A adolescência é um período caracterizado por uma grande imaturidade, pela mudança na interação do jovem com a sua família e grupo de pares, e pelas primeiras alterações corporais. Surge, deste modo, a tarefa da individuação e da autonomia. Esta fase é por isso determinante para a construção da identidade do indivíduo.

 

Desta forma, o período da adolescência é marcado por várias transformações e mudanças. Surge a procura de novas experiências e sensações. A impulsividade, que origina a dificuldade do adolescente em ponderar e prever consequências do seu comportamento, e a maior sensibilidade ao prazer imediato, que por sua vez vai facilitar o desenvolvimento a comportamentos aditivos como distúrbios de videojogos.

 

A adição

 

Define-se pela adição à internet o uso problemático e disfuncional da mesma. O que faz com que o indivíduo tenha comportamentos impulsivos, preocupações excessivas e dificuldades psicológicas e sociais. Esta adição tecnológica pode desencadear comportamentos passivos (como ver televisão), ou ativos (como jogar videojogos).

 

Distúrbios de videojogos

 

Recentemente, a OMS reconheceu os ‘Distúrbios de videojogos’ como doença mental na Classificação Estatística Internacional de Doenças. Este transtorno define-se pelo uso persistente e recorrente dos videojogos, frequentemente com outros jogadores, que prejudica seriamente a qualidade de vida do indivíduo.

 

Sintomas dos Distúrbios de Videojogos

 

Para além disso, indivíduos com o distúrbio de videojogos apresentam 5 ou mais dos seguintes sintomas, durante um período mínimo de 12 meses:

  1. Preocupação excessiva com os jogos;
  2. Sintomas de abstinência quando estes lho são retirados;
  3. Vontade de passar cada vez mais tempo a jogar;
  4. Tentativas fracassadas de controlar o tempo que é passado nos jogos;
  5. Uso em demasia de videojogos, apesar do jovem saber o impacto negativo que estes têm na sua vida;
  6. Perda de interesse nas atividades do dia-a-dia;
  7. Uso excessivo e continuado de jogos pela internet (grande dependência);
  8. Mentir acerca do número de horas despendidas a jogar;
  9. Uso de videojogos para aliviar estados de humor negativos (ansiedade, tristeza, culpa, etc);
  10. Colocar em risco o seu rendimento escolar ou relacionamentos, devido à sua participação nos jogos.

 

 

Os psicólogos alertam para ter atenção no diagnóstico deste quadro clínico, visto que este afeta apenas uma minoria das pessoas que se dedicam aos videojogos. Sendo que os distúrbios de videojogos distinguem-se essencialmente pelo número de horas elevado que o indivíduo passa a jogar. Especialmente quando este passa a ignorar outras atividades diárias em detrimento do jogo.

 

Consequências do uso excessivo de videojogos

 

O uso excessivo dos videojogos provoca várias consequências negativas na vida do jovem, que se podem considerar a nível:

Social

Afastamento da sua rede social, e consequente dificuldade em estabelecer relações. O que vai originar por sua vez uma redução no bem-estar psicológico e solidão.

Escolar

Diminuição do rendimento escolar.

Financeiro

Gastos financeiros em novos videojogos e aparelhos informáticos para melhorar o seu desempenho no jogo.

Familiar

A adição a videojogos leva muitas vezes ao aumento de conflitos no seio familiar, e prejuízo nas relações entre membros da família.

Psicológico e da Saúde

Alterações de humor; baixa auto-estima; diminuição da atividade física; maior probabilidade de desenvolver uma doença mental; maior probabilidade de desenvolver obesidade, etc. E em casos extremos, pode mesmo levar à ideação suicida.

 

 

O que está na origem dos Distúrbios de Videojogos?

 

Há várias características de personalidade que tornam o jovem mais propício a desenvolver este tipo de adições.

