O brincar, e principalmente o brincar livre, não dirigido, é fundamental para o desenvolvimento saudável de qualquer criança. E para brincar não é preciso ter brinquedos necessariamente.

A primeira brincadeira da criança começa com a troca de olhar com a mãe ou com o cuidador, isto é, com aquele que verdadeiramente cuida não só das suas necessidades físicas, mas também afetivas, relacionais, de contacto, de diálogo não verbal.

O olhar, o sorriso, o toque, o balançar, o aconchegar, o tom de voz, todos estes são os primeiros brinquedos da criança, os quais sem um ambiente relacional disponível, não têm qualquer função.

Ao mesmo tempo em que descobre o outro, em que aprende a com ele se relacionar, a se comunicar, vai descobrindo também o seu próprio corpo, suas sensações, o tempo, o espaço e os objetos nele contidos.

Tudo é novo, tudo desperta a curiosidade, mas sem a interação prazerosa com o outro, com aquele que apresenta o mundo, objetivo e subjetivo, e deseja que ele seja conhecido, as coisas não ganham nome nem adjetivos, ficam vazias, sem sentido.

A criança quando brinca, mesmo quando sozinha, está atenta ao ambiente social à sua volta. É preciso que este seja seguro, confiável, e que nele exista a presença, mesmo que simbólica, de alguém que ela sabe que por ela se interessa e que não a deixará. Esta certeza é construída dentro da história relacional de cada criança.

A cada fase do desenvolvimento as necessidades do bebê em crescimento vão se modificando e essa capacidade dos pais de responderem adequadamente à dependência, inicialmente absoluta, e cada vez mais relativa, permite à criança ir construindo a confiança em si e no mundo à sua volta.

O medo do abandono não é só o medo do abandono real, físico, mas principalmente do abandono emocional.

Muitas crianças cheias de brinquedos, têm muito de coisas, mas possuem nada em termos de presença, de companhia, de interesse, enfim de qualidade de relação.

Em suma, a possibilidade de brincar na infância é tão importante quanto a boa alimentação. Este brincar deve ser livre e espontâneo, sem estrutura pedagógica, sem conteúdos certos ou errados.

Se nós adultos não suportamos quando as crianças brincam, por exemplo, com temas como a morte, devemos nos perguntar a nós mesmos o porquê, e não calar a livre expressão da criança, que brincando tenta elaborar e compreender questões abstratas e complexas da vida.

É impressionante o poder salutar do brincar. Muitos pais sabem disso intuitivamente, porque também brincaram, outros devido a questões individuais, consideram que é mais importante ocupar a criança com atividades dirigidas ou com coisas, que melhorem suas competências. E este é um grande perigo, pois quando uma criança não tem tempo para ser criança toda a sua performance emocional futura estará comprometida.

O melhor caminho para ser alguém feliz, construtivo, criativo, é desde o princípio ter um outro e outros com quem dialogar, com quem imaginar, com quem brincar.

Façamos isso todos os dias e fica aqui a dica para o Natal que aí vem.

Marcela Alves – Psicóloga