Imagine que o seu pensamento ficou preso a uma ideia ou imagem e que se repete vezes sem conta. Mesmo que tente evitá-lo e que o ache absurdo. Não quer esse pensamento, mas ele não pára! Com este pensamento surge uma sensação de mau estar e ansiedade constante. Se por um lado acha que esses pensamentos não fazem sentido, por outro parecem-lhe verdadeiros e intensos. Como está ansioso, como é uma mensagem de “perigo” para si próprio, sente que tem de fazer alguma coisa para diminuir a ansiedade. Surgem assim os comportamentos repetitivos associados a elevado consumo de tempo para os fazer e podemos estar perante uma Perturbação Obsessiva Compulsiva ou POC.
Estima-se que 1 em cada 40 adultos, a nível mundial, sofram de Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC). Esta doença é reconhecida atualmente como a 4ª perturbação psíquica mais frequente a nível mundial. A Perturbação Obsessiva-Compulsiva em Portugal é de 4,4%.
O que é uma Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC)?
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) é uma doença. Que, como o próprio nome indica, é constituída por obsessões (ideias/representações) ou compulsões (ações). Estas que se impõe contra a vontade do indivíduo que os experimenta, fazendo-o sentir impotente para apagar esses pensamentos obsessivos da sua consciência ou para resistir ao impulso de realizar certo comportamento ou ritual (compulsão).
A Perturbação Obsessiva-Compulsiva (POC) é um estado mental que deriva da ansiedade. A ansiedade é um processo físico que mantém a pessoa em alerta. Provocando um estado de vigília, no qual todo o corpo fica preparado para reagir a agressões exteriores e o cérebro fica com maior agilidade de raciocínio. Ficando absolutamente focado num pensamento, numa tentativa de, perante o medo, conseguir encontrar uma solução.
A este conjunto de pensamentos focados no perigo chamam-se pensamentos obsessivos. Pois enquanto o perigo não desaparecer os pensamentos de protecção, também, não desaparecem. Estes pensamentos tornam-se numa perturbação emocional quando o perigo não é real. Mas mesmo assim o processo de vigilância permanece, provocando os pensamentos obsessivos.
Por definição, os adultos com Perturbação Obsessivo-Compulsiva reconheceram, que as obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais. Embora esta exigência não se aplique a crianças, pois falta-lhes consciência cognitiva suficiente para tal discernimento.
A pessoa pode reconhecer que uma obsessão de contaminação é irracional ao discuti-la numa “situação segura” (por ex., no consultório do terapeuta), mas não quando forçada a manusear dinheiro. Nos momentos em que o indivíduo reconhece que as obsessões e compulsões são irrealistas, ele pode desejar ou tentar resistir-lhes, e ao fazê-lo, tem uma sensação de crescente ansiedade ou tensão, frequentemente aliviadas cedendo à compulsão. O gráfico seguinte é demonstrativo deste ciclo:
Tipologia da Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC)
O que é uma Obsessão?
Uma obsessão é um pensamento, impulso ou imagem que invade a mente, repetitivo e persistente, indesejado e inaceitável para o próprio e que causa ansiedade ou sofrimento. A qualidade intrusiva e inadequada das obsessões é referida como “ego-distónica”. Sendo que o termo refere-se ao sentimento de que o conteúdo da obsessão é estranho, não está dentro do próprio controlo do doente nem é a espécie de pensamento que ele esperaria ou desejaria ter.
Entretanto, o doente é capaz de reconhecer que as obsessões são produto de sua própria mente e não impostas a partir do exterior.
As obsessões mais comuns são pensamentos repetidos acerca de:
contaminação (por ex., ser contaminado em apertos de mãos);
- Dúvidas repetidas. Por ex., imaginar se foram executados certos atos, tais como ter magoado alguém num acidente de trânsito;
- Uma necessidade de organizar as coisas numa determinada ordem. Por ex., intenso sofrimento quando os objetos estão desordenados ou assimétricos;
- Impulsos agressivos. Por ex., magoar o próprio filho de tenra idade com um cutelo da cozinha ou gritar uma obscenidade na igreja e imagens sexuais (por ex., imagem pornográfica recorrente).
