Artigo sobre Resiliência, escrito por Cristina Reis e Marisa Pereira, psicólogas na WeCareOn.
Em primeiro lugar, sugiro que pense na situação mais difícil ou traumática que até hoje vivenciou e escreva-a numa folha de papel.
O que é a Resiliência?
A gestão que fazemos dos momentos mais difíceis das nossas vidas define muitas vezes a capacidade futura de lidar com potenciais eventos traumáticos. Indivíduos que conseguem construir-se positivamente frente às adversidades. Identificando sempre o lado positivo de todas as situações são os chamados indivíduos resilientes.
Desenvolver a capacidade de se reerguer perante situações difíceis. Isto é, a resiliência, irá ajudá-lo a ver o lado positivo mesmo nos momentos mais negativos. É importante clarificar que resiliência não é sinónimo de ignorar os acontecimentos. Não significa fingir que não aconteceu, nem é suposto agir como se estivesse tudo bem mesmo quando não está. Não. Ser resiliente é acima de tudo ter consciência do que lhe aconteceu, enfrentar e integrar esse acontecimento na sua história de vida. Também na área da infância e da adolescência, perceber se estes estão a ser resilientes face a uma situação traumática ou não. É importante perceber e se necessário intervir.
Já pensou numa situação difícil que teve que enfrentar? Agora desafio-o a refletir sobre o que mudou na sua vida desde este acontecimento.
O azar é uma palavra muito frequente no vocabulário da sociedade. Muitas pessoas consideram-se azaradas. Mas tudo muda quando se decide simplesmente eliminá-la do nosso pensamento. Sim, quando se decide. Muitas coisas que acontecem na sua vida poderão não estar ao seu alcance mas a forma como irá encarar esse acontecimento será sempre uma decisão sua.
No entanto, não desmotive porque esta é uma boa notícia! Significa que tem poder de escolha e que esta é uma das poucas coisas que consegue controlar. Porque não aproveitá-la? Certamente já deve ter passado por situações em que não conhecia um determinado carro e a partir do momento em que reparou nele passou a vê-lo em todo o lado. Outro exemplo pode ser pedir-lhe para não pensar numa maçã verde. Em que pensou? Presumo que tenha pensado precisamente numa maçã verde.
O processo será exatamente o mesmo se o que tiver em mente for a palavra azar e todo o peso negativo associado. Na sequência de uma experiência fortemente negativa, é muito fácil e até quase automático enunciar aspetos negativos que surgiram. Quase parecendo que se multiplicam quando nos focamos neles. Ao desenvolver a sua resiliência estará a investir na sua felicidade. E também a desviar o foco de atenção para o lado positivo.
A Resiliência em idades jovens
Em idades mais precoces, desenvolver a resiliência, permite à criança ou ao adolescente, perceber a adversidade / situação traumática pela qual passou. E desenvolver capacidades de resiliência para poder continuar o teu desenvolvimento de forma harmoniosa.
Pais, educadores e outros prestadores de cuidados, muitas vezes tendem a achar que quando a criança colocada perante uma adversidade, ou um fator de risco, mas continua a brincar, a comer e dormir bem, a ser sociável, que está tudo bem, que a criança/adolescente ultrapassou o trauma. Isto não é verdade. Muitas vezes as crianças, porque lhes é doloroso, optam (mesmo que inconscientemente) a não pensar no assunto e fazer coisas que lhe são prazerosas e portanto, parecem felizes.
O que acontece muitas vezes, é que o trauma fica no inconsciente. E noutra fase do seu desenvolvimento ou mesmo na fase adulta perante um qualquer acontecimento, vai despoletar sentimentos e comportamentos que deveriam ter tido no momento do trauma. Aqui percebemos que a criança não foi resiliente. Ela “escondeu” o que sentiu face a uma situação traumática. Assim, é importante uma avaliação psicológica para perceber que movimento a criança está a desenvolver e como forma de prevenção, resolver o que a criança sente, para não sofrer numa fase adulta.
Pense agora no que fez para ultrapassar ou tentar superar este acontecimento difícil.
A resposta resiliente depende de um conjunto de fatores. Estes exercem um papel fundamental na forma como enfrenta as situações mais críticas. Como:
- A sua auto-estima;
- Uma maior autonomia;
- Um forte suporte social;
- A capacidade de aceitação da realidade, de improvisação;
- A criatividade e ainda o sentido de humor.
