Apesar de recentemente ouvirmos falar em cada vez mais casos de violência doméstica em Portugal, o que é facto é que ela não é um fenómeno novo.

 

No nosso país, a violência doméstica é o segundo crime mais reportado pelas forças de segurança. Sabe-se também que estes episódios são mais frequentes no seio familiar. Podendo abranger violência contra mulheres, homens, idosos, de pais para filhos, de filhos para pais, etc. Contudo, as principais vítimas são as crianças e as mulheres.

 

Tipos de violência doméstica

 

Denomina-se por violência doméstica o padrão de comportamentos abusivos que abrangem uma variabilidade de maus tratos a uma pessoa particularmente indefesa, são estes:

  1. Físicos: Segundo a APAV, estes abrangem comportamentos de agressão física, isto é, crimes de ofensa à integridade física, sequestro, intervenções e tratamentos médicos arbitrários (isto é, efetuar procedimentos médicos na vítima, sem o seu esclarecimento e o consentimento prévios).
  2. Psicológicos/Verbais: Inclui insultos, críticas, humilhações, desvalorizações, intimidação de forma verbal ou não verbal, isolamento social e proibição de actividades.
  3. Emocionais: Têm o objetivo de fazer o outro sentir medo ou sentir-se inútil. Normalmente inclui comportamentos como: ameaças, ofensas, humilhações perante a presença de amigos ou familiares, etc.
  4. Sexuais: Obrigar, coagir ou forçar a práticas sexuais contra à vontade do outro, incluindo a violação ou contacto com os órgãos sexuais, práticas sexuais perversas de acordo com a vítima. Uma grande parte das mulheres que sofre violência física, também sofre de violência sexual.
  5. Violência Financeira: Inclui comportamentos que visam controlar o dinheiro do outro, sem que este consinta (por exemplo: controlar o ordenado da vítima, ameaçar retirar o apoio financeiro de forma a controlá-la, recusar dar dinheiro ao outro, proibir a vítima da sua gestão financeira autónoma, etc.)
  6. Perseguição (crime de stalking): Neste caso, pretende-se intimidar o outro. Inclui comportamentos como: seguir a vítima até ao seu local de trabalho, controlar constantemente os seus movimentos.

 

Causas da Violência Doméstica

 

Há vários fatores que podem estar na origem de comportamentos de violência.

 

A crença de que a agressão é aceitável, a presença de distúrbios mentais, o desemprego, o isolamento, a pobreza e a dificuldade em lidar com situações de stress são algumas das razões que podem explicar este fenómeno.

 

Contudo, há alguns traços de personalidade comuns entre os indivíduos agressores de violência doméstica, sendo por isso fundamental delinear o perfil dos agressores.

 

Os indivíduos agressores normalmente são pessoas com personalidades controladoras, e que dão prioridade às suas necessidades pessoais. Tendem a fixar a sua atenção numa pessoa em específico, e não aceitam que a vítima seja autónoma.

 

Quando há um afastamento por parte da vítima, surge a ansiedade de separação nos agressores. Muitas vezes, acabam por alterar o seu comportamento colocando-se no lugar de vítima.

 

Desta forma, os principais fatores de risco dos agressores são:

 

  • Antecedentes criminais;
  • Exposição a casos de violência em membros da família ou conhecidos: Segundo a teoria de Bandura há a tendência das crianças observarem o comportamento dos pais e o imitarem, o que pode explicar que indivíduos que testemunharam episódios de violência na infância tenham maior probabilidade de reproduzir estes comportamentos em adultos;
  • Perturbações de personalidades: É frequente que estes indivíduos apresentem uma sintomatologia psicótica ou maníaca, bem como uma personalidade marcada por ataques de raiva, impulsividade e baixa auto-estima.
  • Violação de medidas, injunções ou penas.
  • Comportamentos aditivos (o consumo de álcool ou droga).

 

Consequências da Violência Doméstica

 

Qualquer tipo de violência gera no outro consequências do ponto de vista físico, cognitivo, social, moral, emocional ou afetivo.

 

A nível físico, as vítimas podem apresentar sequelas para toda a vida, sendo as lesões mais frequentes os hematomas, contusões, traumatismos, inflamações e ainda deficiências físicas.

