As doenças crónicas são doenças de longa duração e de progressão lenta que têm, muitas vezes, um impacto negativo na qualidade de vida das pessoas. A doença crónica não é transmissível e na medicina ocidental diz-se que tem poucas possibilidades de cura.
É normal, depois do diagnóstico e já com a doença estabilizada, que as pessoas que têm este tipo de doença procurem novas e diferentes formas de lidar com esta nova realidade. Esta adaptação implica muitas vezes mudanças físicas, psicológicas, familiares, sociais e culturais. Portanto, estas podem ser, por vezes, mudanças duras e complexas. Ainda assim, a qualidade de vida destas pessoas é de extrema importância, uma vez que tem um impacto direto na perceção de bem-estar dos indivíduos.
Como é feita a adaptação à doença?
Uma melhor ou pior adaptação à doença está, primeiramente, relacionada com a representação que o próprio indivíduo faz da doença. Ou seja, nesta representação temos as crenças da pessoa em relação à doença, não só em que é que esta consiste, mas também de que forma vai evoluir, qual vai ser o tratamento e como é que isto vai começar a afetar o dia-a-dia do próprio.
Inicialmente, é bastante frequente que a pessoa se sinta perdida, ou por estar ainda à espera de um diagnostico definitivo ou porque não sabe em que consiste o diagnostico. É normal que se perca a meio de uma explicação técnica. Por vezes, quando recebemos uma notícia menos boa, ou algo que nos choca, filtramos a informação que nos é passada. Quase que parece uma cena de filme…Sabe a que me refiro? É como se de repente a pessoa deixasse de ouvir o que lhe está a ser dito e só conseguisse ouvir um barulho de fundo, um zumbido ensurdecedor. É natural. Todos nós lidamos com o imprevisível de forma diferente.
Depois, é ainda natural sentir algum receio, ou até mesmo muito receio, em relação à forma como a doença vai evoluir e ao processo de tratamento em si.
Provavelmente, vai dar por si a pensar em mil e uma coisas: “Nunca sei o que esperar amanhã.”, “Não sou capaz.”, ou então vai dizer para si mesmo “Sinto que deveria ser capaz de controlar a minha doença. Não sei o que se passa de errado comigo.”. A minha resposta para si é esta: Não há nada de errado consigo! Provavelmente, está apenas cansado. É efetivamente uma tarefa muito exigente ter de assimilar tudo isto. Eu sei que vai conseguir! Na verdade, acredito que já está a conseguir.
Que fatores condicionam a adaptação à doença?
O otimismo e uma melhor adesão aos tratamentos são variáveis indicativas de um bem-estar geral mais elevado e de mais saúde mental. Como explicação, é referido que uma maior adesão aos tratamentos promove a saúde física do individuo, o que, por sua vez, contribui para uma perceção mais satisfatória de bem-estar. Neste sentido, o que a literatura nos diz é que quanto mais otimista for a pessoa, mais fácil será a adaptação da mesma a esta nova realidade.
Por outro lado, as pessoas que têm um suporte social mais elevado, tendem também a ter uma melhor saúde mental.
Nesse sentido, a psicoterapia pode conseguir com que a pessoa seja capaz de se adaptar melhor à doença e aos vários tratamentos propostos, bem como uma melhor adesão às terapias com fármacos. A ideia é que o tratamento se adeque à pessoa e às suas necessidades, ajudando a que a cronicidade da doença se mantenha estável ao longo do tempo.
As reações emocionais podem variar de pessoa para pessoa, ou até mesmo no tempo. Pode vir a sentir angústia, ansiedade, preocupação, stress e até mesmo tristeza profunda. É ainda natural sentir raiva. Toda esta gestão emocional leva tempo. Quantas vezes ouviu esta frase: “Dê tempo ao tempo”. Pois bem, eu não o poderia dizer melhor. Saliento, no entanto, que não tem de fazer esta gestão sozinho, e se for difícil pedir ajuda na sua rede de apoio, recorra a um psicólogo. Eu estou disponível para o(a) ajudar.
Em que consiste a intervenção psicológica no contexto da saúde?
Esta área tem como o principal foco a promoção da saúde e a prevenção da doença. Espera-se que a deteção da doença crónica seja precoce e, uma vez feito o diagnóstico, o psicólogo pode ajudar o individuo na gestão da doença, promovendo uma adaptação saudável à mesma.
Para estas situações, a Terapia Cognitivo-Comportamental é bastante eficaz. Primeiramente, são identificadas as principais crenças da pessoa em relação à sua condição de saúde atual. Numa segunda fase, são, igualmente, identificados os comportamentos que têm sido utilizados como mecanismos de coping (i.e., como lida com situações desafiantes). O objetivo é sempre o de promover a adaptação à doença e ao tratamento, bem como ajudar a pessoa a mudar hábitos e estilos de vida menos saudáveis e mais nocivos para o próprio (por ex.: deixar de fumar, praticar exercício físico, etc.).
Assim, a intervenção cognitivo-comportamental permite uma mudança das crenças e dos comportamentos desadaptativos do individuo, podendo contribuir para uma melhoria do bem-estar da pessoa.
Sistematizando, a intervenção cognitivo-comportamental pode:
– Promover a adesão aos tratamentos médicos;
– Facultar apoio emocional à pessoa, permitindo-lhe uma regulação emocional mais eficaz;
– Prevenir ou reduzir os comportamentos nocivos (por ex.: o abuso de substâncias, o sedentarismo, etc.);
– Ajudar a pessoa a lidar com a sintomatologia, promovendo o controlo que este tem sobre a mesma;
– Permitir a redução do stress.
O que é que pode fazer por si?
Posto isto, sugiro que aposte num estilo de vida mais saudável e que experimente ser flexível. Procure ser mais ativo! Nem sempre conseguimos à primeira alcançar os objetivos que estabelecemos, por isso persista, vá-se adaptando aos poucos.
Comece primeiro com mudanças mais pequenas, pelos comportamentos mais simples e vá, sobretudo, sendo o “polícia” dos seus próprios pensamentos. Quero com isto dizer: esteja alerta e não deixe que a sua mente vagueie constantemente para o lado mais negativo do problema. Quando der por si a matutar no seguinte: “Mas, porquê a mim?”, “Agora já nada vai ser como antes.”, ou então “E se eu nunca conseguir superar isto?”, mude o paradigma. As palavras têm um poder incrível! Experimente antes o seguinte: “Como é que eu posso crescer enquanto pessoa?”, “Como é que eu posso reaprender o meu dia-a-dia?” e o mais importante “Eu sou capaz de superar isto. Só preciso de tempo.”.
Referências:
– Neto, D. D., & Baptista, T. M. (2019). Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais – Livro 1: Intervenções Clínicas. Lisboa: Edições Sílabo, Lda.
Filipa Cruz – Psicóloga Clínica na WeCareOn