É através da implementação de ações simples que tornarmos a nossa vida mais simples. O convite feito é a reflexão sobre duas ações presentes em nós e que, quando usadas em atenção plena, podem mesmo mudar a nossa vida!

 

Vivemos tempos estranhos que jamais havíamos imaginado presenciar para além de um cenário criado por um qualquer realizador numa tela de cinema… O desafio maior passa por integrar a realidade de forma saudável e em equilíbrio, usando todas as ferramentas que dispomos.

 

Aqui irei explorar duas dessas ferramentas que estão presentes em nós hoje e ao longo de toda a nossa vida como ser humanos e que vale a pena realizar uma reflexão sobre.

 

Desde o nosso primeiro momento de vida que respiramos, e assim será até ao momento em que iremos partir. Esta é a primeira ferramenta que iremos aproveitar a nosso favor.
Também, desde muito cedo, acompanhando o nosso desenvolvimento cognitivo, tornamo-nos seres pensantes. O pensamento será então a segunda ferramenta ao nosso dispor.

 

Respirar e pensar são ações que simplesmente acontecem. Não precisamos de dar instruções ao nosso sistema para que aconteça. De forma inconsciente e automática, acontecem.

 

Quando fazemos uma reflexão sobre isto e nos tornamos conscientes destas verdades há algo que podemos escolher fazer de forma a modificar e melhorar a nossa saúde global.

 

Comecemos por perceber a importância do nosso pensar, do nosso discurso interno. É comum em muitos momentos do nosso dia-a-dia, estarmos a ter pensamentos pouco possibilitadores. Muitas vezes, quando algo que fazemos está a correr menos bem, damos por nós a usar uma linguagem interna que dificilmente utilizaríamos com o nosso melhor amigo: “Que idiota que eu sou!”, “Como fui capaz de falhar nisto? Não aprendo nunca!”. Ou, pensando nos tempos atuais, colocamos o foco em cenários pouco promissores e cultivamos o medo do desconhecido: “O mundo está assustador! O que vai ser de mim?”, “Isto é assustador! Não quero ficar doente!”
Facilmente nos tratamos sem compaixão, raramente somos o nosso melhor amigo e colocamos a atenção naquilo que não queremos!

 

Uma outra verdade é que, de acordo com o que está a acontecer dentro de nós, também a nossa respiração se altera e modifica. Quando estamos a ver algo a acontecer e ficamos nervosos, a respiração tende a ser mais curta e acelerada. Pelo contrário, quando estamos a vivenciar algo agradável, estamos calmos ou a sentir paz, alegria respiramos de forma mais longa e mais profunda. Muitas vezes, utilizamos esta verdade quando em situações de maior stress dizemos “preciso der apanhar ar” ou “estou a precisar de respirar fundo!”.

 

 

Atualmente poderá ser simples sermos “apanhados” em estados menos possibilitadores apenas por passarmos demasiado tempo a ouvir noticias sobre a atualidade que vivemos, bloqueando um estado mais pleno de reflexão.

 

Ora as boas notícias residem dentro de nós e tendo consciência deste nosso funcionamento, há algo que podemos fazer! Há práticas que podemos aplicar neste nosso mundo interno e que vão, com certeza, alterar substancialmente o nosso bem-estar e (arrisco a dizê-lo) dos que nos rodeiam também.

 

Este caminho, tira-nos do modo “piloto automático”, da irreflexão e leva-nos para o lado da reflexão e da consciência plena.

 

A palavra mindfulness tem estado muito presente no quotidiano de muitos de nós e, atualmente, ainda há muito trabalho a mostrar e a divulgar sobre os seus benefícios e a sua prática. Traduzir mindfulness não é tarefa simples, sendo as expressões mais usadas as de “atenção plena” ou “consciência plena”. Ela surge da língua Pali onde sati se refere como consciência e atenção. Mindfulness é a tradução Inglesa da palavra sati. E como falar de mindfulness ou atenção plena? Como definir esta experiencia? Das várias descrições, elejo a de Simón: “É a capacidade humana universal e básica, que consiste na possibilidade de termos consciência dos conteúdos da mente em cada momento.”

 

Na prática, de mindfulness trabalhamos com a nossa mente – os nossos pensamentos – e com a nossa respiração. Quando juntamos estas duas ações de forma consciente e a tornamos numa prática no nosso dia-a-dia, vamos conseguir alterar o nosso estado emocional por conseguinte, influenciar os nossos resultados!

 

Como referi, a nossa mente habitualmente não se encontra num estado de tranquilidade ou calmia. O nosso discurso interno ou monólogo interior encontra-se agitado e pouco possibilitador. Há quem descreva esta atividade como “mente de macaco”. É uma mente que trabalha sem parar dando voltas sobre si mesma e, muitas vezes, num círculo vicioso que nos atrapalha e nos guia de forma negativa. Que é exatamente o que está a acontecer a muitos de nós nestes novos tempos de pandemia e que irá trazer um aumento, no futuro, de pessoas que irão precisar do apoio de um profissional de saúde especializado.

 

Estes pensamentos que tão bem conhecemos, ou se focam num passado que já não existe, trazendo-nos muitas vezes estados depressivos; ou no futuro que desconhecemos, plantando em nós estados de ansiedade. E é desta forma que vivemos afastados do que é, do presente, do agora.

 

Neste caminho diferente, que aqui proponho, com a prática de mindfulness apaziguamos a nossa mente e tornamos possível estar no agora, habitando no presente.

 

 

E como praticar atenção plena? Como introduzir o mindfulness no nosso dia-a-dia?

 

Podemos fazê-lo de duas formas: formal ou informal. Na primeira vou escolher um momento do dia, um espaço adequado e vou adotar uma postura específica por um tempo determinado. Na segunda vou realizar a prática em qualquer momento do meu dia: quando estou a cozinhar, quando faço exercício físico ou vou passear o cão, quando estou a conduzir ou até a trabalhar.

 

Em ambas as formas trabalhamos com as duas ferramentas internas: o respirar e o pensar. Em ambas vamos estar em consciência plena da nossa respiração, focando-nos no ar a entrar e a sair do nosso corpo e observando os nossos pensamentos. Nenhuma será melhor que a outra, pois, o que importa é a prática e a consistência com que o fazemos. No início será, com certeza, desafiante e é com o hábito diário e persistência que iremos sentir os benefícios que são imensos: na nossa saúde psicológica.

 

O segredo maior e mais poderoso aqui presente é que se trata de uma escolha individual e depende única e exclusivamente de cada um de nós. E é simples! Não exige conhecimentos específicos, estudo ou uma dedicação extrema. E, na verdade, é também muitas vezes, por estes dois motivos (depender de nós e ser simples) que nem todos irão acreditar e praticar. Deixo-vos então o desafio de o experimentar durante 21 dias e, no final desse tempo, refletir com estas perguntas poderosas: o que mudou interiormente? Que impacto está a ter esta prática no mundo que me rodeia? Façam a vossa reflexão.

 

Sofia Diogo – Psicóloga & Coach @WeCareOn