Estamos no mês dedicado à mulher e uma das capacidades naturais e única deste género, é o nascimento de outro ser humano. No entanto, Ser mulher e ser mãe é algo cada vez menos frequente nas sociedades modernas.

Falar de maternidade leva a pensar no conceito de gravidez que apesar de implícitos, definem realidades diferentes.

A Gravidez é o período entre a gestação e o parto, caracterizado por transformações no corpo acompanhadas de vivências psicológicas variadas.

Maternidade corresponde a uma vivência inscrita numa dinâmica sócio histórica, que no caso concreto da nossa sociedade, implica pensar/sonhar a posição da mãe como prestadora de cuidados e do bebé, um ser indefeso.

Muito antes da gravidez, a futura mãe sonha o bebé num “sonho acordado”: as características internas (personalidade) e externas (físicas) do bebé, traduzindo assim o seu desejo em ser mãe e disponibilizando-se física e psicologicamente para as transformações consequentes de uma gravidez. Este movimento do pensamento perante a maternidade é indispensável devido à envolvência na prestação de cuidados, ao envolvimento afetivo que a gravidez e a maternidade necessitam para decorrerem de forma tranquila, consciente e feliz!

Tendo estes pressupostos sido comprovados cientificamente e considerados como relevantes para uma maternidade harmoniosa, surge-nos o “Conceito de Rèverie” pelo autor Bion (1966), que explica a capacidade da mãe em sonhar o seu bebé mesmo antes da conceção e até ao momento em que estabelecem uma relação de vinculo de comunicação afetivo.

O autor Bion, descreve-nos assim a função deste conceito como “…a capacidade natural da mãe em aceitar, dar lugar e transformar uma comunicação primitiva, pré-verbal: a identificação projetiva, realista.”, diz-nos também que esta função “é uma condição para o desenvolvimento de uma consciência capaz de interpretar os sinais. Perceber sem medo o que o bebé transmite”. A falha desta função por parte da mãe pode provocar um défice no equipamento mental do bebé para enfrentar adversidades e afeta o desenvolvimento das suas funções mentais necessárias para a descoberta da realidade psíquica.

A mãe que sonha o bebé, utiliza as suas próprias experiências como bebé para compreender a comunicação do seu agora bebé, tem a capacidade de se colocar no lugar do seu filho e esta representação que faz da sua própria infância pode influenciar o tipo de mãe que será. A sua capacidade em ajudar o seu filho bebé nos seus primeiros passos em todos os sentidos, faz com que a mãe pense os pensamentos e sinta os sentimentos que lhe foram transmitidos pela sua própria mãe quando era criança. Podemos assim falar de uma Rèverie transgeracional.

A capacidade de Rèverie materna pressupõe compreender e aceitar o que o bebé sente como insuportável e projeta na mãe com o objetivo de sentir alívio e encontrar resposta positiva neste objeto externo que é a mãe, capaz de transformar a dor do seu bebé em satisfação de uma necessidade (fisiológica ou emocional).

Efetivamente muitas mães não beneficiaram do suporte emocional referido neste texto, o que não implica que não sonhem os seus bebés e a sua relação afetiva, possibilitando assim uma maternidade eficaz.

À mulher atual é exigida uma integração interna harmoniosa entre satisfação profissional, amorosa e maternal, o que nem sempre é fácil conseguir, mas é possível:

 “Ser Mulher e Ser Mãe!”

 

 

Marisa Pereira – Psicologa