Vivemos cada vez mais numa era tecnológica, e a Internet, é um dos meios de comunicação que mais se tem desenvolvido na última década. Esta é uma ferramenta poderosa, capaz de nos responder a qualquer questão com um simples “click”.

 

Quando bem utilizada, oferece-nos o melhor do mundo, permitindo-nos conhecer e saber mais, sobre tudo quanto desejarmos. Disponibiliza-nos todo o tipo de informação, sem grandes restrições.

 

Como tudo na vida, existe sempre as duas faces da moeda. Existirá sempre, mas, mais importante do que privar e controlar os jovens ao acesso da mesma, é instruí-los a utilizá-la com eficácia e discernimento.

 

Muito se tem falado nos jogos virtuais que a internet oferece, bem como, nos perigos associados aos mesmos.

 

Em tempos de pandemia, a utilização destes equipamentos aumentou significativamente, e por isso o controlo, torna-se ainda mais difícil.

 

 

Quais são os principais desafios?

 

 

São vários os desafios que circulam na internet, que ganham seguidores e por isso se expandem, propondo que jovens desafiem a própria vida, sob vista de serem mais “populares e conhecidos”, talvez.

 

Neknomination (beber excessivamente), desafio da canela (engolir uma colher de canela sem beber água durante um minuto), batmanning (ficar o máximo tempo possível de cabeça para baixo), desafio do fogo (incendiar álcool derramado na pele), jogo da faca (com a mão aberta, espetar uma faca entre os dedos o mais rápido possível), entre tantos outros.

 

Mas se bem me lembro, circulam também desafios positivos, como marcar um amigo nas redes sociais para postar uma fotografia da sua infância num determinado período de tempo, desafio da maternidade (colocar uma fotografia da mãe com os seus filhos), fotografias temporárias para apoiar uma causa, e agora recentemente, o desafio da baleia cor de rosa (50 desafios para aumentar a auto estima).

 

Pois bem, a verdade é que, o lado negativo é sempre aquele que é mais divulgado, sob forma de prevenir danos maiores. Torna-se também importante, consciencializar os pais que, não é pelo facto de proibirem o acesso dos seus filhos à internet, que os mesmos não terão conhecimento daquilo que se passa.

 

Existe sempre, um colega na escola com acesso à internet, e que partilha, nem sempre de forma assertiva, os assuntos da atualidade. Exemplo disso é que, nós ainda estávamos longe de conhecer o jogo da baleia azul, e já eles sabiam de que se tratava.

Já ouviu com certeza aquela expressão, “o fruto proibido é sempre o mais apetecido”? Os jovens passam por várias alterações, por fases de mudança onde procuram não só, a sua identidade, como entram num campo da auto afirmação perante os demais. Essa é uma etapa chave no processo de desenvolvimento e, perfeitamente normal.

 

Procuram estar sempre a par de tudo, em cima do acontecimento. Seja no estilo que se usa, nos ténis que estão na moda, na discoteca para onde todos vão, no telemóvel da atualidade, debater nomes de youtubers, ou, saber o que A ou B publica nas redes sociais.

 

Na condição de pais, por muito que se queira controlar tudo, saber tudo, essa é uma missão que eu diria, impossível. Quando mais se tenta controlar ou proibir, menos sabemos na realidade, aquilo que se passa.

 

Os jovens lidam com as novas tecnologias muito melhor que nós, até se diz que já nascem ensinados ou com um “tablet” na mão verdade? Pois bem, e é mesmo verdade. Desde cedo descobrem funcionalidades que desconhecemos e utilizam-nas enquanto pestanejamos.

 

Assim como, são confrontados com esta realidade desde cedo, estão também muito mais preparados para lidar com a mesma. O problema não está necessariamente na Internet, mas sim, na opção que fazemos, em procurar determinados conteúdos.

Torna-se cada vez mais importante, a comunicação e partilha familiar. Há que falar sobre as coisas boas e más de cada ferramenta que utilizamos. Como costumo dizer, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Não vamos culpar as “novas” tecnologias de tudo aquilo que acontece, certo?

 

 

Há que desmistificar aquilo que é ou não positivo, bem como, pode ser ou não patológico.

 

 

É normal um jovem isolar-se e ter momentos depressivos, faz parte do processo de reestruturação e maturação.  Nós adultos também temos esses momentos e fazem-nos falta. A questão é, se os temos ou não, vezes a mais.

 

Todos nós em algum momento da nossa vida, procuramo-nos afastar dos outros, isolarmo-nos, mais que não seja para por as ideias no lugar, para reflectirmos sobre alguma coisa ou para reorganizarmos a nossa vida.

 

 Eles, jovens, também precisam desses momentos. Não só porque estão à procura do seu “EU” , mas também por serem várias vezes obrigados a tomar decisões. Escolher os amigos/as, namorados/as, como se vão posicionar perante os outros, o curso que vão seguir, e por aí adiante.

 

Cada escolha é uma escolha, e ainda que para nós seja algo banal e sem importância. Para eles o caso é bem diferente, sendo quase uma questão de “sobrevivência”, não fosse o peso que lhe atribuem.

 

Procure ser compreensivo/a. Converse com os seus filhos, sem receios nem tabus, promovendo um espaço de partilha e de confiança, de forma a que os mesmos, se sintam confortáveis em perguntar seja o que for.

 

Mais importante que julgar ou proibir, é compreender. Compreender as motivações e sentimentos que têm, em relação a qualquer problemática. Dar-lhes o seu espaço, é permitir também que errem e aprendam com isso mesmo, tornando-os cada vez mais predispostos para lidar com as adversidades da vida, ainda que sob proteção. É melhor errar com suporte do que, mais tarde sozinho.

 

É verdade também que, muitos jovens não estão preparados para lidar com todas essas mudanças estruturais que lhes são impostas, no processo de desenvolvimento e crescimento. Aqui, identificar e intervir torna-se imperativo.

 

 

Há que saber identificar os sinais, que por vezes são demasiado ténues.

 

 

Isolamento (quando ocorre em excesso), falta de relações interpessoais (amigos), baixo rendimento escolar, falta de vontade ou envolvimento em actividades, desinteresse em geral, apatia, alterações ao nível do sono, humor e alimentação, bem como, irritabilidade excessiva ou pouca reactividade, podem ser alguns deles.

 

A tecnologia vem no fundo, trazer à tona problemas que sempre existiram, nomeadamente a falta de comunicação e explicação de determinados assuntos. Há que haver espaço para tudo, seja para navegar na internet, como para conversar acerca da mesma.

 

Quanto mais o mundo se preocupa em criar e desenvolver objectos e ferramentas de comunicação, seja através de novas aplicações de “chats”, de encontros até à criação de uma lista interminável de emojis, que de alguma forma tornam possível expressar uma emoção “virtual”. Isto não tem de ser um aspecto negativo, se utilizado de forma moderada.

 

O importante é saber construir e permanecer ligado à nossa rede , sem nos desconectarmos do mundo que nos rodeia. É essa a ideia que devemos passar. É fundamental também, termos um papel activo na construção de momentos lúdicos que suscitem interesse nos mais pequenos, e que, de alguma forma constituam uma alternativa ao mundo virtual.

 

Tudo pode e deve ser utilizado com peso e medida, quando existe uma estrutura baseada na explicação e compreensão, dos diversos conteúdos a que estamos expostos.

O problema não está nas coisas, mas sim, na forma como as utilizamos no dia a dia.

 

 

 

 

Raquel FerreiraPsicóloga Clínica na WeCareOn