Às vezes desabamos mentalmente, não porque somos pessoas fracas, mas por sermos pessoas fortes! Sofremos demais, estamos muito tempo a assumir muitas responsabilidades. Vamos vencendo, guerra após guerra e só o facto de sermos pessoas fortes, parece que os outros nos impõem a obrigação de jamais termos o direito de fraquejar. Todos sentimos o stress associado às exigências do nosso dia-a-dia, do trabalho e da própria sociedade. E todos precisamos de sentir algum desse stress para nos sentirmos motivados para as tarefas diárias e para que o tédio não tome conta da nossa vida mas, quando este se torna demasiado intenso e prolongado podemos estar à beira de um esgotamento emocional.

 

O que é um esgotamento emocional?

 

O esgotamento emocional é um grande vilão que se não for tratado com seriedade pode dar origem a uma depressão!

Tudo começa de forma discreta e não damos a devida importância, achamos que é apenas cansaço e assim que tivermos um tempo tiramos uma folga para relaxar e tudo ficará bem!

Porém o esgotamento psicológico enfraquece-nos fisicamente e mentalmente. É uma dimensão que surge como um resultado de “muito”: muitas opções, muitos pensamentos intrusivos, muito trabalho, muitas responsabilidades, interrupções, ansiedades … Por sua vez, isso também é um reflexo de muitos “poucos”: pouco tempo de qualidade para si mesmo, poucas horas de sono, pouca calma interior…

 

Todos nós já sentimos este sentimento, este desgaste a todos os níveis. É importante ter em mente que um cérebro cansado, psicologicamente exausto, trabalha e responde a estímulos de outra maneira. Assim, alguns neurocientistas referem que as pessoas mentalmente cansadas têm uma perceção mais negativa da sua realidade e, além disso, são muito mais emocionalmente sensíveis.

 

 

As pessoas que sofrem de esgotamento emocional geralmente sentem que não têm poder ou controlo sobre o que acontece na vida. Sentem-se como que “presos” a uma determinada situação, o que dá origem a falta de energia, dificuldades em dormir e diminuição da motivação para realizar tarefas ou atividades. Com o tempo, esse estado crónico e ansioso causa malefícios permanentes à nossa saúde, podendo originar uma depressão.

 

O Esgotamento Físico, Emocional e Psíquico

 

Todos nós sabemos, muito bem, o que é um esgotamento físico. Sabemos como identificar os sintomas e lidar com o nosso corpo a não pode dar mais de si mesmo e requerer um descanso. No entanto, por mais curioso que possa parecer, o esgotamento emocional não é tão fácil de identificar. Além disso, não sabemos como oferecer uma resposta efetiva, uma estratégia de coesão psicológica útil e eficaz. O que fazemos muitas vezes é “engolir” uma emoção após a outra, sem estarmos cientes do seu peso e de como estas emoções afetam nosso bem-estar e a nossa qualidade de vida.

Esgotamento mental e emocional

O esgotamento emocional pode ser, simultaneamente, físico e psíquico. Há um grande cansaço, acompanhado por uma sensação de vazio e pela dificuldade em lidar com as emoções. Ou seja o esgotamento emocional acontece quando sentimos que esgotaram os nossos recursos emocionais e psicológicos.

Muitas vezes, surge após um período conturbado ou associado a um problema atual que não está a ser resolvido com sucesso. Pode, igualmente, ser uma resposta ao stress provocado pela sobrecarga de trabalho, quando sentimos que estão a exigir demasiado de nós e não estamos a conseguir dar resposta, ou pela existência de conflitos pessoais no trabalho. Este esgotamento emocional pode comprometer a nossa saúde física e mental e interferir com a qualidade de vida, não apresentando melhorias significativas apenas com o repouso.

 

 

Quais são os sinais e sintomas de esgotamento emocional?

 

O diagnóstico de esgotamento emocional nem sempre é fácil, já que muitas vezes o paciente apresenta um quadro de fadiga em conjunto com outros sintomas pouco claros, que podem ser atribuídos a muitas outras perturbações.

