Na agitada sociedade portuguesa contemporânea, onde a conectividade digital parece omnipresente, o medo de ficar sozinho tornou-se uma preocupação crescente. Este fenómeno, frequentemente denominado “monofobia” ou “medo patológico da solidão,” afeta pessoas de todas as idades e origens, manifestando-se nas mais variadas formas, seja em adultos que temem o abandono, seja em jovens para quem o silêncio e a falta de contacto podem ser quase insuportáveis. No entanto, é crucial entender que a solidão, quando bem compreendida e cultivada, pode ser uma poderosa aliada no caminho para o autoconhecimento e crescimento pessoal.

A Realidade da Solidão em Portugal

Em Portugal, o fenómeno da solidão está longe de ser uma questão menor. Dados recentes da Comissão Europeia mostram que 21,9% dos portugueses admitiam sentir-se sozinhos em 2020, o que representa um aumento de 15,3 pontos percentuais em comparação com 2016. Esse aumento colocou Portugal entre os países da União Europeia onde o sentimento de solidão mais cresceu, refletindo uma transformação significativa nas relações e no modo como os portugueses lidam com o tempo que passam consigo mesmos.

Paradoxalmente, à medida que o número de pessoas a viver sozinhas aumenta, o medo da solidão parece intensificar-se. De acordo com o Stada Health Report de 2024, embora 63% dos portugueses classifiquem a sua saúde mental como boa ou muito boa, a solidão continua a ser um problema relevante, afetando cerca de 49% da população. Curiosamente, os jovens, embora estejam mais conectados digitalmente, relatam níveis mais elevados de solidão do que outras faixas etárias, o que levanta questões sobre a influência das redes sociais e da comunicação digital na perceção de solidão.

Compreendendo o Medo da Solidão

O medo de ficar sozinho frequentemente resulta de crenças e experiências acumuladas ao longo da vida. Esse receio pode ser alimentado por uma sensação de inadequação, pelo medo de ser rejeitado ou simplesmente pelo desconforto de se estar apenas na própria companhia. Em Portugal, onde as relações familiares e comunitárias têm, tradicionalmente, um papel muito importante, a ideia de solidão é muitas vezes vista de forma negativa e assustadora.

É, porém, importante distinguir solidão de isolamento social. Enquanto a solidão é um estado emocional subjetivo, sentido internamente, o isolamento social refere-se à ausência objetiva de contacto com outras pessoas. Uma pessoa pode sentir-se sozinha mesmo quando rodeada de outros, e o contrário também é verdade: alguém que esteja fisicamente só pode estar perfeitamente bem com essa situação e não sentir qualquer sensação de solidão.

10 Meios de Transformar a Solidão numa Aliada

A chave para transformar a solidão de um inimigo a um aliado reside na mudança de perspetiva e na adoção de práticas que promovam o autoconhecimento e o crescimento pessoal. Aqui estão algumas estratégias que podem ajudar a aproveitar a solidão de forma positiva e enriquecedora:

1. Cultivar a Autoconsciência

Estar sozinho oferece uma oportunidade única para introspeção e autoconsciência. Sem as distrações constantes da vida social e profissional, podemos conectar-nos com os nossos pensamentos e emoções mais profundos. Uma técnica eficaz para desenvolver essa autoconsciência é a prática de mindfulness, que permite centrar a atenção no momento presente, ajudando a observar e compreender as emoções com mais clareza e sem julgamentos.

2. Explorar Novos Hobbies e Interesses

Dedicar tempo a si mesmo pode ser uma excelente oportunidade para descobrir e cultivar novos interesses. Aprender uma nova habilidade ou desenvolver uma paixão esquecida pode ser profundamente gratificante e até terapêutico. Pode, por exemplo, tentar aprender um novo idioma, experimentar um instrumento musical, explorar a culinária portuguesa ou, até, mergulhar em novas leituras. Estes interesses não só enriquecem a vida, como também ajudam a fortalecer a identidade e a aumentar a autoconfiança.

3. Manter um Diário de Reflexões

A escrita é uma poderosa ferramenta de autoconhecimento. Manter um diário pode ajudar a processar emoções, identificar padrões de comportamento e refletir sobre os desafios e conquistas pessoais. Esta prática é particularmente útil em momentos de solidão, pois oferece uma forma de diálogo interno construtivo. Com o tempo, esse registo pode revelar informações preciosas sobre os nossos valores, medos e aspirações, ajudando-nos a enfrentar melhor os momentos de incerteza.