Contra a vontade, a obsessão leva a imaginação a uma série de consequências exageradas e que a pessoa quer evitar a todo o custo. Associada à obsessão, normalmente surge uma necessidade urgente de agir. Parece que a única forma de neutralizar os pensamentos que aparecem é de agir para prevenir o perigo. A ação que surge nesse momento tem o nome de compulsão.
O que é uma Compulsão?
Uma compulsão é uma ação a que a pessoa se sente obrigada a fazer repetitivamente para diminuir a angústia e sofrimento provocado pelas obsessões. As compulsões podem-se apresentar como ações observáveis ou como rituais mentais (ação que se desenrola na nossa cabeça). O objetivo da compulsão é diminuir o sofrimento apresentado pela obsessão.
As compulsões provocam um alívio temporário da ansiedade, da angústia e da impressão trazidas pela obsessão. Pode, também, ter a forma verbal como a repetição de frases ou palavras de forma a se reconfortar ou a receber o reconforto das outras. Pode ainda ter a forma de uma estratégia mental se a forma de se ver livre da obsessão é de substituir esse pensamento por uma imagem reconfortante ou uma história, por uma contagem ou efetuar um ritual mágico.
As compulsões são, pois, comportamentos repetitivos (por ex., lavar as mãos, ordenar, verificar) ou atos mentais (por ex., orar, contar, repetir palavras em silêncio) cujo objectivo é prevenir um mal idealizado. Ou melhor, reduzir a ansiedade ou sofrimento que essa fantasia acarreta. Na maioria dos casos, a pessoa sente-se compelida a executar a compulsão para reduzir o sofrimento que acompanha uma obsessão ou para evitar algum acontecimento ou situação temidos.
Perturbação Obsessivo-Compulsiva Sintomas
É normal e saudável alguém ser cuidadoso com a higiene e com a arrumação da casa, ou verificar se trancou a porta de casa quando sai. Mas para um doente com Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC), certos comportamentos são repetidos e feitos com um rigor muito para além do necessário e do saudável. E se não os realizar desta forma, o doente sente uma ansiedade e desconforto enormes. Por exemplo, um doente com POC pode passar muito tempo a lavar as mãos até sentir que finalmente tem as mãos limpas, ou pode sentir-se obrigado a verificar várias vezes se deixou todas as torneiras desligadas quando sai de casa.
Os rituais são estratégias para parar o pensamento obsessivo. Funcionam até ao próprio pensamento nos perturbar novamente, num ciclo sem fim.
As características essenciais da Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) são as obsessões e/ou compulsões recorrentes, suficientemente graves para consumirem tempo (mais de uma hora por dia) ou causar sofrimento acentuado ou prejuízo significativo. O indivíduo reconhece que as suas obsessões e/ou compulsões são excessivas ou mesmo irracionais.
Obsessões
As pessoas com Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC) podem manifestar uma série de sintomas que causam tensão, medo, culpa e ansiedade e interferem nas atividades da vida diária, no trabalho e nas relações. Estes são os principais sintomas:
- Ter pensamentos estranhos que não saem da cabeça, como a ideia de que está contaminado por sujidade, germes ou fluidos biológicos;
- Ver, mentalmente e de forma repetida, imagens perturbadoras, como a morte da própria família;
- Ter medo de perder o controlo e de causar danos a si próprio ou aos outros (por exemplo, cometer agressões, atos violentos de cariz sexual ou blasfémias que são contra os seus princípios, crenças ou religião);
- Ter dúvidas e ruminar constantemente sobre o que deve ou não fazer, sem conseguir tomar uma decisão;
- Inquietar-se com a possibilidade de as coisas não estarem perfeitamente em ordem, equilibradas ou simétricas.
Compulsões
- Repetir constantemente comportamentos ou rituais como limpar a casa, lavar as mãos ou organizar objetos;
- Verificar repetidamente se as luzes e os eletrodomésticos estão desligados ou se as portas estão fechadas (a tarefa pode ser repetida o número de vezes sentido como bom e seguro);
- Examinar detalhadamente o corpo para ver se foi contaminado;
- Fazer contagens ou repetir certas palavras para prevenir que algo de mau aconteça;
- Acumular coisas inúteis, pensando que deitá-las fora dará azar;
- Evitar situações que possam desencadear as obsessões.
