As nossas emoções também nos sobrecarregam no actual contexto, enchendo-nos de apatia, de uma névoa mental na qual a concentração falha e até uma exaustão física que se torna evidente. As emoções falam e devemos escutá-las, agora mais do que nunca.

 

Quais são os sintomas de uma sobrecarga emocional durante a pandemia?

 

A sobrecarga emocional durante a pandemia pode ter duas origens. A primeira, e mais grave, pode surgir de uma experiência traumática, como a perda de um membro da família devido ao Covid-19. A combinação de emoções, o sofrimento e a evidente dificuldade em elaborar em condições o processo de luto, dadas as circunstâncias actuais, potencializam essa realidade psicológica.

 

Além disso, a sobrecarga emocional durante a pandemia pode surgir de um acúmulo constante de pequenas situações. O stress diário, as preocupações que se acumulam e os dias muito parecidos entre si podem fazer-nos cair nessa espécie de abismo, tão comum.

 

Como saber se você sofre de uma sobrecarga emocional?

 

  • Você reage desproporcionalmente a situações comuns. Por exemplo, ao voltar para casa depois de fazer compras e não encontrar as chaves no bolso, você experimenta uma sensação de pânico.
  • Também é comum a dificuldade de se concentrar e executar tarefas simples.
  • É difícil manter uma conversa normal com a família e os amigos. É como se os outros estivessem noutra frequência, onde você se sente incompreendido(a) e até zangado(a).
  • As emoções estão sempre à flor da pele. Você sente vontade de chorar por qualquer coisa, fica com raiva sem motivo aparente e a apatia é constante, não se permitindo distrair ou divertir com nada.
  • Por sua vez, existe um efeito evidente da sobrecarga emocional: o cansaço físico. A exaustão é tão intensa que às vezes até se pergunta se já não terá apanhado a COVID-19.

 

 

 

Assim, como administrar os efeitos da sobrecarga emocional no actual contexto?

 

A sobrecarga emocional durante a pandemia alerta-nos para algo óbvio: as suas emoções estão a falar por si e precisam da sua atenção. O objectivo, portanto, não é extinguir essa névoa emocional através da negação ou de uma abordagem supostamente “lógica” em que você diz a si mesmo(a): “Tenho apenas que concentrar-me e controlar-me, senão perco a cabeça”.

 

Não é altura para ser duro consigo mesmo(a). As emoções dão significado à experiência, são o património da biologia humana e devem ser integradas através de um processo de compreensão das mesmas que leve a uma aceitação. Aceitar significa simplesmente não mais exercer força de bloqueio interno contra elas, o que perpetua um estado de “dissociação” e conflitualidade permanente dentro de si. Aceitar não significa também resignar-se e nada fazer. Pelo contrário. Só quando aceitamos as nossas emoções podemos estar, finalmente, em condições de as transformar positivamente. Somente então você lidará melhor com os dias difíceis.

 

  • Crie espaço para cada emoção sentida, acolhendo-a, aceitando-a, em vez de continuar a negar ou a ignorar as suas próprias emoções.
  • Não se puna nem vire a cara para essa névoa emocional. Visualize-a como um emaranhado de linhas coloridas. Você deve separá-las uma por uma e identificá-las, dar-lhes um nome.

 

O que é que você sente? É tristeza? Angústia? Medo? Frustração? Nostalgia…?

 

Partilhe, dê espaço e lugar a cada sentimento e aceite-se sem criticar a forma como você se sente. Essas emoções exigem o seu tempo, a sua compaixão (não precisam da sua auto-hostilidade, disso elas têm tido de sobra… e tem ajudado??…).

 

  • Torne-se consciente do seu raciocínio emocional

 

Um dos motivos pelos quais essa sobrecarga emocional surge durante a pandemia é o raciocínio emocional que você faz de tudo o que escuta, pensa ou vê.

  • Crie momentos de desconexão com os problemas e conexão com coisas boas, espaços de calma.

 

Sabemos que a sobrecarga emocional durante a pandemia é algo que muitas pessoas podem e estão a experienciar.

 

 

Portanto, nunca é demais ter em mente algumas ‘dicas’ simples para a sua sobrevivência (emocional!) diária.

 

✅ Regule a sua exposição aos ‘media’

✅ Mantenha um registo de emoções e pensamentos. Um “diário de bordo” onde você possa entrar em contacto com o seu universo interno.

✅ Dê-se a si mesmo(a) momentos de calma para mergulhar em actividades agradáveis nas quais o pensamento descansa e as emoções positivas fluem.

✅ Converse com pessoas que saibam escutá-lo(a). Pessoas que adicionem e não subtraiam.

 

Pense na sua mente como que fosse uma sala: ela deve estar organizada e a luz deve entrar em cada recanto, sem deixar nada escuro. Noutras palavras, nenhuma emoção deve ser ignorada e varrida para debaixo do tapete. Caso contrário, o acúmulo de “lixo” emocional e psicológico que encontrará mais tarde será, como pode imaginar, inevitável.

 

Lembre-se que em situações difíceis, você nunca deve antecipar o pior para tentar estar preparado. Essa fórmula não funciona e serve apenas para aumentar a sua ansiedade e a sobrecarga emocional.

 

Sara Ferreira – Psicóloga, Psicoterapeuta, Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses