muita frequência e com ligeireza – Que é a noite da vida deles; Nunca conheceram alguém assim; E que são uns sortudos por conviver com tal pessoa…

 

“Amor desconfiado”

 

Neste tipo de amor, a paranoia e o controle sobre o companheiro/a é a principal característica. É, portanto, frequente, a confirmação de chamadas telefónicas, perseguições, inspeção aos recibos de despesas, contas bancárias…

Estas pessoas estão sempre desconfiadas. A desconfiança transforma-se num modo de vida.

Geralmente, os seguidores do amor desconfiado denunciam-se quando, por exemplo: Recusam responder a perguntas relacionadas com a sua vida; quando analisam a sua comida e bebida com atenção; quando tentam saber tudo da vida do parceiro ao pormenor, para descobrir algo duvidoso; Não bebem bebidas alcoólicas para não perderem o controlo…

Os parceiros deste tipo afetivo utilizam duas estratégias para lidar com eles, ou submetem-se ao interrogatório ou insurgem-se contra as constantes acusações.

 

“O amor subversivo”

 

Este tipo afetivo é passivo-agressivo. É, assim, um amor conflituoso, amargurado e dependente.

Ou seja, é um conspirador da relação.

Neste tipo, geralmente é aquele/a que propõe mais do que faz, raramente tomam iniciativa e quando o fazem arrependem-se. Isto é, não atendem o telefone, não comparecem aos compromisso e quando vão, chegam sempre atrasados.

Gostam de pedir favores, mas não os fazem a ninguém. Por outro lado, quando se referem aos outros, os seus comentários são sempre negativos e desagradáveis.

Geralmente nunca se pode contar com ele quando mais se precisa.

 

“Amor egoísta”

 

Estes tipos de pessoa do amor egoísta, acham-se únicas e especiais. São o que, o que chamamos de pessoas narcísicas. Além de se sentirem especiais e únicas também se consideram grandiosas, o centro do universo, e consideram, ainda, os outros como seres inferiores.

É aquela pessoa que, quando questionada sobre o que sente diz: “ Amo-te de verdade, porque me admiras”.

Uma das maiores dificuldades é colocar-se no lugar do outro, visto que vive obcecado pelas suas necessidades e sentimentos. São muito hábeis na arte da manipulação. Os Narcísicos são aqueles que, por exemplo, nunca respondem com um “Não sei”; exibem frequentemente a marca da roupa, das joias, do relógio, dos sapatos e o que possuem é sempre o melhor. Por outro lado, em relação às amizades mostram interesse pelas pessoas com estatuto social.

Atenção porque são muito hábeis em descobrir os pontos fracos dos outros e quando têm oportunidade usam-no ao seu belo proveito.

 

“O amor perfeccionista”

 

O amor perfeccionista é praticado pelo que denominamos de Obsessivo-Compulsivo. Este tipo afetivo cultiva o controlo. Ele controla, organiza, estabelece regras, e ordena. Ou seja, vive preso aos pormenores. Está sempre atento aos seus erros, encontra sempre mais lacunas que qualidades. É uma pessoa moralista e não suporta que as coisas não estejam no seu lugar habitual.

O Obsessivo tem boas qualidades, gosta de trabalhar, manter a ordem, costuma ser fiel aos seus princípios e valores, é frontal. O problema é levar essas qualidades até ao limite, ao excesso, são muito inflexíveis, tornando a  convivência difícil.

 

“O amor violento”

 

O amor anti – social ou o chamado anti amor.  Este tipo afetivo tende a violar as normas sociais, são incapazes de reconhecer os direitos dos outros, aliás os outros para eles, são vistos e tratados como objetos.

Está com alguém porque de alguma maneira satisfaz as suas necessidades básicas, pois é incapaz de possuir qualquer compaixão pelo outro.

É aquele que não aceita um NÃO como resposta.

Gostam de mostrar o seu poder e pouco interesse pelos pensamentos e sentimentos dos outros.

Quando sentir um misto de atração e medo e a sensação de que é um objeto, pode começar a desconfiar que está perante um ser anti – social.

 

“O amor indiferente”

 

Este tipo afetivo caracteriza-se pela indiferença, pela ausência emocional, aqui o amor não entra. Este tem uma ânsia por liberdade e por isso também, é tão difícil o convívio com ou outros, pois qualquer laço afetivo é sentido como uma ameaça.

Quando mais amor o parceiro demonstrar, mais este se afasta. A maioria sofre de Alexitimia, que consiste na incapacidade de sentir e exprimir afeto.

São pessoas que se isolam e afastam-se quando sentem que podem vir a ter um compromisso ou quando sentem a possibilidade de uma ligação afetiva.

O outro sente a indiferença daquele que ama, sente-se rejeitado. Namorar com este tipo é muito difícil e sofrido, pois quando mais se aproximar deste tipo, mais ele se afastará de si; quanto mais amável for, mais distante será o seu comportamento. Ele basta-se a si mesmo.

 

“O amor caótico”

 

Neste tipo de amor, a pessoa é impulsiva, contraditória, emocionalmente instável, insegura, autodestrutiva. Ela ama e dali a pouco já odeia. Vivem no limite, são instáveis. Quem vive um relacionamento assim, sente que vive no fio da navalha, vive uma experiência avassaladora. São pessoas que misturam sexo, extravagância e emoções fortes. Muitas vezes, os seus parceiros queixam-se de tamanha instabilidade, sentem desconforto e falta de paz interior.

 

 

Com tudo isto, não quero dizer que não seja possível ter um relacionamento amoroso com estes tipos afetivos. O importante é estar consciente que, relacionamentos mais complicados requerem alguma maturidade afetiva, é importante ir devagar, com tempo, observar e ter noção do que é bom para cada um. Cultivar o amor próprio é muito importante em todos os relacionamentos, os difíceis e os menos difíceis.

 

 

“As pessoas pensam que amar é simples, mas que encontrar o objeto de amor certo – ou ser amado pela pessoa certa – é o difícil.” (Fromm, 2008, p.12).

 

Referências Bibliográficas:

 

From, E. (2008). A arte de amar. (2ed). Pergaminho

 

Riso, W. (2012). Amores altamente perigosos. Planeta Manuscrito

 

 

Vilma Ribeiros –  Psicóloga Clínica @ WeCareOn