Há alturas na vida que parece que somos invadidos por uma tristeza enorme. É um rosto abatido, uma desmotivação perante a vida, um não querer sair da cama de manhã, um desinteresse perante quase tudo, um vazio no peito, um perder de vista os amigos, um encolher dos ombros perante tudo… Em nós ou em alguém que nos é próximo… Então, de onde vem esta tristeza? Será normal? Estarei deprimido?

 

Tristeza vs Depressão

Na prática clínica, esta dúvida surge muitas vezes. Triste ou deprimido…? São pessoas que se sentem tristes e que “não podem estar tristes porque não têm motivo para estar tristes”; são pessoas que se sentem tristes há tanto tempo que são rotulados como “o que está sempre deprimido”; são pessoas que tomam medicação antidepressiva há tantos anos que perderam a conta; são pessoas que têm a certeza “que apanharam uma depressão”; são pessoas que sofreram perdas ou mudanças drásticas e sentem “que a tristeza já devia ter passado”; são pessoas automatizadas “que acordam todos os dias fazem o que têm a fazer e á noite vão dormir”; são pessoas “que antes que alguém passe a medicação precisam de saber se têm mesmo uma depressão”. São pessoas que precisam de saber o que é isto que sentem.

E pode parecer simples distinguir tristeza de depressão, mas a realidade não é bem essa. As situações são inúmeras e as confusões também. Na verdade, muitas vezes é confundível para a pessoa que o sente e para os técnicos que a recebem.

 

 

O que distingue uma tristeza de uma depressão?

A tristeza não é necessariamente patológica, até pelo contrário. É um bem necessário ao crescer, ao bem-estar emocional e à saúde mental. Por isso sentir-se triste ou estar triste não é logo à partida uma depressão. A tristeza é perfeitamente saudável em reacção à vida e situações de vida. Por exemplo, a desmotivação em ir à escola, o precisar de estar mais tempo sozinha e a vontade que tem de chorar antes de dormir que a I. de 14 anos sente desde que a sua avó faleceu e com quem tinha uma relação muito próxima, é uma tristeza saudável. Saudável no sentido que é uma reacção adequada a uma perda emocional muito grande, a um luto. E que duro e difícil é sentir esta tristeza e aprender a lidar com ela.

Mas nem sempre a tristeza é saudável e por vezes é genuinamente patológica. Então por um lado, hipervalorizamos a tristeza assumindo que estar triste é estar deprimido. Por outro, desvalorizamos a tristeza assumindo que é algo que vai passar ou que tem haver com o facto das pessoas não se esforçarem o suficiente!

 

Então como podemos perceber quando uma tristeza é um quadro depressivo?

O DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a bíblia dos técnicos que trabalham com a saúde mental, define critérios rigorosos para a sinalização de um quadro depressivo.

  1. Humor deprimido na maior parte do dia quase todos os dias;
  2. Anedônia (interesse diminuído ou perda de prazer para realizar as atividades de rotina);
  3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar em regime alimentar;
  4. Distúrbio do sono (insónia ou hipersonia praticamente diárias);
  5. Problemas psicomotores (agitação ou retardo psicomotor);
  6. Fadiga ou perda de energia;
  7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva e/ou inadequada;
  8. Dificuldade em se concentrar e habilidade de pensar diminuída;
  9. Pensamentos de morte recorrentes, ideação suicida ou tentativa de suicídio.

Pensando que todos estes sintomas podem ter graus diferentes, podem ser conjugados de diferentes formas e influenciados por variados factores, percebemos a complexidade do que pode ser o distinguir de uma tristeza saudável da patológica.

Por isso esteja atento a si e a quem tem à sua volta. Questione-se. Sente-se triste? Porquê? Desde quando? Que alterações o estar triste tem provocado na sua vida? Como é que os outros vêm essa tristeza? Como está a lidar com essa tristeza?

E, se depois de se questionar, de reflectir, de observar os critérios referidos anteriormente  chegar à conclusão que está deprimido, que está a viver uma tristeza saudável mas difícil de viver sozinho ou que simplesmente continua com as mesmas dúvidas… sugiro que procure ajuda.

 

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Por Susana Pereira, psicóloga