 

  1. Perceção de falta de competências em algum aspeto da sua vida (por exemplo na escola, quando há maus resultados escolares). Isto pode levar à necessidade de compensar noutras áreas, como no jogo;
  2. Dificuldade em gerir e controlar as suas emoções (normalmente a raiva e a tristeza), e por isso têm a necessidade de expressá-las nos videojogos;
  3. Necessidade de fugir à realidade, que muitas vezes se torna difícil de gerir;
  4. Indivíduos com perturbações de hiperatividade/ défice de atenção são mais propensos a este tipo de comportamentos, pois têm necessidade de gratificação e de prazer imediatos, devido à sua dificuldade em esperar;
  5. Jovens diagnosticados com perturbações de ansiedade, e perturbações depressivas estão em maior risco de desenvolver perturbações aditivas a videojogos;
  6. Por outro lado, o meio que rodeia o adolescente também exerce a sua influência neste tipo de comportamentos. A relação que o jovem tem com os seus amigos, colegas, e familiares tem um papel muito importante nestes casos;
  7. A existência de histórias de vida traumáticas.

 

O papel dos pais

 

Segundo a Psicologia, os pais deste tipo de adolescentes costumam ser pessoas digitalmente distraídas, e distantes emocionalmente (apresentam um carácter mais frio e desprendido). Para além disso, é frequente que nestas famílias haja a ausências de regras e limites. E por isso o jovem tem a necessidade de as procurar por outro meio, nos videojogos.

 

Muitas vezes existe também a inversão dos papéis no seio familiar, onde as figuras de autoridade são os filhos, e não os pais.

 

Por outro lado, os casos de jovens com perturbações aditivas a videojogos também ocorre em famílias onde o horário dos filhos é muito preenchido, estando o adolescente sempre sujeito a uma estimulação contínua.

 

A importância da prevenção

 

É fundamental prevenirmos o desenvolvimento deste tipo de perturbações, e para isso é necessário haver uma percepção de risco. Esta perceção está associada aos contextos socioeconómicos da família, e à história de vida do indivíduo e da família.

 

Desta forma, é aconselhado aos pais:

  • Controlar o número de horas despendidas pelos filhos na utilização da internet e dos videojogos;
  • Definir regras e limites para a sua utilização;
  • Certificar-se que os videojogos online não são a principal fonte de prazer do seu filho;
  • Estimular a participação do filho noutras atividades de lazer, bem como na manutenção de relacionamentos com o seu grupo de amigos;
  • Promover hábitos de utilização de videojogos saudáveis;
  • Sempre que for possível, aconselha-se a ter um computador que seja utilizado apenas para trabalhos da escola, e outro para os videojogos.

 

Como é feita a intervenção psicológica?

 

A abordagem psicológica mais utilizada, e com mais sucesso, no transtorno de videojogos é a psicoterapia cognitivo-comportamental. Isto porque ela visa o controlo de estímulos, a psicoeducação com o adolescente, a psicoeducação com a família, estratégia de auto monitoramento, a restruturação cognitiva, técnicas de resolução de problemas e técnicas de regulação de sintomas de abstinência.

 

Uma vez que, do ponto de vista da psicologia, o jogo é muitas vezes encarado como uma maneira de o indivíduo evitar lidar com certas emoções negativas, na intervenção psicológica vai-se procurar, por isso mesmo, a origem (causa) desses sentimentos. Vêm de experiências de um passado distante, ou recente? Que cognições desadaptadas estão por detrás destes comportamentos? E como podemos modifica-las?

 

Por outro lado, as consultas de psicologia vão ajudar a levar o jovem a ter uma maior responsabilidade pelo seu comportamento, e uma melhor compreensão das consequências da sua dependência.

 

Para além disso, a intervenção psicológica vai também ajudar a combater perturbações psicológicas (depressão, ansiedade generalizada, ansiedade social, etc.) que possam estar associadas a este distúrbio.

 

Desta forma, o acompanhamento psicológico tem-se revelado muito eficaz no tratamento dos distúrbios de videojogos. Pois assim permite combater sintomas de perturbação psicológicas que lhe estão associados e reduzir o tempo gasto pelo jovem nos videojogos.

 

Caso reconheça alguns dos sintomas apresentados acima no seu filho/a, contacte-nos e faremos um diagnóstico e plano de intervenção adequado à sua problemática!

 

Mariana Gomes – Psicologa WeCareOn