Algumas pessoas que atendo, sentem-se constrangidas, quando são questionadas sobre o motivo pelo qual fazem terapia. Esta dificuldade pode estar relacionada com a perceção das outras pessoas.

A nossa conceção sobre o que é um problema merecedor de terapia é estranha. Afinal só aceitamos que uma questão é complicada caso envolva algo palpável como a morte, a separação, uma perda financeira, e olhe lá.

Para muitos, o que não for caso de UCI não é importante e ignoram que existam outras esferas de questionamentos mais profundas do que matar um leão por dia.

Para quê fazer terapia ? Os sintomas que perturbam uma pessoa podem ser de duas ordens:

 

Egodistónico: aquele sintoma que perturba o seu portador(apatia emocional depressiva, uma ansiedade fóbica, uma agitação do pânico, etc). Normalmente, esse tipo de sintoma cria problemas funcionais que o indivíduo não consegue ou quer tolerar, pois retira a qualidade de vida e o prazer de coisas usuais. Nestes casos, costuma ser a própria pessoa que procura terapia, pois são sensações e vivências incapacitantes.

 

Egossintónico: O sintoma geralmente causa “ganhos secundários” para a pessoa que já está identificada com ele, afinal tem até orgulho de ter uma “personalidade forte” (perturbação de personalidade obsessiva ou borderline, etc);  ou ainda sentir-se a pessoa mais desejável e magnífica do mundo – e ter um transtorno de personalidade histriónica ou narcísica. . A sua “busca” por terapia é forçada, geralmente, por ameaça de pais, cônjuges que já não suportam lidar com o jeito perturbador do outro. A maior incidência são os transtornos de personalidade antissocial, psicopático, narcísica, ou psicóticos (induzido por substância e esquizofrenia).

O impacto dos sintomas na nossa vida…

 

Os variados sintomas tendem a surgir derivado às angústias desconhecidas -mas sentidas- de forma avassaladora. E neste sentido, a psicoterapia possibilita dar nome a esses estados mais recônditos e consequentemente que os sintomas atenuem ou desapareçam.

 

E a verdade é que muitos de nós, quer sejamos miúdos ou graúdos, têm dificuldade em regular os seus pensamentos e preocupações, o que nos faz sentir muito dominados por eles (independentemente de estarmos a ter uma intervenção psicoterapêutica ou não). Mas para quem está ou esteve em terapia, aprender estas estratégias poupa tempo e energia de vida (e até mesmo poupa na conta da farmácia, em muitos casos) quando começa a regular os pensamentos, que levam às emoções, e que levam aos sintomas de ansiedade ou depressão, só para mencionar os mais “clássicos” e comuns a muitos transtornos emocionais, actualmente.

 

Há pessoas que estão fechadas para si mesmas a tal ponto de nem conseguem já captar quanto estão doentes emocionalmente, pois apenas repercutem determinado padrão, aumentam preconceitos e tornam-se engrenagens de um mundo desconectado de si mesmo que nos faz desconectar uns dos outros. São essas pessoas que costumam achar “incompreensível” outra pessoa procurar ajuda sendo que elas “não tem problema nenhum”. Infelizmente, muitas pessoas tendem a tomar consciência desse facto quando a vida dá voltas inevitáveis e tem de lidar com questões que põem em causa os limites da sua própria existência, aonde já nem a arrogância ou a ignorância conseguem mais fazer de conta que não há nada a ser melhorado.

 

❓ Então, quando é que fazer terapia pode ser valioso?

 

 

 

Não seja essa pessoa “bem-intencionada” que acredita em fórmulas mágicas. Na preocupação de tranquilizar, de não deixar os outros paralisados nos seus sentimentos difíceis, por vezes queremos atenuar mas sem grande temperança nas palavras. Mandar uma frase do tipo: “tudo passa”, “mas não é para tanto”, “pensa por outro lado”, “apenas tem pensamento positivo que vais ver que só vais atrair coisas boas”, etc. etc., etc.

 

Melhor do que isto, talvez seja sentar, escutar de verdade, saber as contradições e complexidades embutidas naquela dor ou crise. Por detrás da fórmula pronta e dos clichés pode estar só o seu desconforto impotente em ver o outro sofrer.

 

Podemos dar um passo além da nossa própria aflição em relação ao descompasso das outras pessoas.

 

Não, muitas vezes “não está tudo bem” e isso é a coisa mais normal na experiência de vida de qualquer ser humano. Porém, o grande diferencial está na atitude que tomamos em relação aos problemas, e isso é claramente o divisor de águas entre a perpetuação de um problema e o encontro da sua solução/superação.

 

 

Sara Ferreira – Psicóloga