Os comportamentos aditivos e as dependências (com ou sem substância) representam um problema de saúde pública. Por essa razão é extremamente importante falarmos da prevenção de comportamentos aditivos. Se considerarmos o consumo de substâncias psicoativas, no quadro europeu, estima-se que cerca de 85 milhões de adultos terão já consumido alguma substância ilícita ao longo da vida, o que corresponde a cerca de um quarto da população adulta (PNRCAD 2013 – 2020).
O que são Comportamentos Aditivos?
Os comportamentos aditivos, entendidos como “processos de adição”, são comportamentos com características impulsivas-compulsivas em relação a diferentes atividades ou condutas, como por exemplo:
- substâncias psicoativas;
- jogo;
- internet;
- sexo;
- compras, envolvendo também um potencial de prazer.
A continuidade e a perseverança deste tipo de comportamento, coexistindo com outros fatores neurobiológicos, psicológicos, genéticos e ambientais, poderá evoluir para dependência. Por dependência entende-se um conjunto de fenómenos fisiológicos, cognitivos e comportamentais que podem desenvolver-se, por exemplo, após o uso repetido da substância.
No caso das Substâncias Psicoativas, a dependência inclui um desejo intenso direcionado ao consumo, descontrolo sobre o seu uso, continuação dos consumos independentemente das consequências, uma alta prioridade dada aos consumos em detrimento de outras atividades e obrigações, aumento da tolerância e sintomas de privação quando o consumo é descontinuado.
No que se refere ao jogo, está definido enquanto transtorno quando assume um comportamento caracterizado por episódios repetidos e frequentes que dominam a vida do sujeito em detrimento dos valores e dos compromissos sociais, profissionais, materiais e familiares”.
Os diversos estudos sobre esta problemática apontam para um fenómeno cuja abordagem deve ser feita de forma sistémica e holística. Uma vez que estão envolvidos diferentes agentes na construção da personalidade de cada indivíduo: família, escola, grupo de pares e comunidade em geral, todos contribuem para a construção de um estilo de vida que faz toda a diferença no modelo a adotar pela criança/adolescente. Neste sentido, importa compreender as causas sociais, culturais, económicas, escolares e familiares, tendo por base uma abordagem multidisciplinar do fenómeno.
Causas e fatores de risco para comportamentos aditivos
Aos fatores que tendem a aumentar a probabilidade de comportamentos aditivos e dependências designam-se fatores de risco e aqueles que inibem ou reduzem a essa mesma probabilidade são designados de fatores de proteção. Estes fatores (de risco e de proteção) encontram-se habitualmente divididos em fatores individuais, familiares e sociais, onde a cultura associada a cada grupo social se afigura como decisiva na definição de estratégias de intervenção.
Após revisão da literatura especializada, é possível concluir que os comportamentos aditivos e as dependências resultam da associação de dois níveis de fatores: pressões sociais (externo) e motivações, crenças e expetativas (interno). Deste modo, ao abordar esta problemática importa ter em conta as necessidades específicas de cada etapa do ciclo de vida da Pessoa, mas também os contextos sociais onde se inserem, pois enquanto espaço partilhado por indivíduos, poderão estar associados a determinados comportamentos de risco ou problemas de saúde.
Ao longo dos últimos 30 anos, vários estudos tentaram determinar as origens e os percursos para o abuso de drogas e a adição – como o problema começa e como ele evolui. Têm sido identificados muitos fatores que ajudam a diferenciar quem estará sujeito a situações que poderão levar a uma maior propensão para o abuso de drogas, daqueles que estão menos vulneráveis. (NIDA, 2003).
Prevenção de Comportamentos Aditivos
Na área da prevenção do consumo de substâncias psicoativas, a identificação dos fatores de risco e de proteção nos grupos-alvo da intervenção permite identificar as “vulnerabilidades” e as “potencialidades” existentes num dado território, através do desenvolvimento de sinergias de capacitação/adaptação dos indivíduos, das organizações e/ou dos contextos locais face ao uso/abuso de substâncias psicoativas, sendo este o primeiro passo para o planeamento ajustado das estratégias de intervenção.
Identificam-se como fatores de proteção as características e condições individuais, sociais ou ambientais (comportamentos, atitudes, contextos específicos) que reduzem a probabilidade de um indivíduo/grupo vir a consumir substâncias psicoativas, ou de que este consumo implique problemas importantes para o indivíduo e para o contexto social onde se insere. Os fatores de proteção permitem assim, diminuir o impacto dos fatores de risco, ou aumentar a capacitação para lidar com eles (PNRCAD 2013-2020).
Catalano, Hawkins e col. (1992), autores do modelo de desenvolvimento social, atribuem uma importância significativa e diferenciadora às relações sociais, nomeadamente à influência positiva do envolvimento e compromisso familiar, da escola e do grupo de pares, permite aferir que as relações podem inibir a adoção de comportamentos antissociais, através da vinculação do indivíduo às normas e aos valores das suas figuras de referência.
De acordo com estes autores, da mesma forma que as crianças e os adolescentes modelam um comportamento adequado, podem igualmente, adotar um comportamento desviante, uma vez que o comportamento humano é condicionado pela procura de satisfação e pelas expetativas individuais do sujeito.
Adoção de Comportamentos Saudáveis
No sentido de promover a adoção de comportamentos saudáveis e pró-sociais, esta teoria identifica a necessidade de estabelecer laços familiares fortes, promover o envolvimento positivo da escola e do grupo de pares e ainda favorecer um compromisso de respeito com as normas sociais.
Deste modo, a prevenção de comportamentos aditivos como o uso e abuso de drogas deve começar nas famílias. É no âmbito familiar que a criança deve ser ajudada a atingir um desenvolvimento adequado, que lhe permita crescer de uma forma harmoniosa, que lhe permita desenvolver as suas capacidades e reconhecer os seus limites.
O sistema escolar é também um dos mais importantes elos da corrente de socialização a que todos estamos sujeitos. A escola é um meio de aprendizagem, de maturação, de enriquecimento (Patrício, 1996). Assente na perspetiva das abordagens ambientais coloca-se o enfoque na criação de condições de segurança e de proteção, que contribuam para assegurar o direito de cada criança a um desenvolvimento seguro e harmonioso: “Todas as crianças têm o direito de crescer em segurança, num clima de tranquilidade, sem medos e sem receios, e protegidas de situações de risco”.