É comum ouvirmos das pessoas que elas temem ir ao psicólogo clínico por acharem que os outros vão pensar que elas estão mentalmente doentes. Mas, gostaria de dizer-vos que a psicologia clínica não se restringe apenas ao tratamento, através da psicoterapia, das doenças mentais. Podemos buscar um psicólogo clínico porque nos queremos compreender melhor, entender o sentido dos nossos conflitos, dos nossos sintomas emocionais. Dos nossos desejos e das nossas escolhas. Até mesmo em pequenas ou grandes mudanças da nossa vida, podemos e devemos procurar um psicólogo clínico  para nos ajudar a adaptar a uma nova fase. Para que possamos prosseguir emocionalmente estáveis.

Cada vez mais o paradigma da saúde como ausência de doença é questionado e é ressaltada a importância de se considerar as forças e os potenciais individuais simultaneamente ao sofrimento. Afinal, a ausência de um diagnóstico psicopatológico não significa que necessariamente a pessoa esteja psicologicamente saudável, em florescimento. Seu potencial construtivo pode não estar sendo explorado. Pode predominar um sentimento de falso eu e a sensação de que não se consegue ser autêntico. Muitas vezes adaptamos-nos a novas vivências sem questionar se estamos felizes, simplesmente porque tendencialmente achamos que é o mais correto e racional.

 

O que é a psicologia clínica?

A psicologia clínica é, portanto, uma profissão que engloba a avaliação psicológica, o aconselhamento, a orientação vocacional e a psicoterapia. Que pode ser ou não breve, isso dependerá de cada caso e da idade do cliente. É comum a psicoterapia com crianças ser breve por estarem em constante mudança e precisarem apenas de um apoio para ultrapassar determinado acontecimento das suas vidas. Facilitando assim o desenvolvimento psíquico de forma harmoniosa. Noutros casos em que existe um diagnóstico de uma perturbação grave, o acompanhamento deverá ser prolongado. Podemos atuar em diversos contextos, clínicos, educacionais e organizacionais, com crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias, ou ainda com grupos; e no sentido inclusive da promoção da saúde. E também na prevenção de desvios comportamentais no caso das crianças e adolescentes.

É preciso, contudo, lembrar que nós, psicólogos clínicos, não prescrevemos medicação. E quando ponderamos, junto com o cliente, a eventual necessidade desta, ou quando consideramos importante uma avaliação da saúde física ou uma avaliação psiquiátrica, encaminhamos esse cliente para um médico e, em parceria com este, desenvolvemos um trabalho em conjunto.

Sendo assim, uma das ferramentas mais importantes do psicólogo no âmbito clínico é a escuta. Pois é através dela que buscamos compreender, sem julgamentos e com confidencialidade, os desejos, problemas e queixas emocionais trazidos pelo cliente. E a partir de cada história de vida, desenvolvemos um plano terapêutico específico.

 

 

O Psicólogo Clínico e a Entrevista Clínica

Tudo começa com a entrevista clínica. E aqui podemos diferenciar a entrevista clínica com crianças e adolescentes e a entrevista clínica com adultos. Na primeira, crianças e adolescentes não vêm sozinhos, trazem consigo uma mãe, um pai, ou ambos, trazem uma dinâmica familiar. Por isto, na entrevista clínica com estas faixas etárias tem que se receber os pais, a família com quem vive, preferencialmente antes do contacto com a criança.

O objetivo da primeira entrevista clínica ou entrevista anamnésica, é o de conhecer a realidade do outro e o seu interior em sofrimento. Numa primeira abordagem com os pais, estes são estimulados a falar de tudo o que lhes diz respeito podendo chegar mesmo à infância e às relações profissionais. Tudo é importante!

Na entrevista anamnésica com o adulto a escuta é a ferramenta chave: o psicólogo clínico escuta ativamente o que lhe é dito, o que não é dito, o que o psicólogo clínico sente e as contradições que a pessoa em sofrimento verbaliza e que se pode apresentar de uma forma depressiva, maníaca, indiferente, apática, entre outras formas. Mas a postura do psicólogo clínico deve ser sempre empática com o sofrimento do seu cliente. Porque se este não sentir empatia, certamente abandonará a proposta terapêutica.

Podemos utilizar ao longo de todo o processo para além da entrevista clínica, instrumentos de avaliação psicológica tanto da personalidade, como das funções cognitivas. Todas essas escolhas dependerão das áreas de especialidade de cada psicólogo. Cada uma dessas áreas tem suas próprias técnicas.

Os psicólogos podem receber pedidos de avaliações psicológicas de crianças, adolescentes e adultos. Estas avaliações psicológicas podem incidir sobre o estado emocional, cognitivo e tipo de personalidade. Ou outras necessidades para diagnósticos diferenciados solicitados por escolas, tribunais, médicos de família ou até mesmo pelos próprios pais. Porque querem perceber os estado emocional ou cognitivo do(a) seu/sua filho(a).

 

A Mudança

Porém, vale frisar que não há técnicas melhores nem piores. Pois o que mais promove mudança terapêutica é a vontade do cliente de melhorar. De se compreender, a qualidade do vínculo terapêutico e a capacidade de empatia do terapeuta. Pois sem esta não é possível escutar e acolher verdadeiramente o outro que se entrega através de um pedido por vezes desesperado de ajuda.

Cada idade, cada problemática é singular e por isso existem técnicas de intervenção, avaliação e terapia diferentes e cada uma se adequa a situações diferentes. Cabe ao terapeuta optar pela técnica mais adequada, apresentá-la ao cliente e criar aqui um “contrato terapêutico”. Em que ambos se responsabilizam em colaborar neste percurso de desenvolvimento pessoal e diminuição de sintomas como por exemplo nos casos de depressão, ansiedade, comportamentos disruptivos. No caso das crianças, o plano terapêutico é apresentado aos pais que se responsabilizam pelo cumprimento do mesmo.

 

A área de intervenção de um Psicólogo Clínico

A intervenção da psicologia é vasta. Da primeira infância à velhice, existem profissionais que se especializam em problemáticas relacionadas com as várias faixas etárias. Em situações de catástrofe também são uma ajuda fundamental. Em situações de risco, de doença crónica, problemas escolares, comportamentais, relacionais e familiares a intervenção do psicólogo é fundamental. Até mesmo em tribunais (situações de divórcio, criminalidade) é importante ouvir um psicólogo ou até mesmo pedir a intervenção junto da criança no caso do divórcio ou da pessoa que cometeu crime para melhor clarificar a posição destes porque se tratam de seres humanos dotados de afetos, carências e diversas problemáticas. Poderia dar imensos exemplos contudo, apenas quero valorizar a importância da intervenção psicológica em qualquer contexto.

 

 

Por fim, o nosso percurso de formação profissional como psicólogos clínicos envolve não só a dimensão técnica e académica. Mas também, ou assim é desejável, um profundo trabalho psicoterapêutico pessoal. Esta experiência é fundamental e é através dela que trabalhamos os nossos conteúdos individuais. Para que então estejamos preparados para identificar e lidar com o sofrimento daquele que com força e coragem nos procura.

 

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Por Marcela Alves e Marisa Pereira– psicóloga WeCareOn