4. Conectar-se com a Natureza

Portugal, com a sua diversidade natural, oferece inúmeras oportunidades para uma conexão profunda com o mundo natural. Caminhadas solitárias nas serras, passeios à beira-mar ou momentos tranquilos em parques ou jardins são experiências revigorantes que permitem uma sensação de paz e de pertença. A natureza proporciona uma pausa necessária das exigências sociais e ajuda a colocar a vida em perspetiva, contribuindo para o bem-estar emocional.

5. Praticar a Autocompaixão

O medo da solidão muitas vezes traz consigo um severo julgamento pessoal. Aprender a ser compassivo consigo mesmo é essencial para transformar essa experiência. A autocompaixão consiste em tratar-se com a mesma gentileza e compreensão que ofereceria a um amigo próximo. Essa prática pode ser desenvolvida através de exercícios de autoconsciência e de aceitação, promovendo uma relação mais equilibrada e positiva consigo mesmo.

6. Participar em Atividades de Voluntariado

Usar o tempo a sós para envolver-se em atividades comunitárias pode ser uma forma eficaz de combater a solidão. O voluntariado oferece uma oportunidade de conexão com outras pessoas, proporcionando um sentido de propósito e de pertença. Em Portugal, projetos como o “Aldeias Sem Fronteiras” que une gerações em comunidades, são exemplos de como o voluntariado pode reduzir o isolamento social. Além de ajudar os outros, participar nestas iniciativas também enriquece a vida pessoal e proporciona um sentimento de realização.

7. Estimular a Criatividade

A solidão pode ser um motor poderoso para a expressão criativa. Muitas vezes, a ausência de estímulos externos permite que a mente explore novas ideias e formas de expressão. Seja através da pintura, escrita, música ou outras formas de arte, a criatividade é uma forma de expressar emoções e ideias de maneira única, enriquecendo a vida pessoal e oferecendo uma saída construtiva para as emoções.

8. Adotar uma Rotina Equilibrada

Estabelecer uma rotina pode proporcionar uma sensação de estabilidade e propósito, especialmente quando se vive sozinho. Incluir horários regulares para refeições, atividades físicas, lazer e trabalho ajuda a manter o foco e reduz a ansiedade. Esta estrutura diária contribui para um equilíbrio saudável, mesmo nos momentos em que a solidão parece mais desafiadora.

9. Praticar a Gratidão

O cultivo da gratidão transforma a perceção da solidão, promovendo uma atitude mais positiva. Manter um diário de gratidão, onde se anotam diariamente os momentos ou aspetos da vida pelos quais se é grato, ajuda a focar nos elementos positivos, minimizando a sensação de vazio ou de isolamento. Esta prática simples tem um impacto positivo no bem-estar mental e emocional.

10. Procurar Apoio Profissional

Se o medo da solidão se tornar opressor ou começar a afetar significativamente a qualidade de vida, é importante considerar a ajuda de um profissional. Psicólogos e terapeutas podem oferecer ferramentas específicas e personalizadas para lidar com o medo da solidão, facilitando o desenvolvimento de uma relação saudável com o próprio tempo a sós.

A Solidão como Oportunidade de Crescimento

Ao abraçarmos a solidão como uma oportunidade para o autoconhecimento, podemos transformar uma experiência inicialmente desconfortável numa aliada valiosa para o desenvolvimento pessoal. É importante recordar que estar sozinho não significa, necessariamente, estar solitário. A solidão pode ser um espaço de reflexão, criatividade e crescimento.

Num país como Portugal, onde as tradições de convivência comunitária são fortes, pode ser um desafio encontrar um equilíbrio entre a interação social e o tempo a sós. No entanto, à medida que a sociedade evolui, torna-se essencial desenvolver competências para lidar com a solidão, vendo-a como parte natural da vida.

Conclusão

Transformar o medo da solidão numa experiência de crescimento é um processo gradual que exige paciência e autocompaixão. Ao manter uma atitude de curiosidade e abertura em relação aos momentos de solidão, podemos descobrir aspectos de nós mesmos que, de outro modo, permaneceriam inexplorados. Cada pessoa terá a sua própria jornada neste caminho; o importante é manter-se aberto à experiência e reconhecer o valor da solidão como um espaço de renovação.

Além disso, iniciativas como o Plano de Ação para o Envelhecimento Ativo e Saudável, com orçamentos significativos e ações comunitárias, podem ajudar a combater a solidão em Portugal, promovendo o envelhecimento saudável e a conexão social. Ao ver a solidão como uma aliada, tornamo-nos mais resilientes, mais conscientes de nós mesmos e capazes de construir relações mais profundas com os outros e connosco próprios.

 

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