O divórcio e a sociedade

O conceito de família é várias vezes referido na nossa sociedade, e todos nós de alguma forma, procuramos construir a nossa ao longo da vida. É um processo que faz parte. No entanto, a longo prazo, nem sempre tudo corre como esperamos e idealizámos, nessa altura, fala-se em divórcio e separação em prol de um bem-estar que desejamos e precisamos.

Não é fácil, mas muitas vezes necessário. Torna-se ainda mais complicado quando existem filhos, sendo essa, muitas vezes a razão que nos faz adiar e repensar. Mas será uma boa alternativa? Na maior parte das vezes não.

O processo de divórcio é uma experiência marcante em qualquer família, envolvendo várias fases e processos de decisão, e de onde, advêm múltiplos impactos que é preciso ter em conta. Não para nos fazer desistir de sermos felizes, mas para que possamos fazer as coisas da melhor forma possível.

 

 

Impactos do Divórcio: 

  1. Divórcio Emocional – Esta é a primeira fase do processo de divórcio, é a fase de consciencialização de que algo não está bem. Surge quando pensamos mais no negativo que tal relação provoca, do que nos aspectos positivos;

 

  1. Divórcio Legal e Económico – Quando surge a decisão e a mesma passa a oficial, é a altura de por em prática os procedimentos legais, implicando um divórcio financeiro (partilha de bens, pensão de alimentos, entre outros). Este processo afigura-se complicado, pelas dificuldades que muitas famílias passam e pela interdependência económica de muitos casais. Ainda assim é importante encararmos este processo como uma nova aprendizagem e aquisição de novas competências financeiras;

 

  1. Divórcio Parental – Nesta fase é importante pensar que nos estamos a divorciar de um companheiro/a, mas não dos nossos filhos, sendo que esta deve ser uma ideia clara entre o casal, de forma a evitar zangas e conflitos prejudiciais às crianças, que, pelas discussões, erradamente se colocam em causa, desenvolvendo sentimentos de culpa, sofrimento psicológico e elevados níveis de stress;

 

  1. Divórcio Comunitário – A justificação, o reviver e o contar aos outros, encontra-se aqui implícito. Nesta fase existe por vezes, receio de determinada posição que os outros possam vir a tomar em relação ao casal. Existirá cortes relacionais e afastamentos, e é preciso saber aceitar e encarar essa realidade como normal;

 

  1. Divórcio Psicológico – Esta é a fase de aceitação, adaptação e reestruturação da nossa identidade. É a altura de olharmos para nós mesmos e perceber aquilo que nos faz falta, aquilo que há muito deixámos de fazer e que tanto nos faz sentir felizes e realizados.

E os filhos/as??

Quando o casal tem filhos, e se fala em divórcio surge quase de forma imediata “e os miúdos?”. Claro que devemos pensar neles, e esse é um assunto delicado e importante.

Ainda assim, é importante falar no processo de divórcio psicológico, na necessidade e importância de existir um momento para cada membro do casal, de forma a que, cada um tenha o seu espaço para lidar, pensar, organizar e desenvolver novas estratégias.

Esta fase é de extrema importância, na medida em que, é necessário haver tempo para cada um fazer o seu processo de luto de uma relação em que se apostou, (em que se investiu) se deu e que terminou.

Simultaneamente a este processo, temos de pensar na melhor forma de darmos a notícia e explicarmos às crianças, como será tudo daqui em diante.

 

 

 Como contar?

    1. Dar a notícia em conjunto. O casal deve estar presente na altura em que se conta à criança, explicando o motivo da separação e, principalmente, adequando o discurso à capacidade de compreensão da mesma. Não tenham medo de expor a situação, explicar os porquês nem de responder a perguntas, isso evitará pensamentos errados por parte da criança como “os meus pais já não gostam de mim”;
    2. Esta é uma altura em que tem de ser calmo e assertivo, não discuta nem aponte culpados. Aqui deve-se passar à criança a ideia clara de que a relação que existe com a mesma não se alterará em função deste acontecimento, que continuarão a estar e a fazer planos em conjunto;
    3. É normal que a criança não reaja de forma imediata àquilo que lhe está a ser dito. Respeite esse espaço, incentivando e permitindo a expressão de sentimentos e assim trabalhar  esses mesmos sentimentos de forma adequada;
    4. Não se precipite em dizer-lhe com quem irá viver principalmente porque quanto mais se diz, mais informação a criança terá de assimilar e gerir. Espere pelo tempo certo para o fazer;
    5.  No caso de haver mais que uma criança, não demonstre preferências. É bom que as crianças fiquem juntas, pois será mais fácil a partilha entre eles de sentimentos e pensamentos;

 

Mantenha determinadas rotinas de forma a que o impacto seja o menor possível na estabilidade da criança e apesar das divergências dialoguem, estabelecendo, o compromisso para que as regras sejam cumpridas em ambos os lados, sob pena de um não ser mais benevolente que o outro.

 

Procure ajuda caso não consiga resolver a questão!

 

Não é um processo fácil, mas não precisa de passar por isso sozinho. Procure conversar com alguém, arranje tempo para si e para os seus pensamentos e assim se organizar. Não se prive de ter a felicidade o bem-estar que merece.

 

Acima de tudo tente olhar para esta nova fase de forma positiva, de crescimento e aprendizagem.

 

 

 

Raquel FerreiraPsicóloga Clínica, WeCareOn