A noção de que o corpo e a mente são partes de um organismo e que a saúde é fruto deste equilíbrio entre as partes do individuo e deste com o meio ambiente, já estava presente nos pais da Medicina Ocidental, Hipócrates e Galeno. Aliás este chegou a observar que mulheres deprimidas apresentavam maior incidência de cancro. A Psico-Oncologia tem, na sua história remota, a contribuição direta de Galeno. E, na sua história recente os desenvolvimentos nos campos da Psiquiatria e da Psicologia. Já que estas áreas foram contribuindo cada vez mais para o conhecimento profundo do ser humano e desenvolvendo diferentes formas de tratamentos.

 

psico-oncologia e cancro

 

O que é a Psico-Oncologia

A Psico-Oncologia surgiu, então, da necessidade de oferecer ao paciente com cancro um modelo de atenção integral, capaz de melhorar a sua qualidade de vida. E aumentar a sua sobrevivência e as possibilidades de reversão da doença, fortalecer os seus recursos para enfrentar a doença e os tratamentos.

 

a interação da Psico-Oncologia

 

 

 Psico-Oncologia e atuação do psicólogo

O cancro é uma doença que se carateriza pela anormalidade das células e a sua divisão excessiva existindo uma variedade enorme de tipos de cancro. Considera-se que o cancro não tem uma única causa, mas sim uma etiologia multifatorial. Para que a doença ocorra, parece ser necessário um conjunto de vários fatores tais como:

  • – A predisposição genética;
  • – A exposição a fatores ambientais de risco;
  • – O contágio por determinados vírus;
  • – A ingestão de substâncias alimentares cancerígenas;
  • – Entre muitos outros.

 

Acredita-se também na possibilidade de haver, significativamente, uma contribuição psicológica no desenvolvimento do cancro. Nomeadamente na relação existente entre estados emocionais e modificação hormonal e desta na alteração do sistema imunológico. Por exemplo no caso do excesso de stress e de quadros depressivos, que enfraquecendo o sistema imunológico, favorecem o desenvolvimento de tumores.

 

 

 

Impacto psicossocial do cancro no doente e na família

O diagnóstico de cancro tem usualmente um efeito devastador. Ele ainda traz a ideia de morte, embora, atualmente, ocorram muitos casos de cura.

Traz o medo de mutilações, dos tratamentos dolorosos e das muitas perdas provocadas pela doença. Esta situação de sofrimento conduz a uma problemática psíquica com caraterísticas específicas.

Os processos emocionais desencadeados nestes doentes exigem um profissional especializado, já que englobam ansiedade, depressão, medo, raiva, revolta, insegurança, perdas, desespero, mudanças de humor e esperança. Em termos sociais surge muitas vezes o isolamento, o estigma, mudança de papeis, perda de controle, perda de autonomia. Que podem ser exacerbados pelas problemáticas relacionadas com o cancro, como as mutilações, a dor, os tratamentos, os efeitos colaterais, uma má relação com o médico, entre outros.

As dificuldades do doente, as suas necessidades, os seus problemas precisam ser atendidos. Seja para facilitar a forma como enfrenta a doença, permitindo uma convivência melhor com ela. Seja para melhorar o seu estado emocional, consequentemente, melhorar a sua condição física geral, auxiliando na sua recuperação e até possível cura.

 

Estratégias da Psico-Oncologia durante tratamento do cancro

Há um enorme sofrimento emocional associado ao cancro, que não pode ser ignorado. Pois este leva a uma redução significativa na qualidade de vida do doente e dos seus familiares e pode afetar de forma negativa a ade­são aos tratamentos de reabilitação.

Para além dos fundamentais tratamentos médicos, é essencial que os doentes oncológicos tenham acesso a acompanhamento psicológico ao longo de todas as fases da doença. Este acompanhamento permite minorar as elevadas taxas de perturbações psicopatológicas que dificultam, bastante, o processo de recuperação integral destes pacientes.

A Psico-Oncologia para além de contribuir para uma melhoria significativa da qualidade de vida dos doentes e dos seus familiares, visa principalmente:

  1. Diminuição do tempo de recuperação clínica;
  2. Melhor percepção e controlo sobre a doença;
  3. Diminuição das somatizações;
  4. Auxiliar na tomada de decisões
  5. Redução da polimedicação;
  6. Maiores índices de combatividade;
  7. Adesão terapêutica mais adequada;
  8. Prepa­ração do paciente para a realização de procedimentos invasivos dolorosos;
  9. Diminuição dos índices de perturbações depressivas e ansiosas;
  10. Desenvolvimento de formas mais eficientes para enfrentar a doença;
  11. Promover a expressão de emoções;
  12. Procurar significados para os acontecimentos da vida e estabelecer uma rede social significativa;
  13. Colaborar no desenvolvimento de competências para uma nova vida
  14. Revisão de valores para o regresso à vida profissional, familiar e social ou para o final da vida.