Os sintomas de Perturbação Obsessiva-compulsiva (POC), geralmente, começam gradualmente e oscilam em intensidade e gravidade durante toda a vida do indivíduo. Dependendo, também, da eficácia do tratamento. Os picos geralmente acontecem quando a pessoa está a viver um período de stress intenso.
Alguns pacientes são capazes de compreender que as suas obsessões e compulsões não fazem sentido, mas nem sempre é o caso. É muito importante compreender que são pensamentos e atos involuntários, que a pessoa não deseja ter, e que causam grande angústia. Por este motivo, é frequente a associação desta perturbação com a depressão.
A idade média de início da doença situa-se entre os 19 e os 20 anos, mas cerca de um quarto dos casos começam pelos 14 anos, mas pode também ocorrer na infância. O aparecimento tardio de sintomas obsessivo-compulsivos deve ser confrontado com forte suspeita de doença neurológica. Geralmente nos homens surge mais cedo do que nas mulheres e o aparecimento após os 35 anos é raro.
Causas da Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC)
As causas exatas da doença são desconhecidas. No entanto, os investigadores acreditam que há um desequilíbrio químico que está na base da Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC). Perturbações num ou mais dos sistemas químicos que regulam os comportamentos repetitivos podem originar o aparecimento da doença. Este desequilíbrio pode ser hereditário, funcionando os fatores psicológicos e de stress como agravantes dos sintomas.
Existem vários fatores que se associam ao aparecimento da doença:
- Genéticas: A contribuição de fatores genéticos na Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) ficou evidenciada em estudos que indicam que os parentes em primeiro grau (filhos ou pais) de pessoas com POC têm mais probabilidades de ter a doença. Não são ainda conhecidos os genes envolvidos nesta perturbação, mas existem estudos em curso nesta área;
- Biológicas: Contribuem para a doença disfunções nos sistemas de neurotransmissores da serotonina e noradrenalina (que regulam o sono, o humor, a ansiedade e o apetite, por exemplo). Existem ainda estudos de neuroimagiologia que mostram alterações funcionais do neurocircuito, que envolve o córtex orbitofrontal, caudato e tálamo;
- Comportamentais: As obsessões podem ser consideradas estímulos condicionados. Um estímulo relativamente neutro (um pensamento, uma imagem ou sensação) é associado ao medo ou ansiedade, num processo de condicionamento;
- História pessoal: A vivência de abuso físico ou sexual ou de outro trauma durante a infância aumenta o risco de desenvolver a patologia.
Diagnóstico da Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC)
Conhecer os sintomas e os fatores de risco é fundamental para que o médico faça o diagnóstico, uma vez que não existe um exame ou análise que o determine.
Tratamento da Perturbação Obsessivo-compulsiva (POC)
Existem, essencialmente, e de acordo com a investigação científica, duas formas de atuar que registam boas taxas de sucesso: a farmacológica (que requer acompanhamento psiquiátrico) e a intervenção psicoterapêutica de abordagem cognitivo-comportamental.
Medicação para Perturbação Obsessiva Compulsiva
Há fármacos que têm bons resultados no tratamento específico da Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC). Estes fármacos estão disponíveis mediante receita médica, sendo que o psiquiatra recomenda um medicamento que seja adequado à gravidade e ao tipo de caso.
Cerca de seis em cada dez pessoas melhoram com a medicação. Na média, os seus sintomas reduzem para metade. A medicação anti-obsessiva ajuda a prevenir que a Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC) volte, desde que continue a ser tomada, mesmo depois de muitos anos. Infelizmente, cerca de uma ou duas pessoas que pára de tomar a medicação volta a ter sintomas nos meses seguintes. A probabilidade de isto acontecer é muito menor quando a medicação é combinada com psicoterapia.
As medicações mais utilizadas para o tratamento da Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) são os inibidores da recaptação da serotonina (SSRIs), especialmente a clomipramina. Os SSRIs como a fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina, e mais recentemente o citalopram, também demonstraram eficácia no tratamento destes doentes. Novos medicamentos estão em investigação, dando-nos esperanças acerca do tratamento da Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC).
