Você é escravo das suas emoções? Que é o mesmo que perguntar: será você refém das hormonas e dos neurotransmissores?
Na comunidade científica, é comum afirmarmos que muitas das emoções que sentimos, ou designamos, têm a sua origem na mesma fórmula química endócrina. E o que é isto? Já lá vamos.
Ao longo das eras muito se tem dito e escrito sobre as emoções e o papel que as mesmas desempenham nas nossas vidas. Algumas são consideradas como “melhores” e outras como “piores”, mas quanto a isso também já lá vamos. 😉
O que são as emoções?
A palavra “emoção” deriva do latim “movere”, que significa “pôr em movimento”. E isto fala-nos do quê? Da função das emoções, justamente. Da sua natureza de nos pôr ou colocar em movimento. De dentro para fora. Para quê? Para comunicar ao mundo os nossos estados ou necessidades internas.
Todas as emoções seriam úteis, portanto, e por isso foram mantidas no processo evolutivo humano. Acontece porém que, ao longo deste processo, muitas emoções foram perdendo a sua função original e se “adaptaram”, de certa forma (dentro dos possíveis), às novas e mutáveis realidades da “civilização” moderna.
Apesar de não precisarmos mais de correr atrás de búfalos ou matar mamutes para a nossa alimentação, o nosso sistema de luta e fuga continua activo. Os nossos processos somáticos são ainda e praticamente os mesmos do que no tempo das cavernas. Hoje, porém, somos criaturas com respostas emocionais diversas a um leque todo ele também mais abrangente de situações que compõem o dia-a-dia (que não maioritariamente caçar e reproduzir). Porém, por vezes, certas manifestações seriam desnecessárias ou surgem em dimensões ditas desproporcionais à situação vivida (perguntem a alguém com síndrome de pânico ou algum tipo de fobia, por exemplo, se isto faz ou não sentido)…
Procuramos sempre diferenciar de alguma forma as emoções umas das outras e fazemos diversos tipos de associação, relacionando principalmente as sensações orgânicas com uma determinada situação em que estejamos envolvidos. Ou seja, o que acontece é que fazemos uma ligação directa entre a situação, a nossa interpretação da mesma e o que sentimos.
O certo é que cada pessoa – perante uma situação semelhante – pode dar uma interpretação diferente, associando, da mesma forma, intensidades diferentes para a mesma emoção de base (às vezes forte demais, outras vezes, não percebidas adequadamente). Outro facto porém bastante curioso (se não fosse por vezes complicado para algumas pessoas) é que não sabemos nomear as nossas emoções. Algumas pessoas confundem o que estão a sentir num determinado momento.
Já diziam os poetas antigos que as emoções elevam-nos à condição de seres humanos, porém, em alguns casos elas podem assarapantar (e muito) aqueles que não conseguem enquadrar os seus próprios estados emocionais. Uma “complicação” típica para estes casos? Tomarem decisões permanentes em estados emocionais temporários…
Por outro lado, para pessoas com níveis de adrenalina significativos no seu sistema, qualquer emoção é experienciada como “muito forte”. Vários estudos têm demonstrado que, tecnicamente, são as mesmas reacções somáticas/fisiológicas que originam as emoções. Apenas os nomes dados pelas pessoas que as vivenciam são diferentes, por conta das suas expectativas ou interpretações do contexto.
Ora, isto dá-nos bons argumentos para pensar cuidadosamente sobre como devemos reagir da próxima vez que estivermos sob uma forte emoção. Como assim? Pelo seguinte: se a emoção adquire o “corpo” conferido pela interpretação dada a certa “história”, se ressignificarmos o conteúdo, mesmo sem alterarmos a base química da emoção de base, podemos alcançar um novo estado emocional ou sentimento. E atenção que emoções e sentimentos não são a mesma coisa, ao contrario do que a maioria das pessoas possa achar.
Os sentimentos formam-se a partir das emoções. A emoção manifesta-se rapidamente; já os sentimentos são internalizados, racionalizados, e mais tempo. A partir daqui é fácil perceber como quando estamos em estados emocionais alterados dizemos coisas ou tomamos atitudes que (no dia seguinte ou no minuto seguinte) nos arrependemos, por estamos “fora de mim”.
Então, e quanto àquele sentimento que muitas vezes as pessoas têm como tabu? A raiva!? Ela até pode ser uma excelente alavanca, quando bem canalizada, sabia? Só não serve como tal quando é internalizada. Assim, algumas pessoas, por diversos motivos, quando não dirigem de forma adequada a sua raiva, voltam-na contra si mesmos e, nestes casos, na maioria das vezes, as somatizações são inevitáveis. Algumas doenças (como a hipertensão, doenças cardíacas, por exemplo) estão associadas a esta “pressão” de base que se viveu de forma sistemática, quando a pessoa se percepciona como sendo incapaz de alterar qualquer aspecto do exterior, como pretendia.