Refira-se que no caso das crianças e adolescentes, muitas vezes estes estão expostos a fatores de risco como:
- consumo de álcool e substâncias, violência;
- abandono afetivo;
- doença mental grave, em suma famílias ou prestadores de cuidados num ambiente disfuncional.
E estes fatores de risco não lhes permitem ser resilientes nem expressar o que sentem. Mas sim, contornar as emoções e isto não é ser resiliente! Numa família funcional e em que as relações de afetos são bem trabalhadas e estão muito presentes e fortalecidas, é mais provável que à criança seja permitida uma maior capacidade resiliente.
Como desenvolver a Resiliência?
Escreva agora num papel o que acha que ainda pode fazer para superar essa situação crítica.
O primeiro passo para ser resiliente passa por desenvolver uma atitude positiva. Pois ter pensamentos positivos traduz-se em emoções positivas. Que por sua vez aumentam a sua resiliência em geral.
Aceitar as mudanças que a vida lhe trouxe e fazer as pazes com o passado. Torna-o menos resistente às mudanças e facilita a sua adaptação a novas situações. Olhe para os imprevistos e liberte-se de tudo o que não pode controlar.
Evite ver a crise como algo insuperável. Na medida em que se já superou outras situações difíceis nada indica que não superará esta também.
Invista na criatividade e em novas ideias e aumente o controlo sobre a situação. Tenha uma mente aberta e experimente coisas novas, saindo da sua zona de conforto. Ao pensar em mais soluções para os seus problemas torna-se mais fácil ver o mundo sob várias perspetivas.
Perseguir os seus sonhos ajuda-o a estar focado nos seus objetivos e a aumentar o sentido de controlo sobre a sua vida. Escreva uma lista de objetivos que pretende concretizar e concentre-se no que é possível controlar: a sua atitude.
Aumente o seu conhecimento sobre a situação crítica em questão. As pessoas resilientes tendem a ser mais curiosas e querem sempre saber mais. Abraçam o desconhecido e interessam-se por novos assuntos e sentem-se mais preparadas para enfrentarem desafios.
Cuide de si. Durma bem, alimente-se de forma saudável, pratique desporto, socialize, relaxe e invista nas atividades que mais lhe dão prazer. Se sentir que precisa de ajuda para ser mais resiliente face a uma situação difícil, procure a ajuda especializada de um psicólogo.
Reflita agora sobre as coisas positivas que a situação crítica lhe trouxe?
Retirar algo positivo dos momentos negativos e dos erros cometidos, vendo-os não como atrasos mas sim como oportunidades de crescimento ajudará a mudar a sua perspetiva de visa. Invista tempo a refletir em como esta situação o deixará mais forte e foque-se no que pode aprender para evitar repetir o mesmo erro futuramente.
Mesmo quando tudo parece mau, pode optar por cultivar o seu sentido de humor. Ver o lado humorístico da tragédia ajuda a relativizar e a sair da situação, sobretudo porque o sentido de humor aumenta o bem-estar e pode mesmo melhorar a sua saúde em geral. Esta capacidade é algo que se treina, pelo que deve aprender a rir-se de si mesmo.
Uma criança ou um adolescente não conseguem por si só fazer este exercício, portanto a necessidade urgente de uma intervenção psicológica.
A resiliência designa a arte de se adaptar às situações adversas (condições biológicas e sociopsicológicas) desenvolvendo capacidades ligadas aos recursos internos (intrapsíquicos) e externos (ambiente social e afetivo), que permitem aliar uma construção psíquica adequada e a inserção social (Anaut, 2002, p.43).
Por fim, liste os seus interesses, enumerando as coisas que mais gosta de fazer e pense em como pode aproveitar este acontecimento difícil para mudar algo na sua vida, relacionando este momento crítico com os seus interesses.
Na vida existirá sempre o lado bom e o lado mau em qualquer uma das questões. No entanto, é possível e é uma questão de escolha optar que lado quer alimentar e que lado quer controlar. Para uns, um problema pode constituir um fardo, para outros, o mesmo problema pode ser visto como uma oportunidade. Vendo o copo meio cheio, o lado positivo é que esta opção depende de si. Em idades tenras não existe esta perceção e por isto, mais uma vez, a necessidade de procurar a ajuda de um psicólogo.
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Por Cristina Reis e Marisa Pereira– Psicólogas @ WeCareOn