Psicoterapia para Perturbação Obsessiva Compulsiva
O grande objetivo da psicoterapia é reencontrar o equilíbrio emocional. Através de um processo de tratamento cuidadosamente estruturado, a pessoa consegue entender as suas emoções, comportamentos e pensamentos, encontrando o que provoca os pensamentos obsessivos. Mas acima de tudo encontrar o que o torna feliz e em paz com a sua mente. Para isso este método de tratamento ajuda o paciente a:
– Identificar os eventos traumáticos que originaram os medos e os pensamentos constantes ajudando quem sofre na libertação emocional dessas memórias traumáticas;
– Criar mecanismos mentais de forma a bloquear os pensamentos involuntários e agressivos;
– Encontrar estratégias para o ajudar a adaptar-se a novos desafios e a gerir a sua ansiedade;
– Retomar o controlo da sua própria vida e da sua paz interior.
A principal psicoterapia utilizada no tratamento da Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) é a chamada terapia cognitivo-comportamental, considerada um dos tratamentos de primeira linha, juntamente com os medicamentos.
Terapia cognitivo-comportamental na POC
A terapia cognitivo-comportamental baseia-se na constatação de que, se o paciente desafia os seus medos, por exemplo, expondo-se às situações que evita ou tocando nos objetos que considera contaminados (exposição) e, ao mesmo tempo, deixa de realizar os rituais de descontaminação ou verificações (prevenção da resposta), embora num primeiro momento a aflição aumente, em pouco tempo ela tende a diminuir até desaparecer por completo espontaneamente (habituação). Repetindo tais exercícios os medos de tocar em coisas sujas ou contaminadas, de fazer verificações ou a necessidade de realizar rituais acabam desaparecendo por completo.
Além da exposição e da prevenção da resposta, a terapia cognitivo-comportamental utiliza uma série de outras técnicas para correção das crenças e pensamentos distorcidos existentes na Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) com o objetivo de realizar uma reestruturação cognitiva, controlando a ansiedade provocada pelas obsessões sem recorrer às compulsões. A terapia Comportamental desenvolve técnicas para o paciente usar face à ansiedade, desconforto ou disfunção que acompanha as obsessões e compulsões.
No entanto, vários estudos científicos recomendam que a forma mais eficaz de tratar a Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) consiste em aliar medicação à psicoterapia cognitivo-comportamental. Esta combinação permite que a eficácia da medicação seja aumentada pela psicoterapia, e vice-versa. Para além do objetivo direto da psicoterapia, já supramencionado, o psicólogo tem, também, um papel de acompanhamento, gerindo expetativas, progressos e objetivos em parceria com o doente. Um plano terapêutico completo deverá ainda incluir orientação para os outros membros da família.
Complicações devido à Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC)
Frequentemente o individuo com uma Perturbação obsessiva compulsiva evita as situações que envolvam o conteúdo das obsessões, tais como o lixo ou contaminação. Por exemplo, uma pessoa com obsessões envolvendo lixo pode evitar casas de banho públicas ou cumprimentar estranhos. As preocupações hipocondríacas são comuns, com repetidas consultas a médicos. Podem surgir, igualmente, sentimentos de culpa, um sentimento patológico de responsabilidade e perturbações do sono.
Paralelamente e devido ao sofrimento atroz que esta perturbação provoca, pode haver uso excessivo de álcool ou medicamentos sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos.
A execução destas compulsões pode tornar-se uma importante atividade na vida da pessoa, levando a sérias deficiências no relacionamento conjugal, ocupacional ou social. O evitamento generalizado pode mesmo confinar o indivíduo ao lar e agravar, ainda mais, a sua dor.
Possíveis Comorbilidades da Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC)
Perturbação Obsessiva Compulsiva na infância
Atualmente sabe-se que a Perturbação Obsessivo-Compulsiva em crianças é mais frequente do que se julgava, considerando-se que muitas situações estarão, obviamente, por diagnosticar.
Embora a maioria das caraterísticas seja comum a ambos os sexos, a investigação tem demonstrado que esta é uma perturbação que se manifesta de forma distinta em rapazes e raparigas.
Muitas crianças e adolescentes com Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC), frequentemente, são diagnosticados erroneamente com depressão, Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), transtorno de conduta ou outras condições. Na realidade, Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) na infância é bastante comum, ocorrendo em aproximadamente 1% de todas as crianças. Além disso, pesquisas recentes indicam que aproximadamente metade de todos os adultos tiveram sintomas clínicos da doença durante a infância.
