O que é a Intervenção na Crise?
Qualquer acontecimento ou situação stressante poderá ter o potencial para desencadear uma crise e em muitos casos é necessário realizar intervenção na crise.
É certo que este acontecimento pode se tratar de um evento com o qual o indivíduo consegue lidar por isso não é uma crise.
Deste modo, a crise é um período que resulta da não utilização das ferramentas de coping da pessoa.
Assim, a crise resulta deste desequilíbrio entre o significado que é atribuído a um determinado acontecimento (e.g., uma perda) e as estratégias de coping de um indivíduo, família ou comunidade que são desadequadas para lidar com o que está a acontecer, isto é, acabam por não permitir ir ao encontro das exigências do acontecimento/situação que está a ocorrer.
Segundo diversos autores, o termo crise deriva do grego e significa decisão ou ponto de viragem que pode apresentar, tanto perigo como oportunidade. Esta definição da palavra, foi utilizada até hoje e forneceu o quadro para o desenvolvimento da teoria e prática da intervenção na crise.
Se um indivíduo (família ou comunidade) se vê perante uma situação de crise e é capaz de convocar as suas estratégias de coping, então sairá da situação de crise em que se encontra e ficará mais apto para ultrapassar crises futuras.
Assim, a crise só ocorre quando enfrenta determinado problema ou obstáculo, perante o qual o indivíduo parece não ter uma solução imediata, o que resulta numa incapacidade (que poderá ser temporária) para lidar com a situação por meio das ferramentas/estratégias que usualmente utiliza para solucionar os seus problemas.
A crise é, portanto, despoletada por uma situação/acontecimento que perturba o indivíduo/família/comunidade e vai requerer novas respostas, apresentando-se como um desafio, uma vez que exige que haja alterações súbitas na sua conduta para se poder adaptar ao que está a acontecer.
Três tipos de crises
Falemos, portanto, de três tipos de crises, sendo estas: 1) Crise de desenvolvimento ou maturacional; 2) Crise situacional; 3) Crise acidental.
A primeira ocorre durante qualquer período transacional ao longo do desenvolvimento e crescimento normal do ser humano. Quando um indivíduo passa para um estágio seguinte, este processo de transição pode gerar algum “desequilíbrio”, pois os indivíduos irão passar por mudanças, quer a nível cognitivo, emocional e/ou comportamental, que acompanham o desenvolvimento e são necessárias para essa nova etapa como acontece, por exemplo, na transição para a adolescência, para a vida conjunta do casal, para o nascimento de um filho, para a fase da reforma e etc.
A segunda diz respeito a uma resposta a um evento traumático repentino e inevitável que afeta amplamente a identidade e os papéis desempenhados por um indivíduo. São, portanto, acontecimentos inesperados como, por exemplo, um acidente de carro grave, a perda súbita do emprego, o falecimento inesperado do cônjuge, o nascimento de um(a) filho(a) com diagnóstico de doença grave ou crónica, e entre outros que vão afetar de algum modo a forma como a pessoa se perceciona.
A terceira é referente a um tipo de crise que é pouco comum, imprevisível e resulta em diversas perdas ou mudanças ambientais drásticas. Esta crise pode resultar de um acontecimento/evento que é inesperado como, por exemplo, um incêndio, um desastre natural, uma inundação, uma guerra, e etc. Esta crise pode causar um elevado stress ou mesmo sintomas de stress pós-traumático, sendo que difere dos dois tipos de crise anteriormente referidos, pois não é comum acontecer na vida de todo e qualquer indivíduo.
De notar que a incapacidade de um indivíduo para lidar com uma situação de crise pode manifestar-se através dos seguintes sinais: 1) irritabilidade; 2) raiva; 3) ansiedade; 4) apatia; 5) desesperança; 6) negação; 7) reduzida capacidade de concentração; 8) experiência de luto/perda; 9) tendência a entrar em conflito com outros; 10) alterações a nível do sono ou apetite; 11) depressão; 12) evitamento de interações sociais; 13) aumento do consumo de álcool e/ou abuso de outras substâncias.
Que profissionais podem fazer a Intervenção na Crise? Qual a duração da intervenção?
A intervenção na crise trata-se então de uma forma de terapia breve, que tem como foco o problema a ser resolvido no momento presente, centrando-se na solução imediata, sendo o objetivo desta intervenção o da recuperação do indivíduo que se encontra em situação de crise, auxiliando-o a retomar um funcionamento o mais ajustado e adaptado possível, bem como a recuperar um sentido de controlo sobre a sua vida.
Esta intervenção poderá (ou não) envolver diversos profissionais, nomeadamente, psicólogos, psiquiatras, bombeiros, policiais, equipa médica de emergência, enfermeiros, médicos e profissionais que prestam apoio/aconselhamento via telefone.
A intervenção pode variar de 20 minutos a algumas horas. Sendo que a duração destas irá depender da gravidade da crise e/ou do estado de saúde mental da pessoa.
Quais os objetivos da Intervenção na Crise?
Alguns autores definiram os objetivos gerais que se pretendem alcançar quando é feita uma intervenção de crise, sendo estes:
1) Intervir imediatamente, isto é, por definição, as crises são situações que apresentam certos perigos, por isso mesmo, põem as pessoas em alto risco de não conseguirem lidar com as estas situações;
2) Estabilizar, ou seja, para melhor ajudar as pessoas ou a comunidade que se encontram a vivenciar uma situação de crise, é necessário mobilizar ativamente recursos e redes de apoio para restituir alguma da sua ordem e rotina prévias. Essa mobilização implica facultar as ferramentas necessárias para que as vítimas comecem a funcionar de forma independente e autónoma;
3) Facilitar o entendimento, isto é, outro passo imprescindível é o facilitar a compreensão sobre o que aconteceu, ou seja, reunir os factos relativos ao ocorrido, escutar e as pessoas quando quiserem falar sobre os eventos que ocorreram, e incentivar a expressarem emoções difíceis, auxiliando na compreensão do impacto do acontecimento/evento em causa;
4) Foco na solução do problema, ou seja, implica ajudar ativamente as pessoas/comunidade a utilizarem os recursos disponíveis para conseguirem recuperar o controlo, tal como auxiliá-las na resolução de problemas que sentem como sendo possível trabalhar, a fim de contribuir para a sua autonomia;
5) Incentivar à autoconfiança, isto é, resolução ativa dos problemas como uma forma de trabalhar as consequências provenientes dos acontecimentos traumáticos.
Conclusão:
Em suma, a intervenção na crise é o ato de facultar atendimento psicológico de emergência aos indivíduos que assim necessitem.
Apresenta como intuito auxiliar a retornarem a um nível de funcionamento adaptado e a prevenir o potencial impacto negativo do trauma psicológico nos mesmos.
As situações de crise não só são frequentes, como ninguém está salvaguardado de poder vir a passar por tal acontecimento. Poderá causar diversos problemas tanto para quem vivencia, como para quem testemunha.
Assim, surge a necessidade de intervenções na crise adequadas às necessidades dos indivíduos em causa. De modo a auxiliá-los na superação das sequelas e no desenvolvimento de ferramentas para poderem vir a lidar melhor com futuras situações adversas.
A situação pandémica trouxe efetivamente uma necessidade acrescida de respostas ao nível da intervenção na Crise. Neste sentido a equipa da WeCareOn apresenta uma equipa especializada em intervenção nesta área
Maria Ferreira– Psicóloga, Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses