O que significa amor próprio?

Amor próprio significa literalmente amor que nutres por ti mesmo. O que isto significa na prática? Isto significa aceitares-te como tu és, com as tuas qualidades, as tuas limitações (que podes continuamente trabalhar), conquistas, fracassos, aceitares as escolhas que fazes e de uma forma geral, aceitares todas as experiências da tua vida, as boas e as menos boas. Amares-te significa aceitares que podes falhar, errar, fracassar, fazer escolhas erradas, mas também significa compreenderes-te, confiares em ti mesmo, reconheceres os teus sucessos, auto-elogiares-te, motivares-te para mais e para poderes ir melhorando os pontos importantes para ti, o tão conhecido e almejado desenvolvimento pessoal. Também significa acreditares que mereces alegria na tua vida e que mereces o melhor, porque sim tu és único/a.

Habitualmente quando nos referimos a amor próprio referimo-nos também ao auto-cuidado, isto é, o cuidado que temos para connosco. Ou seja, cuidado com o nosso corpo, fazendo por exemplo exercício físico; comendo comida saudável; bebendo água; relaxando. O auto cuidado também se refere ao cuidado com a nossa mente, alimentando pensamentos saudáveis, e crenças sobre nós positivas, acalmando e sabendo parar, procurando esvaziar a mente sempre que possível, pode ser ouvindo música, contemplar arte, a natureza ou simplesmente parar, fechar os olhos e focar-me apenas em Ser, naquele momento, inspirando ar, vida, e expirando, entregando e relaxando o meu corpo ao momento presente. O auto-cuidado também se refere à alma, as emoções, ao espírito, ou seja, fazer o que gosto, tendo momentos de prazer, seja a ouvir música, estar com amigos, brincar com os meus filhos, ou viajar. Tudo isto é independente da tua aparência, origem, situação financeira, nível de escolaridade entre outros. Eu cuido de mim. E todos podemos fazê-lo seja de uma forma ou de outra.

 

Porque é que então cultivar o amor próprio é difícil e parece por vezes até impossível fazê-lo de forma continuada?

Bom, a nossa sociedade como compreendemos e vemos habitualmente cultiva a dor, o sacrifício, as dificuldades em vez da paz, o amor, a alegria, o bem-estar, a saúde.

É sabido que as revistas cor de rosa vendem mais quando falam do divórcio de um casal famoso do que do casamento dos mesmos.

Vivemos numa sociedade amplamente ansiosa, preocupada, em que a escassez é tema frequente, seja de dinheiro ou outros recursos.

A abundância parece tema utópico.

Numa sociedade em que amor próprio só agora parece ser um tema mais recorrente como fazer?

Como posso viver mais amando-me, respeitando-me, aceitando-me como sou, trabalhando nas minhas limitações e enaltecendo as minhas qualidades?

Sabemos que todas estas questões podem ter condicionamentos que vêm de trás, se eu não conheço ninguém à minha volta que esteja feliz consigo e com a sua vida, se eu nunca me senti merecedora de amor ou de alegria, se o ambiente em que vivo é de stress e dificuldades?

Sabendo que eu amar-me também significa eu respeitar-me, conhecer os meus limites, aceitar-me, procurar aquilo que me faz sentir bem-estar e alegria, como posso fazê-lo?

 

Vamos começar passo a passo.

Em primeiro lugar é muito importante:

  • Olhar para o passado e aceitar que foi como foi, aceitá-lo, procurar compreender a aprendizagem que podemos retirar dele e mesmo quando não foi fácil, o que isso nos ajudou? Sim porque isso tudo faz parte da minha história, então o que é que eu posso retirar de aprendizagem do meu passado?

Aceitação. E não, aceitar não é necessariamente concordar, é apenas deixar de lutar contra, é literalmente aceitar que foi assim.

 

Em segundo lugar, olhar para mim e reconhecer as minhas qualidades:

  • Sou simpático/a, assertivo/a, respeitador/a, amoroso/a? Sou amigo/a, profissional, pontual, aventureiro/a, corajoso/a?

  • Experimenta fazer uma lista das qualidades que reconheces em ti, se tiveres dificuldade e não souberes por onde começar, pergunta às pessoas que te rodeiam, no teu círculo de amigos, família e escreve. Escrever ajuda a tornar tudo mais claro.

 

Em terceiro lugar:

  • Perceber onde é que estas qualidades se tornam visíveis?

  • O que é que eu faço no meu dia-a-dia que faz com que estas qualidades venham à superfície?

 

Em quarto lugar perceber que por vezes podes sentir que não tens amor próprio por causa das crenças que alimentas sobre ti e sobre a tua vida, experimenta tomar consciência sobre como é o teu discurso interno, no que é que acreditas, o que dizes para ti próprio/a?

  • Faz uma lista dessas crenças e procura compreender como as podes modificar!

 

Em quinto lugar, quais são os teus talentos? E quais são as tuas paixões?

Ambos são coisas diferentes, os talentos são algo que eu sinto que é fácil para eu fazer, é um talento que tenho, posso ter herdado pela genética ou pode ser algo que vem com algum treino apenas, naturalmente quando canto/cozinho/escrevo é fácil, e eu gosto de o fazer (por exemplo). As minhas paixões são aquilo que me faz vibrar de cada vez que leio sobre isso ou que faço algo relacionado com isso, por exemplo dançar, desporto, moda, ciências, viajar.

 

E se tu não souberes?

