Chega o verão, e com isso as tão desejadas férias dos mais novos. O ano escolar encerra e agora é tempo de relaxar e aproveitar o bom tempo e todos aqueles os brinquedos/jogos que tantas vezes foram trocados pelos livros.
Mas, com o verão chegam também várias perguntas e preocupações que não devem ser deixadas no vazio, e às quais devemos prestar atenção. Devem as crianças ficar sozinhas em casa?

 

O desafio é difícil, como fazer quando se tem 22 dias úteis de férias contra 3 meses?

 

São várias as soluções que passam desde a ida para casa de familiares, ATL’s, colónias de férias, cursos e workshop’s para crianças, entre outros.

 

Mas e quando não existem opções?

 

Aí surge a questão, ainda que por necessidade e falta de recursos, devemos deixar as crianças sozinhas em casa?

 

A partir de que idade o posso fazer?

 

Esta não é uma decisão fácil e há que ter em conta alguns factores determinantes. Não é possível delinear uma idade específica, até porque as crianças não são todas iguais. É importante ter em conta a maturidade de cada criança, bem como a capacidade de autonomia e gestão emocional, disposição e o à vontade da mesma. Não existe uma idade certa, ainda assim se tivesse de “apontar” uma idade, diria que talvez entre os 13/14 anos, sendo que o mesmo deve acontecer por curtos períodos de tempo.

 

Depois, há que definir algumas regras e procedimentos, nomeadamente deixar contactos de emergência, sensibilizá-la para que não abra a porta a qualquer pessoa e deixar preparado refeições evitando situações de risco.
Outro aspecto que pode ajudar bastante é uma relação positiva com os vizinhos, afigurando-se estes como um auxílio para a criança durante o período de tempo em que está sozinha, bem como, elementos de supervisão para os pais.

 

Quais são os principais perigos que as crianças correm quando estão sozinhas?

 

Existem vários perigos que, muitas vezes estão mais perto do que imaginamos sendo por isso importante falar sobre eles. Ao deixar uma criança sozinha em casa, sem que se defina muito bem algumas regras e procedimentos corremos alguns riscos desnecessários. Os perigos são vários, desde incêndios, assaltos e tantos outros que conhecemos. No caso de existir mais do que uma criança, existe o risco de discutirem entre eles ou passar demasiado tempo no computador e nas redes sociais.

 

Quais são os “perigos modernos” de deixar uma criança sozinha em casa?

 

Existem vários perigos quer na rua ou, ao deixar crianças sozinhas em casa. Eu diria que os “perigos modernos” são todos aqueles que estão intimamente ligados ao contacto excessivo com a nova tecnologia. Ocupar o tempo de uma criança não é fácil e quando esta está sozinha, mais difícil é. Cansam-se de fazer as mesmas coisas, procurando novas experiências ou brincadeiras.

 

Se antigamente as crianças saiam à rua para brincar com os amigos, jogar à bola, andar de bicicleta, hoje em dia, principalmente nas cidades isso não acontece. Por isso, ficam em casa entretendo-se com a playstation, à conversa com os amigos no facebook ou a publicar fotografias no Instagram.

 

Estes são os “perigos modernos”, o isolamento, a falta de oportunidade de estabelecer e desenvolver relações interpessoais positivas, a dependência das novas tecnologias, entre outros.

 

Se ficarem sozinhos em casa que cuidados os pais devem ter?

 

Antes de qualquer criança ficar sozinha em casa, para além de reflectir sobre a maturidade e capacidade de autonomia da mesma, há que a ir preparando e ensinando a reconhecer os perigos e a saber como reagir perante qualquer um deles.

 

Este deve ser um processo gradual e dialogado com a criança. É importante que os pais criem espaços de diálogo com a criança de forma a que, em conjunto definam regras acerca da utilização da casa e dos seus bens.

 

Para além disso, devem questionar-se se a criança sabe trancar/destrancar a porta, se consegue chegar ao visor, se sabe efectuar chamadas e quais os numero para quem deve ligar, se sabe o que fazer no caso de tocarem à porta, tem consciência das horas a que deve comer e se sabe como fazê-lo, se é capaz de estar entretido durante esse tempo, se fica calmo e descontraído durante essa estadia, entre outros. Estas são as situações que devem ser conversadas e se possível, treinadas.

 

Quando a altura chegar, então os pais devem deixar de forma visível os contactos de emergência, ir telefonando ao longo do dia, deixar devidamente preparado o almoço/lanche para que a criança não precise de recorrer a nenhum objecto perigoso e ainda podem, delegar algumas funções à criança como (arrumar o seu quarto/fazer a cama) e avisá-la a que horas chega a casa, de forma a que mesma não fique agitada ou ansiosa.

No caso dos adolescentes, é importante conversar sobre os amigos e as suas visitas, sendo este um aspecto que deve ser negociado e definido com regras claras e objectivas.

 

Se não tem a quem recorrer nem meios financeiros para colocar a criança numa instituição, não se preocupe nem se sinta culpado/a. Estes são alguns pontos que deve ter em atenção, para que tudo corra bem.

 

Raquel Ferreira – Psicóloga WeCareOn