Tal como nos adultos, esta perturbação consiste em comportamentos obsessivos compulsivos que ocorrem com enorme sofrimento por parte da criança, em absoluto silêncio, e geram angústia e ansiedade tanto para ela quanto para os seus familiares.
As crianças têm dificuldade em perceber as suas obsessões como coisas sem sentido e as compulsões como excessivas, especialmente durante uma crise. Ao contrário dos adultos, não reconhecem que estas são excessivas ou irracionais.
Sentem-se envergonhadas pelas obsessões e compulsões, tentando a todo o custo, sobretudo na escola, não deixar transparecer e mantê-las em segredo. Manifestam, seguramente, bastante dificuldade em lidar com a ansiedade que sentem.
Mas atenção!
Nem todos os comportamentos que parecem ser obsessivos e compulsivos representam uma perturbação. Alguns rituais (como a canção ou história na hora de dormir das crianças), algumas preocupações “normais”, como por exemplo o medo de contaminação, podem aumentar em períodos de maior stress, como quando alguém na família está doente. No entanto, quando os sintomas persistem, não fazem sentido, causam grande sofrimento ou interferem no funcionamento habitual da criança e da família, merecem atenção clínica.
Obsessões e Compulsões mais comuns em crianças
Perfil da Criança com Perturbação Obsessiva Compulsiva
As crianças que possuem a POC são, geralmente, ansiosas e preocupam-se com tudo, nomeadamente com situações suas e com questões de outros.
Apresentam-se, geralmente, como crianças perfecionistas, meticulosas, cumpridoras, bastante responsáveis e são igualmente ordenadas e rígidas nos seus pensamentos.
Revelam, frequentemente, baixa auto estima e insegurança, dúvidas constantes, cautelas excessivas, rigidez e teimosia, indecisões e medo de se enganar e de dececionar a eles próprios, aos seus pais e outros significativos.
Verifica-se também uma insistência irracional da criança com os outros, no sentido de que executem algo ou ajam exatamente, como deseja ou ainda relutância irracional em permitir que os outros realizem as coisas do modo como pretendem.
Manifestam imensa dificuldade em lidar com possíveis fracassos no seu dia-a-dia, limitando sobremaneira a sua capacidade de autonomia e de tomada de decisão. Não observam em si competências que possuem, e que são evidentes aos olhos dos outros, quer em casa como na escola.
Apresentam também alguns sintomas corporais de ansiedade, que são geralmente relatados em consulta, e que se referem a dores de cabeça constantes e desconforto no estômago.
É fundamental que os pais estejam e permaneçam atentos aos sinais físicos e psicológicos de mal-estar apresentados pelas crianças, para prevenir situações mais complexas e graves.
Estratégias para os Pais
Perante determinados comportamentos estranhos das crianças, surge a suspeita por parte dos pais de que algo não está bem.
Importa que procurem identificar alguns sinais reveladores, nomeadamente:
- – Se apresentarem alguma lesão cutânea, tanto pela lavagem excessiva das mãos, quanto através da auto escoriação;
- – Atenção ao facto, de se verificarem tiques;
- – Demasiado tempo gasto na realização de tarefas quer de casa como da escola;
- – Cadernos rasgados pela insistência em apagar sucessivamente o que executa;
- – Receio de doenças e medo intenso de que algo de terrível possa acontecer a familiares;
- – Aumento significativo de roupas para lavar; demasiado tempo para preparar a cama;
- Fazer constantemente as mesmas perguntas a familiares.
Os pais poderão recorrer a estratégias lúdicas para explicar à criança o que é a Perturbação Obsessiva Compulsiva. Ajudar a identificar os seus sinais e a compreender o seu funcionamento. Para alem disso, deverão procurar não reforçar o funcionamento da Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC) ao participar nos rituais da criança ajudando-a, pelo contrário, com a colaboração do seu terapeuta, a enfrentar, contrariar e gerir as suas obsessões.
Nesta situação, a família deverá procurar um especialista na perturbação em causa.
É essencial não impor à criança que terá que esquecer os pensamentos obsessivos que manifesta. Uma vez que deste modo, só fará com que os mantenha ou pior ainda, que aumente a sua frequência e inclusivamente a intensidade.
