Reconhece aquela voz na sua cabeça que lhe diz o que fez mal ou o que poderia ter feito melhor? Bem-vindo ao mundo da crítica interna ou autocrítica!

Todos nós precisamos de ter alguma crítica interna no sentido da nossa evolução.

Imaginemos ausência completa de crítica: Como definiríamos objetivos para a nossa vida? Como iríamos evoluir? Como iríamos aprender? Perante a ausência de crítica interna seríamos seres completamente fechados para nós mesmos e para o mundo, sem grande foco nem grandes metas!

Pois provavelmente estará a pensar que o seu problema não é propriamente a ausência de crítica, mas antes o excesso dela. Adivinhei? É algo que não é assim tão raro e que, infelizmente, pode ser bastante doloroso, comprometendo a nossa autoconfiança.

Muitas vezes acabamos por nos sentir uns impostores (“Mais tarde ou mais cedo vão descobrir que não sou assim tão bom!”), assim como podemos sentir uma grande ansiedade de desempenho e uma constante sensação de insuficiência (“Nunca chega!”).

Então, é importante aprendermos a “dosear” a nossa crítica interna de forma a que a mesma nos sirva para nos adaptarmos, superarmos desafios e sermos bem-sucedidos nos nossos objetivos, contribuindo para uma melhoria da nossa autoestima.

Como pode dar a mão à autocrítica e fazer dela a sua maior aliada?

1. Seja empático e compassivo consigo mesmo.

Costumo dizer que quando semeamos, mais tarde ou mais cedo, os frutos aparecem.
Traga a tolerância para o seu vocabulário interno! É importante parar para observar o seu percurso até aqui e comparar-se consigo mesmo (“Onde estava há 5 anos atrás?”, “Onde estou agora?”). Tantas vezes nos comparamos com os outros, sentindo-nos frustrados (porque só vamos olhar para o que ainda não temos ou somos), e esquecemo-nos de reparar nas nossas conquistas. Basta saber que está a dar o seu melhor e elogiar-se por isso!

Se constantemente procurar a aprovação dos outros ou resultados exteriores muito concretos, a crítica será inimiga, porque lhe lembrará várias vezes sobre o que fez mal, o que poderia ter feito melhor e o que faltou! Lembre-se que para se sentir realmente bem, a medida do sucesso precisa de ser sua, baseada nas aprendizagens que fez ao longo do seu percurso.

Não se esqueça que as falhas são oportunidades de aprendizagem e melhoria, pelo que é importante sentir-se confortável com isso e treinar um discurso mais construtivo em vez de destrutivo. Por exemplo “Dei o meu melhor e estou tranquilo com isso! Ali errei, porque ainda estou a aprender, é normal, e para a próxima já não me vou esquecer!”.

Quando notar que a crítica interna está a ser muito destrutiva, lembre-se de ser mais empático consigo mesmo, colocando de lado os pensamentos negativos, reconhecendo o que fez bem e procurando algumas novas aprendizagens. Isto irá ajudá-lo a sentir-se mais confiante, a gerir o stress de forma mais equilibrada e a diminuir a sensação de que é um impostor.

2. Defina metas e objetivos significativos

Quando se foca na crítica interna destrutiva, o pessimismo e o julgamento serão os principais motores para se sentir mais desmotivado e incapaz. É como se entrasse numa espiral negativa de dúvidas e incertezas, colocando a crítica destrutiva no comando da sua vida. Assim, é importante definir o sucesso de acordo com o seu percurso de vida, as suas aprendizagens, os seus tempos e não de acordo com o que é suposto ou o que a sociedade lhe diz. Não existem manuais de instruções para a vida!

Da próxima vez que notar que a autocrítica está a ir para o lado destrutivo, lembre-se de:
1. Manter uma visão positiva mesmo numa circunstância difícil (o otimismo é uma excelente ferramenta para lidar com o stress);
2. Flexibilizar e considerar soluções alternativas;
3. Manter um discurso empático e compassivo mesmo em momentos de conflito interno;
4. Reforçar positivamente o quão se esforçou, o quão deu o seu melhor e o quão permaneceu fiel àquilo que mais lhe fazia sentido;
5. Pedir ajuda se necessário (Nem os grandes heróis trabalham sozinhos!).
Estas são algumas estratégias para tirar a autocrítica destrutiva do comando e antes fortalecer a introspeção e o crescimento interno.

3. Colocar o foco no crescimento e aprendizagem

Bem sabemos que o mindset com que nos envolvemos no que quer que seja influencia muito a forma como nos sentimos. Dessa forma, se o nosso foco é na possível falha ou avaliação negativa dos outros, a autocrítica tenderá a ser mais destrutiva. Por outro lado, se colocarmos um foco de aprendizagem e crescimento, iremos estar mais motivados e realmente envolvidos no que estamos a fazer.

Quaisquer que sejam as circunstâncias, tente olhar para elas como uma oportunidade de crescimento, pois isso dar-lhe-á um maior sentido de autoeficácia. E isto porque se aperceberá que ultrapassar uma situação difícil irá ser possível porque conseguiu desenvolver o conhecimento e as competências necessárias para lidar com a mesma.
Claro que existem uma série de medidas externas de sucesso (como por exemplo uma nota num teste, um ser admitido ou não num novo empreso), mas a nossa medida interna, desde que alinhada com os nossos valores e objetivos, terá bastante maior poder na nossa autoestima. Não depende dos outros, o que, por si só, é uma mais valia para nos deixarmos de correr atrás de algo que nunca chega!

Vamos sempre a tempo de mudar o nosso discurso interno e também a forma com olhamos para nós mesmos e para o que nos rodeia! Pedir ajuda é também um sinal de motivação para a mudança e crescimento, por isso, não hesite em fazê-lo, caso sinta que precisa.

Vamos a isso?

 

 

 

 

Inês Chiote RodriguesPsicóloga Clínica na WeCareOn