Contudo, parece consensual que, quando estamos psicologicamente desgastados, apresentamos alguns dos seguintes sinais:

Irritabilidade

Um dos sintomas mais evidentes do esgotamento emocional é o nervosismo, a irritabilidade e a hipersensibilidade, porque perdemos o autocontrolo com mais facilidade do que o normal. Ao mesmo tempo, começamos a interpretar os estímulos como se fossem ameaças, o que leva ao desenvolvimento de comportamentos reativos e defensivos.

 

Perda de energia

O sentimento de esgotamento emocional geralmente reflete-se primeiro fisicamente, pelo que é normal sentirmo-nos sem energia. Para muitas pessoas, só o simples acordar de manhã e levantar-se é um tormento, que é perpetuado ao longo de todo dia.

 

Insónia

Muitas vezes, por trás do esgotamento emocional, estão ocultos problemas não resolvidos, que se aproximam da nossa mente, não permitindo que um sono tranquilo, acordando várias vezes durante a noite.

 

Incapacidade de desfrutar de pequenos prazeres da vida

As atividades e pessoas que até ao momento nos permitiram desfrutar da vida e sentir-nos felizes, deixam de fazer sentido. É como se o mundo, subitamente, tivesse perdido as suas cores.

 

Perda de motivação

Quando estamos extremamente exaustos, simplesmente, não encontramos a motivação para nos envolvermos em novos projetos ou fazer as coisas com as quais antes nos apaixonávamos. Qualquer tarefa parece titânica e desenvolvemos uma profunda apatia em relação ao mundo.

 

Falhas na memória

A atenção é um dos primeiros processos psicológicos que são afetados quando estamos exaustos, o que também leva a lapsos frequentes. É provável que nos esquecemos de mensagens, que não nos lembremos onde deixamos as chaves ou mesmo que tenhamos dificuldade em lembrar o que comemos no dia anterior. Isso ocorre porque a nossa mente está muito saturada para continuar a processar e armazenar informações no nível consciente;

 

Pensamento lento

O esgotamento emocional, também, afeta os processos cognitivos, pelo que podemo-nos aperceber que pensamos mais devagar ou que temos dificuldade em pensar. O que costumávamos fazer rapidamente, custa muito mais e às vezes até achamos difícil dar um sentido lógico às nossas ideias ou acompanhar um longo discurso.

 

Labilidade emocional

Vontade recorrente de chorar, muitas vezes sem motivo aparente, acarretando sentimentos de desesperança, ansiedade e angústia.

 

Sintomatologia física

Com o tempo um esgotamento emocional dá origem a uma panóplia de problemas de saúde. Afeta, essencialmente, o sistema imunológico, cardíaco, o metabolismo e o bem-estar mental geral. Podem ocorrer alterações gástricas e intestinais, dores de cabeça, pescoço e costas, mudanças no apetite, hipertensão arterial, constipações e infeções frequentes, aumento de peso e envelhecimento prematuro.

 

 

Os 12 estágios do Esgotamento Emocional

 

Perante estes sintomas de esgotamento emocional, dois psicólogos, Herbert Freudenberger e Gail North, pioneiros nos estudos relacionados com esta temática, desenvolveram em 1992, um modelo demonstrativo dos 12 estádios típicos que os pacientes vivenciam aquando dum esgotamento emocional. Algumas pessoas passam por todos, mas outras não, para além de que não há uma ordem específica desta sintomatologia:

  1. Ambição Excessiva. Neste estádio as pessoas têm dificuldade em dizer “Não”, pelo que vão aceitando várias responsabilidades em simultâneo.

  1. Obriga-se a mais. Durante esse estágio, com o objetivo de atender às próprias expetativas pessoais, assumem responsabilidades acima daquelas que podem gerir. Por causa disso, sentem-se obrigados a fazer tudo sozinhos e a terminar as tarefas antes do prazo final.

  1. Negligenciam as suas necessidades pessoais. Por causa da quantidade de responsabilidades que a pessoa assumiu, não tem tempo para mais nada, começando a negligenciar atividades diárias importantes. Como dormir, comer e passar tempo com os entes queridos. Contudo a pessoa ainda não tem a noção clara do que está a “perder” e dos erros que começa a cometer.

  1. Aumento dos conflitos. Há um aumento considerável de situações problemáticas à medida que os compromissos são esquecidos ou surgem os atrasos recorrentes. A pessoa encontrará desculpas para esses erros e, muitas vezes, não os reconhecerá. Nesta altura surgem os primeiros sintomas físicos e a pessoa fica exausta e desgastada.

