Setembro está aí à porta, o que significa que os resultados das candidaturas à faculdade estão quase aí. Sabemos que este é um período mais complicado para os pais cujos filhos estão em idade de entrar para a faculdade. É uma fase de mudança, quebra da rotina e de ir à conquista do desconhecido, quer para os pais, quer para os filhos. Enquanto os filhos vão começar uma nova vida- muitas vezes numa nova cidade- conhecer novas pessoas e novas realidades, também os pais vão conhecer uma nova realidade: aquela realidade em que chegam a casa ao fim do dia e a casa está silenciosa. O sofrimento que isto pode causar é comummente chamado de “síndrome do ninho vazio”.
Esta síndrome caracteriza-se por um sofrimento exacerbado que vem associado à perda do papel constante de cuidadores, como quando os filhos saem de casa para estudar fora, casam ou vão viver sozinhos. Nesta altura dá-se uma quebra na rotina, no ambiente conhecido e, inevitavelmente, provoca mudanças nos laços familiares, o que pode causar sentimento de mau estar nos pais.
O “ninho” tem como função a proteção, neste caso a proteção dos filhos até que estes estejam preparados para ter a sua própria independência. Quando chega o tempo desta independência, é importante encará-la com positividade, uma vez que significa que os cuidadores cumpriram a sua função de forma coesa e deram aos mais novos as ferramentas necessárias para poderem conquistar algo tão importante como sair da casa dos pais/cuidadores.
Este sofrimento está muitas vezes ligado à cultura vivida. Em culturas em que as pessoas dedicam a maioria do seu tempo a cuidar dos filhos, a independência destes torna-se mais pesada, com mais sentimentos relacionados com a solidão e a tristeza.
Cada individuo reage de forma diferente a uma quebra da rotina como esta. O sentimento de saudade, apatia e tristeza é natural numa primeira fase, uma vez que faz parte do processo de adaptação inerente ao ser humano, e é necessário este ser vivido para ser possível atingir novos patamares da vida. Este “síndrome” pode afetar tanto homens como mulheres e em intensidades diferentes, uma vez que a personalidade da pessoa influencia a forma como se encara esta separação.
Consequências:
As manifestações desta alteração na rotina podem passar por incapacidade de concentração, falta de sono e de apetite, sensação de vazio, apatia, fadiga crónica, raiva, rejeição social, diminuição da libido e até uma sensação de vazio. Uma manifestação prolongada destes sintomas pode agravar para quadros mais agudos como depressão e até mesmo paranoia motivada pelo excesso de preocupação.
Ainda que todos os cuidadores estejam vulneráveis a sofrer destas manifestações, existem alguns fatores que aumentam a predisposição, nomeadamente casamentos instáveis ou em processo de separação, pais a tempo inteiro, situações de desemprego ou pessoas em situação de luto.
Em alguns casos podem aparecer sentimentos de culpa e de autocobrança, justificadas pelo pensamento de que poderiam ter feito mais e aproveitado mais os momentos e a presença dos filhos.
O que fazer quando o ninho fica vazio?
É importante aceitar o processo, ajudar os filhos na mudança, mostrando interesse e tentar encarar o processo com alguma leveza. Não obstante, é essencial comunicar com os filhos sobre como se estão a sentir relativamente a todas as mudanças que estão a enfrentar, pois isto poderá tornar mais leve a aceitação e acarretar uma diminuição da manifestação dos sintomas.
Experimente começar por pensar mais em si próprio. Certamente que tem sonhos, desejos e vontades que ficaram por fazer num período passado da sua vida em que não tinha disponibilidade para concretizar esses projetos. E aquele hobbie para o qual não tinha tempo? Dedique-se a novos projetos, descubra o individuo que tem dentro de si e que andou tantos anos ocupado a priorizar o papel de ser pai/ mãe. Procure novos interesses onde investir o tempo que antes alocava aos seus filhos 😊
Se está numa relação, pense em todas as novas oportunidades que têm de aproveitar melhor o tempo. Seja em escapadinhas românticas ou novas aventuras, é a altura ideal para recomeçar.
Porquê procurar acompanhamento?
A síndrome do ninho vazio ainda é um quadro difícil de diagnosticar com certeza, uma vez que é várias vezes confundido com quadros depressivos e os seus sintomas podem ser atribuídos a outros problemas de saúde, pelo que só é possível confirmar o diagnóstico aquando seis meses da permanência os sintomas, sintomas esses que são limitativos e que impedem de um normal retorno à rotina antes conhecida.
A terapia ajuda o individuo a compreender as suas emoções e a lidar com elas de forma mais positiva. Isto pode ser feito através da alteração dos pensamentos disfuncionais e reeducação do pensamento.
É importante dar um encerramento ao ciclo que terminou e preparar-se para o início de uma nova etapa, dando espaço para compreender que a relação se alterou para uma dinâmica entre duas pessoas independentes e maduras, mas cultivando o contacto.
Este processo deve ser olhado e acolhido como um período de transição, período esse que é um passo necessário para o início de uma nova fase na vida dos mais novos. Eles estão a tornar-se adultos e isso é fantástico!
Procure ser empático/a, lembre-se que mesmo você já passou por esta fase de conquista de independência. Encare este processo com orgulho, orgulho por ter sido um pai/mãe capaz de acolher os filhos no ninho e de lhes incutir o amor e responsabilidade necessária para que se tenham tornado pessoas independentes, cumprindo o seu papel.
Se precisas de ajuda, conta comigo!
Bárbara Teixeira– Psicóloga na WeCareOn