Quantos de nós já disseram algumas vezes que sim quando na verdade queriam dizer que não? Será que é uma dessas pessoas? Então este artigo pode ser-lhe muito útil!

 

Em primeiro lugar, interessa percebermos porque é que isto acontece. Para isso, vou pedir-lhe que se recorde da última vez que disse que sim quando na verdade queria dizer que não. Agora que tem essa memória mais viva, vou fazer-lhe algumas perguntas:

 

 

– Quando é que se apercebeu que aceitou algo que não queria?

 

– Quando lhe fizeram a pergunta rapidamente percebeu que não queria, mas não foi capaz de dizer que não?

 

– Ou simplesmente foi espontâneo, dizendo um sim, que depois começou a tornar-se um sim desconfortável, percebendo que na verdade queria dizer que não?

 

Estas são perguntas fundamentais para entendermos o que está na base do nosso comportamento, isto porque podemos dizer que sim porque não conseguimos negar um pedido, ou porque no momento do pedido nem sequer nos apercebemos que aquilo nos era desconfortável. Na primeira hipótese, claramente nos apercebemos daquilo que não queremos, mas sentimo-nos incapazes de lutar por isso. Ou seja, tendemos a focar-nos em agradar o outro (evitando o conflito), valorizamos mais os direitos do outro do que os nossos, porque provavelmente acreditamos que, assim, teremos mais valor e o outro gostará mais de nós.

 

Na segunda hipótese, podemos estar num modo tão automático e pouco habituado a sintonizar-se com as nossas necessidades, que simplesmente dizemos que sim sem sequer perceber. Mais, podemos até ter a crença de que temos que responder rápido a um pedido que nos fazem e que não temos direito a pensar. Aqui, não só não entendemos que somos suficientemente importantes para ter direito a parar e entender o que realmente precisamos, como temos algumas crenças que nos condicionam, como por exemplo, termos que responder logo a algo que nos pedem.

 

 

Em ambas as hipóteses vemos questões de valor próprio que englobam direitos e necessidades. Acreditando termos pouco valor, tendemos a agradar os outros (para não os perdermos) e não damos importância às nossas necessidades e direitos (como o de dizer que não!), os quais são, na verdade, os fatores que mais influenciam o nosso bem-estar. Assim, podemos até agradar os outros e garantir que não os perdemos, mas internamente existirá desconforto que, acumulado, se vai transformando em frustração, ansiedade, tristeza ou até depressão. De que vale então mantermos os outros por perto se nos sentimos angustiados e nem conseguimos aproveitar, de facto, as relações que temos?

 

Passamos então para o segundo lugar que é, após percebermos porque isto acontece, aprender a fazer diferente. Porque só entendendo o que motiva os nossos comportamentos é que conseguimos regulá-los, pois percebemos verdadeiramente as nossas dificuldades.

 

É importante que se saiba que dizer que não é uma competência que se treina, tal como se treina falar em público, por exemplo.

 

Como tal, ninguém nasce com uma capacidade fantástica de dizer que não!

 

Eis alguns passos para começar a treinar a sua capacidade de dizer que não:

 

1 – Mesmo tendo uma imagem mais negativa de si próprio, se se quer sentir melhor, então saiba que satisfazendo mais e melhor as suas necessidades vai ajudar um pouco a mudar as lentes negativas que tem de si. Habitue-se a parar mais vezes ao longo do dia, a observar o seu corpo, a sua respiração, escutando o que o seu corpo lhe pede. Descanso? Afeto? Tempo? Seja o que for, é importante! Faça disso uma prioridade e, assim, irá ficar mais consciente daquilo que lhe importa e do que necessita!

 

2 – Se fica muito nervoso porque tem que se expressar e, por isso, diz logo que sim, saiba que há formas de regularmos o nosso nervosismo. Pratique diariamente uma respiração mais calma e aposte em rotinas que o acalmam e o fazem sentir-se melhor, como o desporto, por exemplo.

 

3 – Entenda que tal como os outros têm os seus direitos, também você os tem, independentemente do estatuto de cada um. Quando falar com alguém, experimente olhar com esta perspetiva de que ambos têm direitos. Tal como o outro tem direito a pedir, você tem direito a não aceitar um pedido, assim como tem direito a ter tempo para responder. Se está confuso, peça tempo para pensar, dizendo que depois dá uma resposta. Algo como “olha assim de repente não consigo responder-te logo, mas deixa-me ver a minha agenda e perceber se me consigo comprometer”.

 

4 – Lembre-se que uma conversa saudável não quer lutas por poder, mas sim um entendimento. Por isso, foque-se em ouvir o outro e compreendê-lo, mas também em explicar o que sente (daí, muitas vezes, precisar de tempo, como é falado no ponto acima). Frases como “Eu compreendo que tenhas alguma pressa com isto tendo em conta que estão pessoas à espera, mas neste momento tenho várias coisas urgentes que me deixam com pouco espaço para me comprometer com mais uma”.

 

5 – Tenha em atenção que um conflito tem simplesmente a ver com pontos de vista diferentes e não propriamente uma guerra. Assim, o conflito para além do entendimento de ambas as partes abre espaço para um acordo. E o que é um acordo? Um compromisso entre duas partes em que ambas cedem. Não tendo tempo já, sugira que poderá olhar para esse pedido daqui a duas semanas, por exemplo. Se o que lhe pedirem for completamente desconfortável e contra os seus valores, tente aproximar o que lhe pedem a um comportamento que tenha mais a ver consigo. Por exemplo “Entendo que para ti seja fácil fazer as coisas assim, mas eu nestas questões tenho algumas dificuldades e prefiro fazer de uma forma diferente. O que achas se fizermos…?

 

 

 

Dizer que não é um direito de todos nós e se sente que não consegue fazê-lo e isso está a comprometer o seu bem-estar, pode sempre lutar por esse direito, pedindo ajuda!

 

 

Inês Chiote Rodrigues – Psicóloga WeCareOn