  1. Mudanças nos valores para validar o próprio valor. Neste ponto, a maneira como a pessoa percebe o seu ambiente começa a mudar. Valores, amigos, família e hobbies são descartados e irrelevantes à medida que se tornam mais focados nas responsabilidades adquiridas.

  1. Negação dos problemas e Culpa. Durante esta fase, surgem mais problemas, mas são negados. As pessoas afetadas começam a ficar mais irritadas e amargas.

  1. Isolamento Social. Nesta fase, a pessoa reduz o contato social ao mínimo e fica isolada. A família e amigos são vistos como um fardo em vez de um sistema de apoio. Durante esta fase, fica mais stressada e, para se sentir bem, recorre a outros meios de gratificação, que às vezes pode ser álcool ou mesmo drogas.

  1. Mudanças Comportamentais. Esta fase é quando os amigos e familiares ficam preocupados com a pessoa, porque apresenta um comportamento muito diferente do habitual.

  1. Identidade confundida. As pessoas começam a questionar o seu próprio valor, confundindo as suas prioridades e necessidades. Deixam de planear objetivos e projetos futuros, demonstrando grande desgaste físico e emocional.

  1. Vazio Interno. Durante essa fase, a pessoa afetada sente-se completamente inútil, ansiosa e cansada. Para superar estes sentimentos, tenta desenvolver outras atividades, às vezes exageradas, que podem incluir comportamentos de risco.

  1. Depressão. Este é um aumento do estágio anterior, e a pessoa fica deprimida. Torna-se indiferente, desesperada e exausta.

  1. Colapso Mental e Físico. Quase todas as pessoas que sofrem de esgotamento emocional têm pensamentos suicidas neste momento. O colapso físico, mental e emocional e por vezes há a necessidade de internamento hospitalar.

estágios do esgotamento emocional

 

 

O que causa o esgotamento emocional?

 

O que desencadeia o esgotamento emocional difere de pessoa para pessoa. O que pode ser stressante para uma pessoa pode ser completamente administrável para outra. Contudo um longo período de stress constante na vida, seja por stress pessoal ou por stress no trabalho, pode causar um esgotamento emocional. No entanto salvaguardamos, novamente, que um pouco de stress diário e ansiedade é normal, mas o stress crónico pode prejudicar-nos seriamente.

As causas do esgotamento emocional são variadas, embora em muitos casos haja uma constante: dar muito e receber pouco. Aparece como resultado de uma entrega constante e até mesmo excessiva, seja no trabalho, para outros, para um projeto que nos excita, mas também nos consome, aos problemas cotidianos, às tarefas diárias. Ao mesmo tempo, não recebemos praticamente nada em troca que possa equilibrar o saldo. Não podemos descansar e relaxar o suficiente, não passamos tempo de qualidade sozinhos e não recebemos atenção, carinho e compreensão suficientes das pessoas que nos rodeiam. Na prática, é como se extraíssemos toda a energia do nosso emocional, mas não nos preocupamos em repô-la.

Noutros casos, o esgotamento emocional é causado por muitas mudanças num tempo muito curto, mesmo que seja algo que queremos e que consideremos positivo para nós. No entanto, quando acontece tão rapidamente, não podemos gerenciá-los e, acabamos, por nos sentir sobrecarregados. Nestes casos, embora, aparentemente, tenhamos tudo o que queremos, na nossa mente temos um tipo de sensor que nos diz que algo está a falhar.

 

Alguns desencadeadores mais comuns de esgotamento emocional:

  • Empregos de alta pressão e responsabilidade;

  • Trabalhar longas horas ou trabalhar num emprego que não gostamos;

  • Ter um bebé e educar os filhos;

  • Dificuldades financeiras;

  • Ser cuidador de um ente querido;

  • Processos de divórcio prolongados;

  • Morte de um familiar ou amigo;

  • Ter uma doença crónica ou lesão;

  • Conflitos constantes com vizinhos, colegas ou familiares;

  • Chefias demasiado controladoras;

  • Relacionamentos instáveis.

 

 

Quem é mais vulnerável ao Esgotamento Emocional?