Todas as emoções foram mantidas durante a evolução por um bom motivo. O medo, por exemplo, é disparado quando há perigo para a nossa sobrevivência.
Sem as emoções poderíamos cometer erros de avaliação e até colocar-nos em risco de morte. Apesar disto, e para evitarmos perdas ou lamentações a longo prazo, devemos sempre ter em atenção a forma como interpretamos os factos, assim que percebermos “emocional” e imediatamente uma situação como sendo negativa.
O nosso corpo entende a realidade da nossa mente. E se a situação despoletar raiva, no imediato, porque não aproveitar a mobilização que essa indignação provoca no organismo? Para quê? Como um combustível de mudanças no mundo externo, de forma a gerir a angústia de forma mais produtiva, e bem assim, para não causarmos danos desnecessários a outras pessoas ou a nós mesmos.
Não existem portanto emoções “más”. Todas formam mantidas, ao longo da evolução, por algum motivo. E em última instância elas existem não para nos destruir ou incapacitar, mas pelo contrário, para nos manterem vivos.
Então, como conhecer e dominar as emoções (ao invés de as ignorar e ser dominado por elas)?
Trabalhado as suas emoções. Nada mais, nada menos do que isso. Trabalhar as suas questões, trabalhar o seu equilíbrio (que é e deve ser um trabalho diário), e que têm a força de procurar melhorar-se e aperfeiçoar-se constantemente, e que querem contribuir para um mundo melhor, tendo a coragem de começar por si.
Todos nós, sem excepção, temos, do ponto de vista da saúde mental, núcleos mais saudáveis e núcleos mais adoecidos.
E o critério para pedirmos ajuda é muito simples: o problema em questão tem ou não tem impacto significativo na sua qualidade de vida?
Por qualidade de vida entenda-se trabalho, os relacionamentos, socialização, sono, vida sexual, apetite e satisfação com a vida de forma geral.
Se é “louco”, doente, ou apenas uma pessoa à procura de fazer o melhor que pode com as ferramentas que têm, sinceramente, isso é o menos importante. Acredito que os rótulos são para as garrafas, não para as pessoas.
De facto, muitas vezes acontecem coisas na nossa vida que nos transcendem e que colocam (e muito) à prova a nossa capacidade para gerir as nossas emoções Às vezes, isso não acontece e somos reféns das mesmas, acabando por nos sentirmos dominados e subjugados elas. Mas se por um lado podemos não ter qualquer controlo sobre algumas coisas que nos sucedem, por outro, temos a liberdade (e por isso a responsabilidade) de decidir a nossa acção.
Nesse sentido, temos sempre uma palavra a dizer não sobre tudo o que acontece, mas sobre o impacto que as coisas têm em nós, na nossa vida mental e nas nossas atitudes.
Por outras palavras: a situação de crise pode conduzir, por vezes, a uma ruptura, ainda que temporária, do equilíbrio mental.
Procurar apoio psicológico é algo que pode e deve ser feito com naturalidade e simplicidade. É normal e faz parte de uma certa rotina de saúde mental. Além disso é – tal como a ciência o demonstra – um passo essencial para conseguirmos lidar de forma mais eficaz (e eficiente) com as nossas próprias emoções (em especial, as ditas emoções “negativas” ou difíceis) para assim nos conseguirmos aproximar daquilo que são os nossos verdadeiros objectivos de vida.
Como um laborioso pedreiro, lapidamo-nos e somos lapidados no processo de viver e, enquanto psicóloga, auxilio o caminho de lapidar-se aos que aceitam o desafio de fazer terapia, de se transformar. E ao longo da vida vamo-nos lapidando e moldando, pois ninguém é o seu nascimento.
É preciso esculpir a criança para se tornar adolescente. É preciso esculpir o adolescente para se tornar um adulto. E é a esculpir o adulto que chegaremos ao idoso… Na constante tarefa de esculpir, lapidamos, aprimoramos, qualificamos o nosso ser em todas as fases da vida. Eis o ciclo da construção de si mesmo, mas sem ilusões que isso é tarefa fácil.
Não é para fracos, no sentido em que não é simples, mas é possível e real, com certeza, e vale cada centímetro do esforço investido para a concretização do trabalho final.
E a verdade é esta: dominar as próprias emoções (em vez de ser por elas dominado) é porventura das tarefas mais difíceis (mas seguramente das mais gratificantes) que uma pessoa pode realizar. E neste sentido, fazer terapia não é um acto de fraqueza ou loucura. É uma demonstração de coragem, lucidez, força e determinação para mudar o que o(a) impede de ser feliz!