 

Todas essas estratégias favorecem, também, a redução de angústia e ansie­dade dos familiares, pois proporcionam espaço de escuta para eles. Além disso, a troca de vivências entre os familiares leva-os a compreenderem que muitas pessoas compartilham de sentimentos semelhantes.

 

 

A Intervenção em Psico-oncologia

Os níveis de ansiedade associados ao diagnóstico e tratamento do cancro acarretam perdas importantes na qualidade de vida implicando uma necessidade de ajustamento psicossocial nos doentes e familiares.

A saúde mental dos doentes oncológicos pode ser prejudicada se não utilizarem estratégias de coping adequadas para lidar com a doença e com o stress a ela associado, e assim existir um prejuízo da qualidade de vida.

As alterações psicológicas podem, apenas, constituir uma etapa passageira no processo de adaptação psicológica à doença. Ou podem conduzir a quadros clínicos severos, caso os doentes não apresentem recursos pessoais ou psicológicos suficientes para superar as experiências inerentes ao cancro.

As intervenções podem ser individualmente ou em grupos, e possuem objetivos que podem ser educacionais, terapêuticos ou psicoterapêuticos. Podem ser utilizadas:

–  Intervenções verbais, como a cognitiva-comportamental;

– Técnicas de abordagem corporal, como o relaxamento;

– Técnicas imaginativas, tais como visualizações, imaginação dirigida, imaginação ativa;

– Técnicas expressivas. Tais como o trabalho com miniaturas na caixa de areia, a expressão corporal e as dramatizações, entre outras técnicas.

Os psicólogos são agentes facilitadores na identificação dos medos, dúvidas e expetativas do doente oncológico. Bem como na comunicação mais eficiente entre médico/paciente. Além disso, contribuem no desenvolvimento de estratégias de prevenção e de intervenção com cuidadores e pacientes frente às perdas, muitas vezes irreversíveis, determinadas pela doença.

 

 

a intervenção em psico-oncologia

 

A Psico-Oncologia no âmbito dos cuidados paliativos e luto

A a essência dos cuidados paliativos é, essencialmente, aliviar dores e sintomas. É cuidar dos pacientes para quem a medicina já não oferece recursos curativos.

É expectável que as competências do psicólogo se centrem no alívio do sofrimento do doente e da família. E que facilitam o processo de adaptação à doença e à morte (estratégias de coping adaptativas).

O psicólogo terá que ter competências para intervir em sintomas psicopatológicos, perturbações psicológicas, no processo de luto, em comportamentos desajustados face ao processo de fim de vida, controlo de sintomas, counselling, corresponder às necessidades emocionais, acontecimentos críticos, através essencialmente de estratégias de comunicação e técnicas de intervenção psicológica.

A intervenção psicológica para os pacientes que se aproximam da fase terminal, tem o potencial de melhorar a sua qualidade de vida. A psicologia em cuidados paliativos tem vindo a comprovar a sua importância no bem-estar espiritual, no encontro de sentido/significado (de vida ou outros), e na necessidade da abordagem das questões da terminalidade da pessoa.

 

 

E depois do cancro? Reabilitação e qualidade e vida

A Psico-oncologia preocupa-se em apresentar e proporcionar ao doente o prazer pela vida. Trabalhando as suas angústias, fortalecendo a ideia que o tratamento é eficiente e de que existem poderosas defesas no seu corpo. Desmistificando assim crenças erradas. Facilitando ao doente a obtenção de uma clara percepção sobre si mesmo, com o objetivo de que passe a acreditar na possibilidade de resolver os problemas que forem surgindo. E, assim, participar ativamente da busca de qualidade de vida.

O facto do doente oncológico receber acompanhamento psicológico ao logo das diferentes fases da sua doença, para além de beneficiar todo o processo de tratamento médico e potencializar uma melhoria significativa da qualidade de vida do doente, poderá ser determinante no aumento da sua esperança média de vida. Transformando-se assim num aliado terapêutico de enorme valia!

 

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Patrícia Oliveira – Psicóloga WeCareOn