Está tudo bem, significa que ainda vais descobrir o que é! Como fazê-lo?

Vais experimentar, podes começar por perceber no teu dia-a-dia e na tua vida de tudo aquilo que já fizeste e experimentaste, o que é que te despertou interesse, gosto, ânimo?

Se não sabes mesmo, é hora de te colocares na experiência! Experimenta fazer um bolo seguindo uma receita, seguir uma coreografia de uma música que gostes, cantar a tua música favorita, ler um livro sobre um tema que te pareça interessante, planear um fim de semana fora, e tantas outras infinidades de atividades que podes experimentar. Fica atento a ti:

  • O que sentes antes, durante e depois?

Depois de uma compreensão mais alargada do que pode ser uma paixão para ti, repete, coloca-a no teu quotidiano, seja duas vezes por semana seja diariamente!

 

 

Além de todas estas estratégias já partilhadas, pensa o que podes fazer que te faça sentires-te bem contigo próprio/a?

  • Procura ir a locais que te tragam também este bem-estar, que te façam sentir em paz, que te despertem sensações agradáveis

  • Procura rodear-te de pessoas que gostem de ti como tu és, pessoas que te aceitem como tu és!

E no dia-a-dia?

Sim porque por vezes o mais fácil é que tudo isto seja algo pontual, pontualmente cantas, pontualmente viajas, pontualmente danças em vez de incorporares isso tua na vida diária. Qual a diferença?

A diferença é que tu precisas de te nutrir, de te cuidares, de estares bem contigo, e se o fizeres uma vez por mês ou mesmo uma vez por semana, isso pode não ser de facto suficiente, então facilmente podes sentir vazio. E por muito que possas fazer compras e comer chocolates, o vazio vai ser sentido na mesma. O amor próprio é algo que precisa que tu tomes conta dele e que o alimentes. Para quê? Para eu estar bem comigo mesma, de bem comigo, de bem com os outros, de bem com o mundo.

Claro que há dias difíceis, todos os temos, e muitas vezes sentimos uma carência gigante, talvez venha da infância, talvez não. Importante é tomar consciência para poder mudar ou para pedir ajuda sobre como posso fazer para mudar isso.

Nestes dias difíceis, isso não tem que abalar o amor que tens por ti, é mais um desafio para ser ultrapassado, vencido, compreendido e mesmo que possas errar e falhar, é ok, faz parte da nossa vida, é com tudo isso que crescemos, aprendemos e podemos fazer melhor, ou perceber que por ali não é o caminho, aquilo não nos faz sentido e perceber isso é poder tomar outras escolhas, seguir outros caminhos.

 

Como podes então cultivar o amor próprio diariamente?

 

  • Passar creme da cara e rosto pode ser um ato de amor

  • Banho de espuma um miminho que mereces

  • Comer saudável

  • Hidratares-te adequadamente

  • Dar e receber amor, seja através da família, dos amigos, de um animal doméstico

  • Socializar

  • Sentir-me feliz a fazer algo, pode ser algo tão simples como ver um filme incrível, seguir uma série com temas que me interessam, desenhar, pintar, dançar, correr, cantar…o que for, contando que seja algo que me faça sentir alegria

  • Posso auto-elogiar-me

  • Contemplar natureza (perfeita em si mesma), arte ou algo que me fascine e/ou inspire

  • Ser gentil contigo

Lembra-te, não há nada que seja mágico, e isto não é filme, é a nossa vida real, e na vida real as coisas levam tempo, vão se sentindo, vão-se processando, vão-se integrando, e é preciso assimilar sobretudo as mudanças. Normalmente estamos bem na nossa zona de conforto, é por isso mesmo que é a nossa zona de conforto, tudo o que seja sair dela é ou pode ser desconfortável, temido, vivido com ansiedade e medo. Mas se nos mantivermos na nossa zona de conforto então estagnamos, nunca nos vamos permitir mudar. Por vezes esse desconforto vai-se tornar a nossa nova zona de conforto e assim por diante.

O que não significa viver uma vida de altos e baixos, são coisas diferentes. Podemos viver em harmonia percebendo estas pequenas mudanças tão necessárias na nossa vida. E o nosso amor próprio faz parte de tudo, está sempre lá, como um grande amigo que faz parte de nós, é parte de nós, de quem nós somos e da nossa vida.

Amor próprio, amor a nós, a quem somos, a como somos, como sentimos, o que sentimos, sejamos eternos sonhadores ou constantes inconformados, mais enérgicos ou mais calmos, mais crentes ou céticos, somos nós. A pergunta que fica no ar é: Como me posso amar mais? Como me posso amar mais hoje do que ontem? E garantidamente que nada disso é narcisismo ou egoísmo, são coisas diferentes. Eu tenho o direito de afirmar quem sou, e de gostar e muito de quem sou. E como se recordam:

Se eu não gostar de mim quem gostará?

Claro que existem pessoas na nossa vida, que nos rodeiam, que nos vão amar sempre como a nossa família, para alguns isto é uma verdade, para outros sabemos que não, no entanto, por vezes esta “falta” de amor próprio pode-se refletir em parceiros que escolhemos que também não se amam, amigos que não se respeitam, etc…

Então, olha para ti e começa já hoje a amar-te, respeitar-te, nutrir-te.

Se precisas de ajuda, pede! Estamos aqui!

Este é um tema que adoro trabalhar,

Cátia Raposo– Psicóloga na WeCareOn