 

No que diz respeito a sintomas psicológicos, é frequente a vítima apresentar sentimentos de profunda tristeza, choro fácil, falta de apetite, falta de concentração, apatia, insónias, pesadelos, grande agitação psicomotora, irritabilidade, etc. Para além destes, as vítimas de violência doméstica tendem a ser mais propícias a desenvolveram quadros de ansiedade, depressão, transtorno de pânico, stress pós-traumático, e também comportamentos auto-destrutivos (nomeadamente o uso de substâncias ou tentativas de suicídio).

 

 

Sabe-se também que as mulheres vítimas de violência doméstica vivem num permanente estado de medo, e frequentemente deixam de realizar as suas tarefas diárias, como sair de casa e conviver com os amigos e familiares, com receio das represálias que possam vir a ter. Estas mulheres apresentam normalmente uma auto-estima mais baixa do que as restantes, uma maior insegurança e maior instabilidade emocional. Têm também maior risco de desenvolver traumas.

 

A intervenção dos psicólogos

 

No agressor:

O acompanhamento psicológico em agressores visa a proteção das vítimas, e a prevenção de reincidência em crimes de violência conjugal. Neste caso, a psicoterapia tem como objetivo a responsabilização dos agressores pelos seus actos e consequências.

 

Para isso, o psicólogo deve:

  • Avaliar as competências pessoais e sociais do indivíduo;
  • Trabalhar os seus défices de personalidade: No sentido de fazer o tratamento de eventuais perturbações psicológicas do agressor, bem como da ideação suicida ou homicida.
  • Avaliar o seu sistema de crenças, e modelos relacionais/familiares.
  • Motivá-los para a mudança;
  • Utilizar técnicas como a reestruturação cognitiva: Processo terapêutico onde se aprende a identificar os pensamentos irracionais/disfuncionais do indivíduo, e a substitui-los por pensamentos mais adaptativos;
  • Trabalhar a assertividade, e a resolução de problemas;
  • Fazer a gestão da raiva e do autocontrolo;
  • Intervir na consolidação e prevenção da recaída.

 

Na vítima:

Na intervenção com a vítima, não cabe ao psicólogo denunciar a situação de violência doméstica, caso esta não o queira fazer (salvo situações limite).

 

Assim, a intervenção psicológica deve, acima de tudo, assegurar a proteção da vítima e acolhê-la de forma a conter, e diminuir, o seu sofrimento. O psicólogo deve:

  • Estabelecer uma relação empática de confiança, onde a pessoa se sinta aceite e compreendida;
  • Orientar o paciente a tomar decisões conscientes que contribuam para o seu bem-estar;
  • Percecionar as dificuldades do cliente para terminar com a relação conflituosa (entre o agressor e a vítima);
  • Avaliar a qualidade da relação, como é feita a gestão de conflitos, etc.
  • Promover atitudes que contribuam para terminar com a violência doméstica.

 

Violência Doméstica: o que fazer

 

A violência doméstica é um crime público, uma violação dos direitos humanos. E compromete a integridade física e mental do indivíduo, causando sofrimento emocional, e podendo colocar em risco a sua própria vida. Sabemos também que ela tem um impacto negativo não só na vítima, mas também em toda a sua família e amigos, considerados vítimas indiretas.

 

Se conhece ou assistiu a um episódio de violência doméstica, denuncie! Não consinta com este crime.

 

A denúncia pode ser feita: em qualquer departamento do Ministério Público; em qualquer esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP), Guarda Nacional Republicana (GNR) ou Polícia Judiciária (PJ); no portal de queixas eletrónicas ou na página da Polícia Judiciária (onde a denúncia pode ser anónima). A pena de prisão para este crime varia desde 1 a 10 anos, conforme a gravidade da ofensa à integridade da vítima.

 

A violência doméstica causa um grande sofrimento psicológico e emocional, à vítima e a quem a rodeia, por isso há uma grande necessidade de realizar acompanhamento psicológico em todos os indivíduos afetados por esta mesma violência.

 

Se se sente nesta situação, marque uma consulta com um dos nossos psicólogos. Não necessita de viver mais em medo e em sofrimento, nós podemos ajudá-lo!

 

 

Mariana Gomes – Psicóloga @WeCareOn