Tratamento da Perturbação Obsessiva compulsiva nas Crianças
Perante os sintomas referidos e observados pelos pais, professores e médicos, e uma vez que a criança dificilmente toma a iniciativa de ser queixar, é fundamental recorrem a profissionais especializados.
O tratamento precoce minimiza em muito o prejuízo causado pela Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) que prejudica, fundamentalmente, o seu rendimento escolar e, inclusivamente, os relacionamentos interpessoais.
Nas consultas de Psicologia, os pais deverão beneficiar de toda a informação necessária sobre a problemática em questão. Assim como a criança, neste caso, adaptada a sua idade. Esta última aprenderá também estratégias sobre como gerir a angústia e a ansiedade associadas.
A intervenção com estas crianças apresenta alguns desafios. Como tal, os pais deverão ser integrados em todo o processo de tratamento, uma vez que o trabalho em equipa é essencial à sua eficácia. Existe um claro consenso sobre a frequência com que se inicia a POC na adolescência e inclusivamente na infância.
O processo de intervenção terapêutica ajudará a criança a gerir a ansiedade e desconforto provocado pelas obsessões. Sem recorrer aos rituais para diminuir os seus sintomas. O princípio de base incide não só na gestão do desconforto e ansiedade provocados pela obsessão resistindo ao impulso de agir de forma ritualizada. Mas também familiarizar-se com o sentimento de ansiedade e constatar a ausência de consequências por não realizar a compulsão.
Tenho um amigo/familiar com Perturbação Obsessiva Compulsiva que devo fazer?
A Perturbação Obsessiva Compulsiva (POC) pode ser uma doença frustrante e assustadora. Muitas vezes o doente sente-se incompreendido, isolado e envergonhado. O que torna difícil para os seus familiares e amigos saberem como lidar com a situação. É importante reconhecer que o doente está a tentar lidar com uma doença séria e que precisa de apoio.
O papel mais importante que pode ter é de sensibilizar o doente no sentido de o fazer entender que tem um problema e que precisa de procurar ajuda junto de um psiquiatra e/ou psicólogo.
Depois desse primeiro passo, assegure-se que ele sabe que não está sozinho e que o apoia a cumprir a terapia. Se o psiquiatra ou psicólogo lhe fizer alguma questão, é importante ser honesto. Algumas pessoas precisam de tempo e espaço, outras precisam de motivação e encorajamento. Conhece o seu amigo/familiar melhor do que ninguém, saberá certamente qual a melhor maneira de o abordar. Apesar do secretismo que envolve a Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC), trata-se, medicamente falando, de uma perturbação psicológica tão frequente como a asma ou a diabetes.
Por todas as limitações diárias que provoca, esta doença, também, pode ser difícil para quem convive com uma pessoa com esta perturbação. Os familiares e amigos podem e devem ser envolvidos na intervenção para melhores resultados.
Algumas sugestões para ajudar alguém que sofre de transtorno obsessivo-compulsivo:
- – Fale sobre o assunto. Sempre que necessário, mostre-se disponível para conversar, com empatia e compreensão, sem criticar ou rejeitar;
- – Esteja atento a situações de maior stress e/ou mudança – os sintomas pioram nestes casos;
- – Chame a atenção da pessoa quando esta realiza o comportamento compulsivo. Muitas vezes, devido ao hábito, a pessoa não se apercebe de que está a realizar um ritual;
- – Não participe nos rituais compulsivos e nos rituais obsessivos nem os realize pela pessoa;
- – Aprecie todos os esforços realizados e valorize todos os sucessos conseguidos;
- – Planeie momentos de descanso e distração, incluindo atividades agradáveis e prazerosas.
Os sintomas do transtorno obsessivo compulsivo não tendem a melhorar com a passagem do tempo. Incentive a procura de ajuda profissional que permite uma melhoria elevada dos sintomas e a recuperação da qualidade de vida.
Curiosidades
Artistas famosos que sofrem de Perturbação Obsessiva Compulsiva
Para melhor conhecer a perturbação obsessiva compulsiva veja estes filmes:
– TOC TOC
Para mais questões ou duvidas sobre POC, visite o meu perfil:
Patrícia Oliveira – Psicóloga WeCareOn