Todos nós já experienciámos a sensação de medo. Experienciámo-la desde muito cedo e conseguimos mais ou menos recuar no tempo e lembrarmo-nos da altura em que tínhamos medo do escuro, de cair ou de ficar longe dos nossos pais.

 

Pois bem, o medo, como todos tão bem conhecemos é uma resposta adaptativa do organismo e tem como função primária, ativar os nossos mecanismos de sobrevivência.

 

 

O que é o medo?

 

Em conjunto com a alegria, a tristeza, a ira e o nojo, o medo é uma das emoções primárias e universais e funciona como mecanismo de protecção. É como se fosse o nosso sistema de alarme perante perigos percepcionados.

 

Sabe-se que, todas as informações que são apreendidas pelo nosso sistema nervoso e estruturas sensoriais, são posteriormente enviadas para uma estrutura cerebral do nosso sistema límbico chamada “amígdala” que regula os nossos estados emocionais. Após a leitura, e em caso de evidência de perigo, a amígdala activa e envia um conjunto de informações neurais, que por sua vez, vão desencadear cadeias de reações complexas.

 

No caso do medo, tendo em conta a sua função, a amígdala vai “disparar” mensagens de alerta ao perigo e como tal, o nosso organismo começa a ser preparado para uma eventual fuga. No entanto, esta estrutura por vezes, não analisa qualitativamente a informação recebida e por vezes, faz-nos responder a estímulos pouco lógicos e de forma desproporcional ao perigo real a que estamos expostos.

 

 

Desmistificando o processo, o que acontece depois do “alerta” ser emitido é geralmente, um aumento de da tensão arterial, que acelera o metabolismo e os níveis de glicose no sangue e impulsiona a actividade/agitação mental.

 

De seguida, os músculos do corpo são irrigados para que tenham as condições necessárias para uma eventual fuga. É quando os compostos de adrenalina são libertados pelo corpo todo e instala-se então, o estado de tensão global. Neste momento e por ação do medo estamos preparados para a fuga ou para a luta.

 

E quando o medo bloqueia?

 

O medo apresenta-se com níveis e intensidades diferentes. Podendo ir do desconforto ligeiro ou à inibição (bloqueio) de acção e pode ainda, ser categorizado em dois tipos. Medo funcional, como descrito nos parágrafos anteriores ou medo disfuncional.

 

Este segundo tipo é o medo que bloqueia, que influencia o desempenho global e normativo de um individuo. Está normalmente correlacionado com problemáticas de ansiedade generalizada onde retroalimenta o ciclo de antecipação mental de perigo que ainda não está iminente.

 

Portanto é considerado um medo psicológico, que se instala e despoleta os mecanismos físicos perante estímulos que são mais de nível interno, do que devido a leituras de perigos reais do mundo externo. Quando instalado um padrão associado uma preocupação ou estimulo específico, estamos perante um quadro de fobia, como o que acontece com a fobia a insetos, com a fobia de espaços fechados ou fobia a andar de avião.

 

Neste caso, o medo paralisa e torna-se incapacitante, tomando o controlo do individuo e “roubando” a calma necessária para a leitura racional e objectiva da situação na qual o mesmo se encontra. É como se o nosso sistema de “alarme” entrasse em colapso e o nosso corpo fosse incapaz de reagir adequadamente às exigências da situação real.

 

Outra questão sobre o medo desadaptativo é que ele é crescente. Ou seja, muitas vezes começa as fobias começam com uma situação que nos fez sentir menos confortáveis ou menos em controlo, e em pouco tempo o nosso cérebro associa esse desconforto a perigo.

 

De inicio, começamos a evitar algumas situações pelo desconforto que nos causam e criando um limite psicológico. Posteriormente, e se não houver enfrentamento desse medo, esses limites ganham intensidade e criam em nós uma sensação de impotência face a esse medo ou estimulo e é quando começamos a ter medo do medo.

 

 

Então o medo é uma emoção má?

 

A resposta a esta pergunta é não.

 

O medo, está associado a uma visão menos positiva, pelo desconforto que provoca no nosso corpo mas ele é uma das principais razões pela qual, os seres humanos sobreviveram adaptativamente desde o início da evolução da espécie, e uma das razões pelas quais ainda hoje, temos a consciência de nos salvaguardar do que interpretamos como perigo ao nosso bem-estar.

 

Hoje em dias a maioria dos nossos medos, não se relacionam propriamente com a preocupação com predadores ferozes ou picadas de insectos ou outros animais que seriam fatais sem o avanço tecnológico e medicinal que hoje temos.

 

Porém, o medo é uma das estratégias de sobrevivência mais primárias do nosso cérebro e ainda hoje convivemos com o fantasma real de alguns desses perigos, sendo que outros traduzem-se para os estímulos de hoje, que possam ser situações mais “anti-natura” à condição humana, como voar.

 

Como vencer o medo?

Em caso de sintomatologia moderada/grave recomenda-se a frequência a acompanhamento psicoterapêutico. A terapia cognitivo-comportamental tem revelado bons indicadores de eficácia neste campo, assim como muitas outras abordagens.

 

Algumas formas de lidar com os medos, passam por:

  • Identificá-los e falar sobre eles. Não os aprisione – um medo calado é sempre um medo dobrado;
  • Retome o controlo da sua realidade. Comece por pequenos desafios que lhe promovam uma sensação de segurança, contrariando o desconforto de sensações passadas;
  • Liberte-se da culpa de sentir que não consegue transpor algum medo, de alguma forma esse medo foi criado para sua proteção;
  • Treine-se. Da mesma forma que numa situação de esforço você pensa “só mais um bocadinho”, “está quase”, “não desistas”, adeque isso ao seu processo de enfrentamento, tente alcançar pequenas vitórias, parabenize-se quando as conseguir e não desista se não conseguir no momento.

 

Mais importante ainda é não querer dar um  “passo maior que a perna” em matéria de medos. A exposição a uma situação que seja mais do que a que esteja preparado/a a lidar pode ser extremamente prejudicial.

 

Procure ajuda de um profissional para delinear um processo equilibrado e ajustado às suas características próprias.

 

 

Os profissionais de saúde estão aqui para si, para o/a acompanhar nesse caminho.

 

Não tem de enfrentar o medo sozinho/a.

 

Cláudia Graça – Psicóloga Clínica WeCareOn

 

Bibliografia

André, Cristoph (2010), Psicología del miedo: temores, angustias y fobias. Kairós

Davis, M. (1997). Neurobiology of fear responses: The role of the amygdala. Jour-nal of Neuropsychiatry and Clinical Neurosciences, 9, 382-402.

Õhman,  A.  (2000).  Fear  and  anxiety:  Evolutionary,  cognitive  and  clinical  perspec-tives. In M. Lewis & J. M. Haviland-Jones (Eds.), Handbook of emotions (2nd Ed.). Nova Iorque: Guilford Press.

Gower, L. Paul (2005) “Psychology of fear”: Nova Biomedical Books