Por vezes, conhecemos a origem dos traumas nas crianças (seja por um acidente rodoviário, morte de um familiar, separação da família, etc.), outras vezes o trauma não é assim tão claro e a criança apresenta comportamentos cuja origem é desconhecida para os pais.
Alguns traumas podem ter acontecido tão cedo na vida da criança, numa altura anterior à aquisição da linguagem, que ela não os consegue identificar, ou ficaram registados no cérebro sob a forma de memórias implícitas. Sempre que isto acontece, a criança pode vir a manifestar mau estar através do seu comportamento e este desconforto pode ir da apatia à irrequietude, mentira, roubo, serem crianças demasiado obedientes ou incapazes de protestar, perturbações do sono ou perturbações alimentares.
Estes comportamentos são muitas vezes indicadores da existência de bloqueios emocionais. Os pais percebem que algo não está bem, mas nem sempre entendem o porquê da criança se comportar assim, uma vez que estes comportamentos não parecem ter qualquer explicação.

O QUE ACONTECE QUANDO EXISTE UM TRAUMA?

A memória traumática difere da memória comum. Quando um trauma ocorre, a forma como a informação é processada no cérebro parece ser diferente do que quando não existe trauma. Quando algo sentido como perigoso acontece, o corpo e o cérebro respondem de forma diferente. O corpo reconhece o perigo e reage no sentido defensivo. As mensagens que são enviadas e armazenadas no cérebro referem-se a uma situação de emergência e por este motivo a memória não é processada de forma comum. Estas experiências ficam então armazenadas numa outra parte do cérebro, associadas a informação sensorial (tais como imagens, sons, odores) e a sentimentos (tristeza, culpa, medo), não sendo naturalmente processadas como aconteceria com uma memória não traumática. No fundo, estas memórias parecem ficar bloqueadas numa zona específica do cérebro, sendo muito difícil lidar com elas e tendo implicações no dia-a-dia da criança, uma vez que impedem que lide de forma calma e racional com situações habituais.

COMO PODE O EMDR AJUDAR?

O EMDR parece desbloquear o processamento cerebral destes acontecimentos, para que estas memórias se transformem em memórias vulgares e que logo, não incomodam. O que acontece é que após o reprocessamento, a lembrança do que antes era traumático, diminui de intensidade e a criança começa a estruturar-se e a organizar-se melhor, libertando-se do medo, sentimento de culpa e outros sentimentos inadequados, associados à situação original.

Não se sabe ainda ao certo como funciona o tratamento com EMDR, mas parece que a estimulação bilateral (estimulação dos hemisférios cerebrais) num processo muito semelhante ao que acontece durante o sono REM, desbloqueia e reprocessa esse material inconsciente.

EM QUE SITUAÇÕES PODE SER UTILIZADO O EMDR?

O EMDR é um método breve e focal e vem sendo utilizado com sucesso no trauma e no stress pós-traumático em situações que poderão ir desde pequemos a grandes traumas e ainda em fobias, problemas comportamentais, transtornos de ansiedade, transtornos impulsivos, síndrome de pânico, transtornos depressivos, pesadelos, terrores nocturnos, relações interpessoais, separação dos progenitores, transtornos alimentares, abuso sexual, negligência, transtornos de vinculação (em casos de adopção ou crianças institucionalizadas), entre outras situações.

“Eventos traumáticos despertam nas crianças sensações de desproteção e insegurança e geram crenças negativas acerca de si mesmas e do mundo.” (Shapiro,1995).