 

Todos podemos ter um esgotamento emocional, especialmente quando passamos por situações particularmente stressantes na vida. Mas existem algumas caraterísticas de personalidade que nos podem tornar mais vulneráveis ​​a esta situação:

 

Perfecionismo

Os perfecionistas, que exigem muito de si mesmos, acabam adicionando um peso extra nos ombros que, a longo prazo, representa mais stresse.

 

Dificuldade para delegar

As pessoas que querem assumir todas as tarefas, porque acreditam que os outros não sabem como fazê-las ou não estão à altura, são mais propensas a sofrer o esgotamento emocional devido a um excesso de responsabilidades.

 

Sensibilidade extrema

As pessoas que são muito empáticas e hipersensíveis são mais propensas a sofrer de um esgotamento emocional porque muitas vezes assumem os problemas dos outros como seus, sem poder estabelecer uma distância psicológica de proteção.

 

Incapacidade de relaxar

Algumas pessoas, devido às caraterísticas do sistema nervoso, acham mais difícil relaxar e se desconectar do que outros. É como se o seu cérebro tivesse a funcionar a 1000 rotações por minuto.

 

 

Como tratar o esgotamento emocional

 

Primeiramente há a necessidade de se fazer algumas mudanças no estilo de vida para ajudar a aliviar a sintomatologia. Essas técnicas não serão fáceis de realizar no início, mas ficarão mais fáceis à medida que se começar a formar hábitos mais saudáveis. Fazer apenas pequenas mudanças nos hábitos diários pode ajudar a controlar os sintomas e evitar um esgotamento emocional total.

Depois de reconhecer os sinais de esgotamento emocional, deve-se:

 

Eliminar o stressor

Embora nem sempre seja possível, a melhor maneira de tratar o stress é eliminar o stressor. Se o ambiente de trabalho é a causa do esgotamento emocional, considera-se a possibilidade de mudar de emprego ou de empresa. Se o gerente ou chefe estiver a provocar o stress, pode-se considerar a transferência para um novo departamento.

 

Comer saudavelmente

Comer saudável significa escolher uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais, grãos integrais e carnes magras, evitando lanches açucarados e alimentos fritos ou processados. Somos aconselhados a comer saudavelmente o tempo todo, mas isso pode fazer muita diferença quando estamos stressados. Não apenas garantirá que obtemos as vitaminas e os minerais necessários, mas também melhorará os níveis de digestão, sono e energia, o que pode ter um efeito dominó sobre no estado emocional.

 

Exercício

Qualquer tipo de atividade física aumenta os níveis de endorfinas e serotonina. Isso pode melhorar estado emocional. O exercício, também, ajuda a desviar a mente dos problemas.

 

Limite de álcool

O álcool pode aumentar, temporariamente, o humor, mas o sentimento vai rapidamente desaparecer, aumentando os níveis de ansiedade e tristeza, interferindo com o sono.

 

Dormir o suficiente

O sono é absolutamente crucial para a saúde emocional, pelo que deveremos planear o mesmo horário de adormecer e acordar, de forma a descansarmos cerca de 8h a 9h diárias. Desenvolver uma rotina na hora de dormir pode ajudar a relaxar e garantir um sono de melhor qualidade. Limitar a cafeína também pode ter um impacto positivo no horário de sono.

 

Relacionar-se com um amigo de confiança

Falar presencialmente com um amigo é uma ótima maneira de aliviar o stress. A pessoa que escuta não precisa necessariamente resolver os nossos problemas, apenas precisa ser bom ouvinte.

 

Dar um tempo

Ter tempo individual para realizar tarefas que consideramos importantes para nós ou até o não fazer nada, e ter tempo para nos encontrar a nós próprios.

 

Consulte um psicólogo

Além de fazer mudanças no estilo de vida, é importante procurar ajuda profissional para tratar o esgotamento emocional. Um psicólogo pode fornecer as ferramentas necessárias para trabalhar durante um período stressante.

Todos devem encontrar o seu próprio remédio para o esgotamento emocional, o que significa que devemos detetar o que está a consumir a nossa energia e enfrentar esse problema, talvez numa perspetiva diferente.

 

 

Às vezes, uma mudança de perspetiva é suficiente para mudar tudo, sem que nada mude!

 

Patrícia Oliveira – Psicóloga